Nonato Guedes
Apoiada ostensivamente pelo prefeito Luciano Cartaxo, que dentro de 40 dias concluirá seu segundo mandato à frente da edilidade de João Pessoa, a candidata do PV ao pleito deste ano Edilma Freire ficou em quinto lugar no primeiro turno, com 12,93% dos votos. Tanto Edilma como Cartaxo anunciaram neutralidade no segundo turno que está sendo disputado por Cícero Lucena (PP) e Nilvan Ferreira (MDB), sob o pretexto de que nenhum deles representa os ideais e o modelo de gestão adotado pelo PV. Um dado interessante foi a afirmação de Cartaxo de que o próximo gestor, além de encontrar a prefeitura em situação de equilíbrio fiscal e financeiro, terá 100 milhões de dólares em caixa para investimentos em infraestrutura e desenvolvimento,
Os 100 milhões de dólares são oriundos de um financiamento que, nas palavras de Luciano, foi “duramente conquistado junto ao BID – o Banco Interamericano de Desenvolvimento”. Cartaxo protagoniza um caso raro, na história política-administrativa do país, de prefeito que não colheu o que plantou em oito anos à frente da administração da Capital paraibana. Afinal, em tese, esse legado deveria ser administrado por Edilma se Luciano tivesse adotado estratégia mais eficiente que favorecesse a sua eleição, da mesma forma como ele garante que o sucessor vai encontrar uma máquina enxuta e eficaz, com folha de pagamento em dia e com obras a perder de vista. Faltou habilidade a Cartaxo para transferir votos para sua candidata “in pectoris” ou a candidata, por ser neófita, atingiu na campanha o patamar que poderia conquistar? É uma questão que divide opiniões, sobretudo quando se leva em conta que a ex-secretária de Educação, que largou com uma cotação pífia, logrou crescer no curso da disputa, ainda que de forma vegetativa e em percentual insuficiente para levá-la, pelo menos, ao segundo turno.
Edilma, aliás, nas intervenções feitas em debates de que participou no primeiro turno, anunciou com alarde o tesouro dos 100 milhões de dólares, deixando entrever que caberia a ela gerenciar a aplicação de montante tão vultuoso em investimentos de alcance social beneficiando a população de João Pessoa. Fez desse argumento uma espécie de samba de uma nota só, como tática para se mostrar destinatária preferencial do colosso de recursos, agora à espera de Cícero ou Nilvan. É indiscutível que a obtenção de tal financiamento deve ter custado muito suor ao prefeito Luciano Cartaxo e sua equipe, conhecendo-se, como se conhece, o ritual burocrático que normalmente emperra liberação de recursos, quer pelo governo federal, quer por agências de desenvolvimento internacionais autônomas como o BID, que é referência para gestores de quaisquer escalões. O que é incrível é que Cartaxo não tenha logrado sensibilizar a população a dar um crédito de confiança à sua ungida na eleição.
Parecia evidente que Edilma, autora da implantação de “uma revolução silenciosa” na área da Educação, como definiu Luciano ao apresentá-la ao eleitorado, estava credenciada a dar continuidade às duas gestões de Luciano. E foi por confiar cegamente no seu compromisso continuísta que Luciano quebrou lanças para impor a candidata no seu círculo político, preterindo outros secretários e secretárias que chegaram a ser incentivados a se testar como opções à prefeitura, a exemplo de Diego Tavares, Daniella Bandeira e Socorro Gadelha. Os ex-auxiliares de Cartaxo cumpriram, inclusive, o ritual de desincompatibilização dos cargos dentro de prazos previstos em Lei para ficarem disponíveis em caso de convocação para a disputa. Foram surpreendidos com a imposição do nome de Edilma, aparentemente a menos política da constelação de secretários da administração que se despede.
Ninguém ignora que a má condução política do processo de sucessão por parte do prefeito, junto ao seu próprio grupo de apoio, foi fator de divisionismo na base oficial, desencadeando deserções em série e até adesões a outras candidaturas, como se deu da parte de Diego que proclamou apoio à candidatura de Cícero Lucena, de quem seu pai, Reginaldo Tavares, foi vice-prefeito numa das gestões empalmadas lá atrás. Diego, diga-se de passagem, acabou “faturando” com a crise na órbita de Cartaxo, pois ganhou a oportunidade de ascender, temporariamente, a uma cadeira no Senado, mediante licença requerida pela senadora Daniella Ribeiro, do PP. Entre os ex-aliados do prefeito, a sensação foi de traição na relação de respeito e confiança, com a imposição de Edilma cheirando a jogo de cartas marcadas no clã doméstico que ladeia o prefeito em fim de mandato. Cartaxo não logrou compensar as defecções e o fato é que a candidatura de Edilma passou recibo de enfraquecimento político.
Pessoalmente, o prefeito Luciano Cartaxo detém bons percentuais de aprovação, embora suas gestões não tenham se caracterizado por obras e empreendimentos de grande impacto, focando-se, na verdade, no feijão com arroz dos gestores sem maiores ambições políticas. O resultado é que não se confirmou a profecia de que o esquema de Luciano viesse a ser o fiel da balança na disputa eleitoral deste ano. O prefeito e o que restou do seu grupo assistem como espectadores o desenrolar de uma eleição que ficou para ser decidida no próximo dia 29. Louve-se, quando nada, o compromisso anunciado pelo prefeito de proceder a uma transição transparente e segura à equipe que for designada pelo futuro prefeito. É um gesto republicano que acrescenta alguns pontos à sua biografia.