Nonato Guedes
Ao tomar posição de independência em relação aos candidatos Cícero Lucena (PP) e Nilvan Ferreira (MDB), que concorrem à prefeitura de João Pessoa no segundo turno, o deputado federal Ruy Carneiro, do PSDB, demonstrou tática de preservação para embates futuros, ainda focados na conquista da edilidade pessoense. Esta foi a segunda vez que ele cortejou a prefeitura – a anterior foi há 16 anos, quando teve o apoio de Cícero, de quem fora auxiliar. E Ruy, certamente, se empolgou com a ressurreição política que obteve em 2020, a ponto de bater na trave e chegar a ameaçar a posição de Nilvan. O emedebista passou para a segunda rodada com 16,61% dos votos válidos, enquanto o tucano conseguiu 16,37% dos sufrágios. Em termos concretos: Ruy ficou a apenas 885 votos de chegar ao segundo turno.
A atitude de independência do deputado tucano foi amadurecida em reflexões próprias que ele deve ter feito sobre a capilaridade eleitoral alcançada no páreo deste ano. Ruy foi, indiscutivelmente, um gigante na campanha, que carregou nos ombros praticamente sozinho, sem maior respaldo de figuras carimbadas do ninho tucano paraibano, mais interessadas no resultado da eleição em Campina Grande, onde o PSDB nem coadjuvante foi na campanha. A chapa apoiada pelos tucanos Cássio Cunha Lima e Pedro Cunha Lima teve na cabeça um nome do PSD do prefeito Romero Rodrigues, o ex-deputado Bruno Cunha lima, e como vice Lucas Ribeiro, filho da senadora Daniella Ribeiro, do PP. Romero foi o grande vencedor da eleição na Rainha da Borborema, tanto por ter feito o sucessor como por ter liquidado a fatura em primeiro turno. Ele foi feito coordenador natural da campanha de Bruno, com a concordância do ex-senador Cássio, e saiu do primeiro turno com cacife nas mãos para disputar o governo do Estado em 2022 contra o governador João Azevêdo (Cidadania) e outros adversários.
Aliás, o recolhimento de Cássio desde que foi derrotado na tentativa de se reeleger ao Senado em 2018 abriu espaço para a emergência de novos líderes com projeção estadual. O prefeito Romero Rodrigues se encorajou a desempenhar o papel porque já o vinha cortejando e aguardava que houvesse uma passagem automática de bastão para seu comando. Isto se deu em meio ao desastre experimentado pelo PSDB na luta ao Senado – e ficou público e notório que Cássio se recolheu tanto porque se julgou vítima de “tsunami” político, para usar uma expressão sua, como percebeu que outros atores se encaixavam na conjuntura na sua própria órbita. Deu-se, também, que diante do “baque” nas urnas, Cássio demorou a esgotar o ritual de lamber as feridas da derrota. Como não há espaço vazio em político, Romero, com o controle da prefeitura da segunda cidade mais importante do Estado, habilitou-se à cena e nela se fixou.
O balão de ensaio da tática expansionista de Romero, como já registramos em artigo publicado neste site, foi o lançamento da sua esposa, doutora Micheline Rodrigues, como candidata a vice-governadora em 2018 na chapa encabeçada por Lucélio Cartaxo (PV), irmão gêmeo do prefeito da Capital, Luciano Cartaxo, que está concluindo o mandato sem ter eleito o sucessor. Lucélio e Micheline perderam para João Azevêdo – todavia, o atual prefeito de Campina não contabilizou o resultado como grande revés e, sim, como “investimento” para empreitadas futuras. Assim é que começou a se mover para se impor como candidato ao governo em 2022 pelo partido que preside, o PSD, e não pelo PSDB. E tendo, presumivelmente, como trunfo, uma dobradinha com o presidente Jair Bolsonaro, que deverá se candidatar à reeleição ao Palácio do Planalto. Romero é interlocutor privilegiado do capitão-presidente.
No que diz respeito ao deputado Ruy Carneiro, ele alegou ter captado o recado de parcela importante do eleitorado de João Pessoa: “a população não quer, de forma alguma, minha adesão a nenhuma das candidaturas em disputa”. De resto, ao evidenciar isso, ele foi coerente com a postura que adotou durante toda a campanha eleitoral no primeiro ano e que consistiu em bater preferencialmente nos candidatos Cícero Lucena e Nilvan Ferreira. Ruy, é claro, atacou, também, o ex-governador Ricardo Coutinho (PSB), de forma mais dura, e insinuou ligações do governador João Azevêdo com Ricardo, que remontaram ao passado, para deixar no ar a suspeita de envolvimento dos dois ainda hoje. Com o ardil, buscava minar simultaneamente Ricardo Coutinho e Cícero Lucena. Ricardo ficou em sexto lugar na competição.
A sinalização de que está motivado para tentar novamente uma oportunidade de chegar à prefeitura de João Pessoa ficou clara na sua revelação de que vai exercer com firmeza papel de acompanhamento e fiscalização da próxima gestão municipal, seja qual for o gestor escolhido no segundo turno. “Vou inclusive destinar emendas parlamentares para concretizar as propostas que apresentei durante nossa campanha, principalmente em relação a obras na Saúde Pública”, declarou Ruy Carneiro, de alto e bom som, ao desvendar sua posição na rodada decisiva deste ano na Capital. Para analistas experimentados não restou dúvida: Ruy fez discurso de candidatíssimo à prefeitura de João Pessoa em 2024. E montará um gabinete paralelo ao do prefeito eleito no segundo turno, seja ele qual for.