Nonato Guedes
Na disputa que se desenrola pela prefeitura de João Pessoa e que será ferida em primeiro turno no próximo domingo chama a atenção de eleitores e analistas políticos a obstinação que move o deputado federal Ruy Carneiro (PSDB) em tentar ser ungido gestor da Capital paraibana. Ele tentou o feito há cerca de 16 anos, em condições aparentemente mais vantajosas e voltou à liça como se estivesse predestinado a anexar uma prebenda ao seu currículo de homem público, que já foi vereador, deputado estadual, secretário no município e no Estado. Em 2004, Ruy era o candidato do então prefeito Cícero Lucena para sucedê-lo e perdeu a parada para Ricardo Coutinho, que se fizera dissidente do PT e cortejava o Paço Municipal a bordo da legenda do PSB.
Como chefe da Casa Civil da administração de Cícero, Carneiro teve espaço e desenvoltura para se firmar como opção à própria cadeira titular. Ganhou liberdade, inclusive, para desenvolver o projeto intitulado “Se eu fosse Prefeito”, que tentava massificar eventuais qualificações e preparo seu para gerir os destinos da antiga Felipéia de Nossa Senhora das Neves. Quase duas décadas depois daquela incursão, Ruy confronta-se em 2020 com dois personagens que não lhe são estranhos – Cícero, que lidera a corrida, conforme a última pesquisa do Ibope-TV Cabo Branco, e Ricardo, que recém-concluiu um segundo mandato como governador e volta estigmatizado por denúncias de suposto envolvimento com fatos da Operação Calvário. Numa estratégia de marketing que flerta com o desespero e a urgência de avançar num páreo que registra recorde de candidaturas, Carneiro move-se sem apoios mais expressivos e sem coligação mais influente, exibindo como trunfo o portfólio de ações empreendidas como parlamentar e, como se tivesse sido prefeito.
Não por acaso, ele mira com veemência no antigo companheiro Cícero, a quem imputa, também, citação em denúncias de escândalos administrativos, e no eterno adversário Ricardo Coutinho, que, a seu ver, traiu compromissos assumidos com a população no que diz respeito à moralidade pública. Suas estocadas alvejam ainda candidatos sem experiência e, pior, sem maior conhecimento da máquina administrativa e do orçamento que cabe a João Pessoa, o que parece calculadamente dirigido contra o radialista Nilvan Ferreira, do MDB, que teve a ousadia de abocanhar a segunda colocação no páreo, registrando percentual estacionário mas confortável na última pesquisa Ibope. Ruy, enquanto isso, tem pontuado no segundo pelotão de aspirantes ao crescimento eleitoral e, por via de consequência, a um passaporte para o segundo turno. Talvez o tempo conspire contra uma reversão espetacular do cenário em seu favor.
Diga-se, em abono das suas pretensões, que o candidato do PSDB é, de fato, um político atuante, que procurou “fazer” à frente de cargos que ocupou, inclusive uma secretaria de Juventude, Esporte e Lazer, na gestão de Cássio Cunha Lima. Em 2014, aliás, ele abriu mão de uma vaga na Câmara Federal e aceitou ser o vice de Cássio na campanha contra Ricardo Coutinho – este, mais uma vez atravessando seu caminho e, como de praxe, saindo vitorioso. Tendo reconquistado o mandato de deputado federal, Ruy fez-se cada vez mais proativo, no número de proposições de interesse público, algumas de repercussão nacional. É coautor, por exemplo, da chamada Lei Seca, que tem coibido a escalada de acidentes de trânsito no país, baseada em duas vertentes – em exaustivas campanhas pedagógicas de conscientização de motoristas e condutores, seguidas pela aplicação de penalidades que afetam diretamente uma parte sensível do corpo humano – o bolso.
A solidariedade de Ruy para com camadas humildes da população ou com parcelas carentes de apoio do poder público está materializada no apoio efetivo que ele tem oferecido, via recursos oriundos do próprio mandato parlamentar, a instituições que tratam pacientes de câncer como o Hospital Napoleão Laureano, em João Pessoa, referência para todo o Estado. Conseguiu viabilizar, inegavelmente, a construção de uma ala para procedimentos de quimioterapia e é incansável no acompanhamento da aplicação dos investimentos destinados a tais entidades. Estende seu raio de ação na assistência a outras organizações de acolhimento social como asilos de idosos. É uma atuação meritória, extremamente louvável, reconhecida e aplaudida por segmentos da sociedade, independente de votarem ou não no deputado para os mandatos que ele corteja em períodos eleitorais. Fora da Paraíba, o reconhecimento tem vindo de órgãos de destaque da mídia sulista ou por meio de avaliações de órgãos imparciais como o Diap, que acompanha a atuação de parlamentares de todo o Brasil.
Os adversários atribuem ao deputado Ruy Carneiro uma dificuldade na comunicação de resultados com os eleitores, pelo menos em disputas majoritárias a que se aventurou. Falam, claramente, em falta de carisma e ausência de empatia do postulante para com frações do eleitorado, além de apontarem uma presumível soberba que seria inerente à sua personalidade. Abstraindo tais “pecadilhos”, é fora de dúvidas que Ruy não é um parlamentar que passa em brancas nuvens, muito pelo contrário. Mas política, como se sabe, tem sortilégios que talvez só o Sobrenatural do Almeida explique, para invocarmos os orixás que gravitavam em torno do impagável Nelson Rodrigues. Mas 2020 parece ser o tira-teima definitivo de Ruy. Pelo menos quanto a essa vontade inaudita de ser prefeito de João Pessoa.