Nonato Guedes
No que diz respeito à atuação dos apoiadores ilustres de candidatos à eleição municipal, este ano, em João Pessoa, o prefeito Luciano Cartaxo (PV), que está concluindo o segundo mandato, perfazendo período de oito anos, foi, disparadamente, o que mais se expôs na campanha, laborando em prol da conquista de votos para a candidata Edilma Freire, desconhecida no cenário local, onde, de resto, está fazendo a sua estreia, embora tenha tido atuação executiva como secretária de Educação. Nesse rol de apoiadores, só para exemplificar, o governador João Azevêdo (Cidadania), que apoia o candidato Cícero Lucena (PP), foi discreto em intervenções públicas, com aparições esparsas e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foi o grande ausente. O ex-presidente Lula da Silva, na contramão da candidatura própria do PT, representada pelo deputado Anísio Maia, ainda ontem participou de uma “live” com o candidato Ricardo Coutinho (PSB), seu ungido na Capital paraibana.
O engajamento ostensivo de Luciano Cartaxo é explicável por inúmeros fatores. Além de ser a sua gestão a mais atacada e plebiscitada por mais de uma dezena de candidatos, a professora Edilma, que ele sagrou para concorrer, na intenção de tê-la como sucessora, careceu de reforço extraordinário para compensar as limitações e fazer frente ao desafio de se aventurar no pantanoso território da política-partidária. Afinal, a sua escolha foi decidida com o sacrifício das pretensões de pelo menos quatro secretários da administração municipal que foram incentivados a se viabilizar, num exercício de perda de tempo, já que o jogo era de cartas marcadas e a professora Edilma, além das qualificações pessoais como educadora, é concunhada do alcaide que está virando a página da passagem pelo Paço Municipal. Cartaxo compareceu com uma retaguarda improvisada e socorreu-se, em termos de aliança, do PDT da vice-governadora Lígia Feliciano, mimoseada com a escolha de uma filha, a arquiteta Mariana, para vice de Edilma, na chapa “100% feminina”, como foi massificada, pelo menos em grande parte da fase inicial da campanha.
Não foi em vão o empenho do prefeito Luciano Cartaxo e assessores em “carregar pedras” para pavimentar o caminho da candidatura de Edilma. Na última pesquisa do Ibope-TV Cabo Branco, ela já saltara para um patamar crescente, ainda que bem distante do pelotão dos primeiros colocados e do esquadrão de aspirantes a um segundo lugar na hipótese que se desenha de segundo turno em João Pessoa. A liderança no páreo, como atestou essa pesquisa Ibope, continuava nas mãos de Cícero Lucena, que, inclusive, abocanhou três pontos percentuais de vantagem, adicionados ao saldo favorável que já havia amealhado. Na segunda posição na corrida, em percentual estacionário, mantinha-se o radialista Nilvan Ferreira, do MDB, que de duas semanas para cá foi alvo de bombardeio incessante de diferentes concorrentes, numa orquestração não combinada para fazê-lo despencar do “status” confortável que aparentava ter estabilizado.
É absolutamente incógnita a performance que a candidata “chapa branca” municipal possa vir a ter na reta final deste primeiro turno, da mesma forma como é imprevisível qualquer projeção em torno da sua presença no segundo turno e das suas chances de reversão. Uma vitória nesse cenário tão pulverizado ou fragmentado seria uma proeza, reviravolta espetacular, chame-se lá o que for. Como candidata, Edilma padece ainda de um enigma: a quantas anda o fenômeno da transferência de votos na conjuntura política-eleitoral brasileira. Em termos objetivos: Luciano Cartaxo terá o condão de bafejá-la com votos que teoricamente são da sua quota ou, colateralmente, do somatório da máquina + esquema político? Ainda que com índices razoáveis de aprovação, a gestão pilotada por ele não é um primor de excelência. Em todo o caso, o tempo é curto para divagações – e a sorte, pois, está lançada.
Ressalte-se como nota marcante da reta final da campanha eleitoral em João Pessoa uma agressividade maior no ritmo da campanha de Edilma Freire. O próprio prefeito Luciano Cartaxo foi visto nos últimos dias no Guia Eleitoral desancando concorrentes da sua “ungida” e penhorando sua palavra de que ela fará a administração mais revolucionária dos últimos tempos em João Pessoa, sem deixar de dar continuidade a projetos e programas que seu período administrativo deflagrou e que teriam tido reflexos em transformações urbanísticas da Capital paraibana. Edilma, em si, tornou-se mais desenvolta nos últimos dias de campanha, no Guia Eleitoral e nos debates, e ensaiou passos para demonstrar certa autonomia, de forma a não parecer mera marionete nas mãos do prefeito Cartaxo. Falta pouquíssimo para conferir o que o eleitorado resolveu decretar como reação à guerra de nervos e ao festival de “soluções” do número recorde de candidatos à sucessão na antiga Felipéia de Nossa Senhora das Neves. Se chegar lá, Edilma inscreverá singularidade na história da Capital: será a primeira mulher eleita prefeita.