Nonato Guedes
Depois de quatro eleições vitoriosas em João Pessoa, as forças de esquerda ou do chamado campo progressista foram abatidas no primeiro turno das eleições para prefeito da Capital paraibana, realizado ontem. Estima-se que os candidatos tidos como progressistas não lograram alcançar mais de 12% dos votos, contabilizando todos eles. A derrocada atingiu profundamente, também, o ex-governador e ex-prefeito por duas vezes Ricardo Coutinho (PSB), que tentou inutilmente formar uma frente anti-Bolsonaro em João Pessoa e atraiu apenas declaração de apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Formalmente, o PT manteve até o fim a candidatura própria do deputado Anísio Maia, mesmo contestada até na Justiça. Anísio conseguiu apenas 1,49% dos votos.
Já o ex-governador Ricardo Coutinho conquistou 10,63% dos votos, ficando na sexta colocação, depois de ter frequentado bolsas de apostas que projetavam, inclusive, sua presença no segundo turno. Envolvido em denúncias de desvio de recursos públicos, na Saúde e Educação do Estado, no período em que foi governador, como consta da Operação Calvário, Ricardo enfrentou, ainda, a decretação de sua inelegibilidade pelo Tribunal Superior Eleitoral por conta do processo de disputa de 2014, quando venceu Cássio Cunha Lima, do PSDB. A inelegibilidade não impediu que Coutinho fosse votado no pleito de ontem, mas desestruturou a sua campanha. Ele gastou muito tempo se defendendo das acusações feitas pelo Ministério Público e Gaeco. Construiu uma narrativa que insistiu na tecla de sua inocência perante as acusações formuladas, bem como na desqualificação do teor de depoimentos prestados sob delação premiada.
A estratégia de Ricardo não foi eficiente, porém, tampouco abrangente, para contrapor argumentos definitivos às acusações assacadas contra ele. Em uma das intervenções para se manifestar a respeito do assunto, na condição de “vítima de perseguição”, Ricardo Coutinho falou que na atualidade estava se dando “o tempo da Justiça”, com denúncias em série contra ele, mas que esperava o seu próprio tempo para demonstrar que é inocente. A Operação Calvário tende a se arrastar indefinidamente no Judiciário. A inelegibilidade de Ricardo, decretada pelo Tribunal Superior Eleitoral, estende-se até 2022, quando haverá eleições para governador. A expectativa nos meios políticos era a de que a eleição para prefeito de João Pessoa este ano fosse usada por Coutinho como trampolim para preparar uma reabilitação em nível estadual, com suposta volta ao Palácio da redenção.
Com a imagem profundamente desgastada, inclusive junto a segmentos históricos da esquerda na Paraíba, que preferiram manter distância dele no período eleitoral, Ricardo Coutinho ficou sem condições de fazer campanha em outros municípios do Estado, em apoio a candidatos do PSB ou de partidos aliados. Conspirou contra esse engajamento, também, a pandemia do coronavírus, já que Ricardo é do chamado “grupo de risco” de pacientes. Mas a estratégia foi atrapalhada, também, por medidas de restrição à sua liberdade pessoal, impostas alternadamente pela Justiça com base na análise de processos inerentes à Operação Calvário. O ex-governador chegou a usar tornozeleira eletrônica, mas ficou liberado durante a campanha eleitoral, sujeitando-se, porém, a outras restrições. Um dos reflexos do declínio do PSB de Ricardo Coutinho foi a derrota da prefeita do Conde, Márcia Lucena, que tentava a reeleição. E perdeu para Karla Pimentel, do PROS.