Nonato Guedes
Apesar dos pesares, ou seja, do “moedor de carne” que sofreu na campanha eleitoral da parte da cúpula nacional do seu próprio partido, liderada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, acolitado pela dirigente Gleisi Hoffmann, o deputado estadual Anísio Maia chega ao final do primeiro turno como vencedor da queda-de-braço para se manter como candidato próprio do PT a prefeito de João Pessoa, tendo como vice Percival Henriques, do PCdoB. Ele se saiu vitorioso no embate com o ex-governador Ricardo Coutinho (PSB), que pressionou os petistas o tempo todo para ter o apoio da legenda na disputa e, assim, dispor de mais alguns minutos no Guia Eleitoral para defender a sua pele. Lula da Silva, em ato extremo de prepotência e desrespeito à democracia, ignorou Anísio e foi à televisão tecer loas a Ricardo, o “grande companheiro”, sem fazer qualquer menção às denúncias envolvendo o socialista em desvio de verbas da Educação e Saúde, como consta da Operação Calvário.
É evidente que Anísio, como candidato, chega despedaçado à reta final da disputa neste primeiro turno, sem condições de apresentar um forte desempenho, dada a sabotagem permanente que sofreu dentro das próprias hostes petistas, ressalvada a solidariedade que não lhe faltou da parte de dirigentes municipais em João Pessoa, como Giucélia Figueiredo, punida com sua destituição “manu militari” da presidência do diretório local pelo crime de ter praticado a democracia. Houve, também, manifestação de apoio de integrantes do diretório regional, embora sem maior poder de ingerência no caso, que tomou ares de “sangria desatada”. Foi deprimente o comportamento da Sra.Gleisi Hoffmann, que na linha do “pajé” Da Silva, execrou Anísio com o epíteto de “laranja” do governador João Azevêdo, cujo esquema, por sua vez, está envolvido com a eleição de Cícero Lucena, do PP, com quem se coligou.
A Paraíba assistiu envergonhada ao espetáculo arrogante patrocinado pela direção nacional petista, com o onipresente aval de Lula da Silva, dentro da orquestração que visava a crucificar o candidato Anísio Maia como se este tivesse recorrido a um golpe de mão para se impor como candidato próprio. Maia, pelo contrário, submeteu-se a regras estatutárias e ao processo democrático propriamente dito. Sua candidatura foi homologada praticamente por unanimidade no diretório municipal petista em João Pessoa, num reconhecimento à sua trajetória de militante histórico da agremiação, ex-coordenador de uma das campanhas derrotadas de Lula a presidente da República e crítico impenitente do governo Bolsonaro, a quem atacou em intervenções no Guia Eleitoral e em debates de que participou em veículos de comunicação da Capital.
O propósito da orquestração patética de Lula da Silva para retirar, a todo custo, a candidatura de Anísio Maia do páreo em João Pessoa, era o de fazer valer o expediente velhaco do “cumpadismo”, com o fim de prestigiar o ex-governador Ricardo Coutinho, em sinal de agradecimento porque este foi solidário com Lula quando da sua prisão, por 580 dias, na Polícia Federal em Curitiba. Lula também ficou sensibilizado com o apoio irrestrito de Ricardo a Dilma Rousseff quando do processo de impeachment no Palácio do Planalto e decretou, “genuflexo”, que para as faturas serem quitadas, impunha-se a adoção da bandeira socialista no Estado, em detrimento da estrela vermelha do PT. Na sua concepção, o “companheiro” Ricardo estava acima de quaisquer princípios, resoluções ou decisões partidárias. Não houve preocupação do ex-presidente em explicar aos paraibanos e paraibanas a profundidade das suas ligações com Coutinho. Para ele, interessava o apoio do PT a Ricardo e ponto final.
A Justiça Eleitoral, porém, não se dobrou aos ímpetos autoritários do ex-presidente Lula da Silva e, em sucessivas deliberações, optou pela legitimidade da candidatura de Anísio Maia em coligação com o PCdoB, garantindo ao deputado estadual o devido espaço no horário eleitoral gratuito para apresentar propostas, o que Anísio fez à exaustão. Na análise fria dos recursos interpostos pelo PT nacional para decapitar a candidatura própria do petista Anísio Maia, a Justiça concluiu que o processo de impugnação da candidatura foi movido fora do prazo, inviabilizando todo e qualquer argumento que fosse invocado pela cúpula nacional no afã de “imolar” Anísio para proporcionar a Ricardo, de mão beijada, os espaços que, por capricho, ele reivindicava para ampliar sua visibilidade na mídia e, assim, tentar convencer incautos na empreitada kamikaze a que se atirou no confronto das urnas de 2020, dois anos depois de ter deixado o governo do Estado debaixo de uma chusma de acusações gravíssimas.
É possível especular que todos saíram perdendo nessa batalha: Anísio, porque não teve paz nem tranquilidade para tocar à frente a campanha de forma mais planejada; Ricardo, porque ficou com cara de tacho e não logrou abocanhar o valioso tempo do PT para atender a seus caprichos, ainda que tenha logrado extrair vídeo de apoio de Lula ao “companheiro” de jornadas arriscadas, e o próprio Lula, que perdeu pontos na Paraíba com sua imagem truculenta, atrabiliária, em esforço desesperado para mostrar que manda no PT. No pós-eleitoral o PT deve abrir mais uma frente contra Anísio, propondo sua expulsão do partido. Será o primeiro caso de um partido que expulsa um filiado ilustre porque cumpriu as normas internas, obedeceu a estatutos e aceitou defender a bandeira da legenda, o que Ricardo não fez em nenhum momento da campanha – e nem poderia fazê-lo.