Nonato Guedes
No cômputo geral, apenas dois governadores saíram vitoriosos em Capitais no primeiro turno das eleições para prefeito: Ratinho Júnior (PSD), do Paraná, faturou a reeleição de Rafael Greca (DEM) em Curitiba, que teve 59,74% dos votos. No Mato Grosso, Marquinhos Trad, também do PSD, apoiado por Reinaldo Azambuja (PSDB), foi reeleito em Campo Grande com 52,58% do eleitorado. Candidatos apadrinhados por governadores de outros Estados estão disputando o segundo turno com chances .É o caso de Cícero Lucena (PP), em João Pessoa, que teve o reforço do governador João Azevêdo (Cidadania) e enfrenta Nilvan Ferreira (MDB) neste segundo turno.
O pleito de domingo marcou a estreia do governador paraibano João Azevêdo na liderança de um agrupamento político na realidade partidária do Estado. E o desempenho de Azevêdo foi considerado positivo, quer em relação ao Cidadania, partido que decidiu formar após sua desfiliação do PSB, pelo qual se elegeu em 2018, quer em aliança com diferentes partidos em cidades importantes do interior do Estado. O Cidadania elegeu 42 prefeitos. Só para efeito de comparação: o PSB do ex-governador Ricardo Coutinho, há quatro anos atrás, elegeu 52 prefeitos. Este ano, ficou reduzido a cinco. João Azevêdo saboreou outro fato impactante: a humilhante derrota do seu ex-aliado Ricardo Coutinho, que ficou em sexto lugar no páreo para a prefeitura de João Pessoa. Ainda que dividindo bola com o PP do “clã” dos Ribeiro na Capital, o atual chefe do Executivo tem um candidato para chamar de seu na reta decisiva.
É verdade que em Campina Grande o Cidadania apoiou a candidata derrotada Ana Cláudia, do Podemos, esposa do senador Veneziano Vital do Rêgo (PSB), mas ainda assim ela ficou em segundo lugar, abaixo do candidato vitorioso em primeiro turno, Bruno Cunha Lima, do PSD, que constituiu o grande trunfo eleitoral do prefeito Romero Rodrigues, pré-candidato ao governo do Estado em 2022 ou ao Senado Federal. O grupo Cunha Lima, liderado pelo ex-senador Cássio, do PSDB, apoiou com firmeza a candidatura de Bruno, numa aliança que envolveu também o PP da senadora Daniella Ribeiro, cujo filho, Lucas, é o vice-prefeito de Bruno. A aposta feita em Campina Grande, com o desfecho que se conhece, não desgastou mais profundamente o governador João Azevêdo, que, feitas as contas, acabou fazendo um “investimento” político no segundo colégio eleitoral. De resto, a disputa na Rainha da Borborema ficou concentrada entre líderes de expressão e com raízes locais. O presidente Jair Bolsonaro, por exemplo, passou de raspão, fazendo um pouso rápido como escala para viagem ao interior de Pernambuco. E embora houvesse outros candidatos identificados com ele e com seu governo, deixou-se fotografar mesmo ao lado de Bruno Cunha Lima.
O poder mudou de mãos na disputa municipal deste ano que, como todos sabem, foi uma prévia, ou um aperitivo para o grande confronto de 2022. A respeito da estratégia adotada pelo governador João Azevêdo para inserir-se na campanha de 2020 convém destacar um ponto acertado que, feitos os cálculos, produziu resultados esperados: a pulverização de apoios a candidaturas nas regiões da Paraíba. Sem perder de vista a necessidade de fortalecimento do Cidadania, como óbvia demonstração de força, sobretudo no cotejo com seu principal adversário, Ricardo Coutinho, João Azevêdo fugiu da tentação de monopolizar o controle de cabeças de chapa pelo partido que ele está construindo pacientemente no Estado. Em vários municípios, cedeu a cabeça de chapa com a condição de obter algum ganho político. João Pessoa, com o apoio a Cícero, tendo Léo Bezerra, do seu partido, na vice, foi um caso emblemático. Mas o mais ilustrativo foi Guarabira, na região do brejo, onde o governador hipotecou apoio à candidatura de Roberto Paulino (MDB) em troca de apoio político na Assembleia ao seu governo por parte do deputado Raniery, filho de Paulino.
Em Santa Luzia, no Vale do Sabugy, o esquema do governador fechou com a candidatura do ex-prefeito e ex-deputado Ademir Morais (DEM), que deu combate ao atual prefeito Zezé (MDB) – este, no final das contas, favorecido por fatores de reforço na reta final do primeiro turno. Não houve uma tática linear por parte do governador João Azevêdo na definição dos rumos da estratégia do seu grupo para 2020, o que explica a diversidade de alianças nos municípios e até mesmo a aparente contradição entre algumas composições. É certo, porém, que um critério basilar norteou a estratégia de Azevêdo: o de tomar distância do antecessor Ricardo Coutinho, a partir de João Pessoa. Amarrado esse ponto ele abriu o leque, investindo numa mini-Arca de Noé, na qual tiveram espaço o DEM, o MDB, o PP e quantos mais se dispusessem a ter uma aproximação com o Cidadania e, sobretudo, com o governador.
Negar que Azevêdo sai fortalecido das primeiras eleições municipais de que participa, em posição de comando, é querer brigar com os fatos. No pleito de domingo, ele mostrou claramente a que veio – ou seja, tornou pública a disposição de enfrentar a militância política com paixão e se entrosar mais com lideranças políticas que possam costurar uma grande rede de apoios à sua candidatura à reeleição em 2022. Uma vantagem adicional que facilitou vitórias “de lavada” obtidas pelo esquema de João sobre o de Ricardo foi a capacidade de diálogo do chefe do Executivo com as forças e os agentes políticos. Uma postura que é a negação do estilo arrogante ou autoritário de Ricardo Coutinho quando ocupou posição de mando na política paraibana.