Nonato Guedes
Comandante do MDB na Paraíba, o senador José Maranhão adota postura de otimismo cauteloso ao comentar a presença do seu partido no segundo turno das eleições de 2020 em João Pessoa, com o nome do radialista Nilvan Ferreira, que enfrenta o ex-senador e ex-prefeito Cícero Lucena, do PP. Maranhão, nas declarações, trai um certo estado de graças – afinal, foi uma proeza a passagem do MDB para a rodada decisiva, e, naturalmente, se rejubila com apoios que têm sido dados ao postulante na reta decisiva. Mas o senador sabe que o embate é renhido e que há desafios a serem vencidos para que o representante da legenda saia das urnas no dia 29 com a taça nas mãos.
Nas últimas horas, com a polarização se acirrando entre Nilvan e Cícero Lucena, Maranhão foi questionado sobre desdobramentos para 2022 de um resultado favorável do segundo turno em andamento na Capital. O questionamento é natural porque partidos como o PSDB e o PSD anunciaram engajamento à campanha de Nilvan, embora o candidato tucano propriamente dito, deputado federal Ruy Carneiro, que bateu na trave no primeiro turno, tenha anunciado independência e avaliado que nenhum dos candidatos em confronto representa a melhor alternativa para a Capital. O PSD é presidido pelo prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues, que além de ter saído vitorioso no primeiro em sua cidade, com a eleição do ex-deputado Bruno Cunha Lima, está em campanha antecipada para o governo do Estado dentro de dois anos, em dobradinha com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Maranhão, para escapar de definições ou pré-definições para 2022, argumentou que não gosta de trabalhar com o “imponderável”, denotando visão realista ou racional diante dos acontecimentos que vão ser deflagrados com vistas ao pleito de daqui a dois anos. O pleito de 2022 envolve a própria sobrevivência política de Maranhão, uma vez que aquele será o último ano do atual mandato como congressista. Maranhão precisará analisar com segurança as chances de concorrer à reeleição ou, em último caso, disputar um mandato de deputado federal, dando partida para o fim de uma trajetória política marcada pela longevidade. Não se pode perder de vista que Maranhão, na década de 50, foi o mais jovem deputado estadual do país – e de lá para cá tem se mantido em evidência no cenário paraibano, ascendendo por três vezes à cadeira de governador. Como defini no meu livro “A Fala do Poder”, Maranhão é um “tríplice coroado”.
A perspectiva de presença do MDB no segundo turno da eleição para prefeito de João Pessoa, este ano, chegou a ser subestimada nos meios políticos, tanto mais porque o candidato apresentado, Nilvan Ferreira, apesar da fama como comunicador no rádio e na televisão, não havia disputado até então nenhum mandato, não tinha aparentemente maior identificação com o eleitorado da Capital e, nos programas que apresentava, dava a impressão, mesmo, de ser antipolítico. Ainda agora, bafejado por apoios no segundo turno, ele repete o discurso de que não está fazendo conchavos em troca de adesão e que suas discussões com outros partidos ou líderes políticos têm sido “republicanas”, centradas na incorporação de propostas para desenvolver João Pessoa e melhorar as condições de vida da sua população. Nilvan, que tem afinidade com o presidente Jair Bolsonaro, tenta reproduzir o modelo de candidato “outsider” que o capitão, em 2018, desfraldou ao eleitorado, procurando desvincular-se, ao máximo, “daquela velha forma de fazer política predominante no Brasil”.
No que diz respeito ao MDB como partido, é inegável que a presença do seu candidato no segundo turno resgata uma pujança que há muito tempo a agremiação não exibia no maior colégio eleitoral da Paraíba. A única grande vitória conquistada pela legenda, quando ainda era PMDB, na caneca de chapa à prefeitura, havia sido em 1985, com Carneiro Arnaud, numa aliança com o esquema do então governador Wilson Braga, já falecido. Havia especulação sobre o desdobramento da composição para 1986, mas isto não aconteceu. Naquele ano, o senador Humberto Lucena acabou abrindo mão da candidatura natural do PMDB para ceder a cabeça de chapa a Tarcísio Burity, que se constituía em fenômeno. De lá para cá, o PMDB-MDB tem sido coadjuvante em disputas na Capital, às vezes abocanhando vaga de vice, como se deu com Manoel Júnior, na primeira gestão de Ricardo Coutinho (PSB) eno segundo mandato de Luciano Cartaxo (atualmente PV). Em termos gerais, o MDB controla prefeituras em cidades médias e pequenas no país, sem maior penetração em Capitais.
Ressalte-se que em 2012 o próprio senador José Maranhão habilitou-se a concorrer à prefeitura de João Pessoa, mas não logrou ir para o segundo turno. A rodada finalíssima, naquele ano, foi travada entre Luciano Cartaxo e Cícero Lucena, este, então, no PSDB. Dono incontestável da legenda, Maranhão exulta com Nilvan no segundo turno porque isto sinaliza um sopro de ressurgimento da agremiação, por mais que o MDB se desfigure em torno de princípios que o tornaram combatente da ditadura militar e expoentes de memoráveis campanhas como a da anistia. Nilvan não tem perfil progressista, como gostariam alguns emedebistas ortodoxos. Mas tem fatias do eleitorado ao seu lado, as mesmas que o colocaram no segundo turno. Se ele ganhar, o MDB ganhará não apenas a prefeitura, mas cacife para o jogo de 2022, do qual parecia excluído nas projeções de analistas políticos até o ano passado. Daí o pragmatismo com que se move o senador, acostumado às procelas da militância política-partidária.