Mais de 900 cidades do país não elegeram nenhuma vereadora nas eleições deste ano e, portanto, não terão nenhuma mulher ocupando vaga nas Câmaras Municipais a partir de 2021. Já em outras mais de 1,8 mil cidades, apenas uma mulher foi eleita, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral. Considerando que o país tem 5.568 cidades, a projeção é de que aproximadamente metade delas não terá vereadoras ou terá apenas uma mulher ocupando o cargo no mandato que se inicia. Das 948 cidades sem mulheres eleitas, 188 ficam em Minas Gerais, Estado que tem a maior quantidade de municípios do país (853). Outras 101 estão em São Paulo.
Há cidades nessa situação em todos os 26 Estados brasileiros, conforme revela o site G1. No total, apenas 16% dos vereadores eleitos no Brasil nas eleições de 2020 são do sexo feminino. O número é maior que o registrado há quatro anos, quando 13,5% dos eleitos era do sexo feminino, mas segue bem abaixo da proporção encontrada na população. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 51,8% dos brasileiros são mulheres. Além disso, de acordo com o TSE, 52,5% dos eleitores são do sexo feminino. O fenômeno de redução da representação das mulheres no legislativo atingiu João Pessoa. Apenas uma vereadora foi reeleita – Eliza Virgínia, enquanto veteranas como Sandra Marrocos e Raíssa Lacerda foram derrotadas. Eliza tem posições conservadoras polêmicas e já foi destaque na mídia nacional por causa de algumas delas. Assume, ostensivamente, que não é feminista.
Conforme o G1, a mesma sub-representação se encontra entre os prefeitos que foram eleitos neste ano, já que apenas 12% deles são mulheres. Neste caso, também não houve uma grande mudança em relação à proporção de mulheres eleitas para o Executivo no primeiro turno das eleições de 2016. Há quatro anos, 11,7% dos prefeitos eleitos eram mulheres. Nestas eleições, as mulheres representaram 34% dos candidatos a vereador. Foram mais de 175 mil, de um total de mais de 500 mil candidatos ao cargo. Em 2016, esse percentual era de 32%. Em 2012, 31%. Os números são muito próximos do mínimo legal estabelecido em lei para candidatas lançadas por partido, de 30%. De forma efetiva, a cota passou a valer após a minirreforma eleitoral de 2009. Antes disso, a lei previa a reserva de 30% das vagas para as mulheres, mas os partidos deixavam essas vagas vazias. A legislação ainda determina que os recursos do Fundo Eleitoral repassados às candidatas devem seguir a mesma proporção das mulheres lançadas pelo partido.
Entretanto, um levantamento parcial do G1, feito até 5 de novembro, apontou que muitos partidos deixaram de cumprir a regra de financiamento. No total, 22 dos 32 partidos do país repassaram menos recursos do que deviam para as candidatas. As eleições de 2020 mostram que as medidas para aumentar a representatividade feminina na política do país ainda não resultaram em um aumento expressivo de eleitas, já que, mesmo com mais de 30% de candidatas, apenas 16% dos vereadores que tomarão posse no ano que vem são do sexo feminino.