Nonato Guedes
O ex-governador Ricardo Coutinho (PSB), que ficou em sexto lugar na disputa pela prefeitura de João Pessoa no primeiro turno, contrariando especulações de que iria polarizar a campanha, deu a entender, em mensagem veiculada ontem, que foi vítima de um “massacre” e que forças distintas que se uniram contra ele não iriam permitir uma vitória sua. “Fizemos a luta do possível e até do impossível. Assistimos a uma unidade que somou partidos, governos, instituições de Estado, mídia comercial dependente dos Poderes Públicos, todos unidos numa tessitura perseguidora e difamatória, alinhavada com muita desinformação”, obtemperou o candidato derrotado.
E prosseguiu: “Estranhamente, o TSE resolveu julgar, às vésperas da eleição, um processo em que o Tribunal Regional Eleitoral havia nos inocentado e, à frequência das calúnias, foi incorporada a divulgação de que, caso o eleitor votasse em nossa chapa, teria o voto invalidado”. Coutinho obteve pouco mais de 10% no resultado final do primeiro turno, tendo como candidata a vice a ativista ecológica Paula Frassinete. No Guia Eleitoral, durante a campanha, ele conseguiu atrair o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que apelou aos pessoenses para votarem no socialista, ignorando a candidatura própria do PT representada pelo deputado estadual Anísio Maia. Ricardo batalhou na Justiça até o último momento para conseguir o apoio formal do PT à sua candidatura, mas perdeu em todas as instâncias.
Ele reagiu: “Ficou claro que uma vitória nossa não seria permitida. Isso não era desconhecido pela nossa candidatura. Mesmo assim não desistimos, porque o intuito principal da nossa campanha foi o de resguardar vivo o sentimento de um projeto totalmente diferente dos demais que se apresentaram. Isto foi cumprido. Agradeço a cada um dos que caminharam ao nosso lado, aos companheiros do PSB e àqueles do PT que foram fiéis aos interesses do povo, aos que não puderam se expor mas sufragaram meu nome e o de Paula Frasssinette, dos que entenderam que a manipulação falso-moralista interessava apenas aos que nenhuma moral tem. Ao final da campanha, ficou também evidente para nós e para nossa aguerrida militância que precisávamos ter enfrentado esse processo. Não podíamos nos acovardar diante dos verdadeiros inimigos do povo. Era e é preciso continuar a defender o melhor projeto que já governou João Pessoa e a Paraíba”. Coutinho concluiu com uma “saudação aos que têm coragem”.
O ex-governador, na opinião de analistas políticos, enfrentou os reflexos do profundo desgaste da sua imagem depois que deixou o Palácio da Redenção, com o seu envolvimento em denúncias de desvio de recursos da Saúde e da Educação, formuladas pelo Ministério Público com base em depoimentos tomados, alguns firmados em delações premiadas de ex-secretários e ex-colaboradores das gestões de Ricardo no governo. Politicamente isolado, Coutinho ainda tentou apostar fichas na união de segmentos de esquerda contra o governo do presidente Jair Bolsonaro, mas não logrou êxito na empreitada. A sua posição para o segundo turno na Capital é uma incógnita, devido a incompatibilidades suas tanto com Cícero Lucena quanto com Nilvan Ferreira. A assessoria de Cícero Lucena (PP) revelou, ontem, que não há qualquer movimento de aproximação para obter suposto apoio do ex-governador socialista.