Nonato Guedes
Mesmo envolvido no fogo cruzado do segundo turno da eleição para prefeito de João Pessoa, em que tomou partido pela candidatura do ex-senador Cícero Lucena (PP) contra Nilvan Ferreira (MDB), o governador João Azevêdo (Cidadania) fez questão de tornar público que não pretende, de forma alguma, discriminar prefeitos eleitos (ou reeleitos) por outros partidos em qualquer município do território paraibano. Interlocutores do chefe do Executivo afirmam que ele está aguardando o fechamento do mapa, com a decisão do prefeito de João Pessoa em segundo turno no próximo domingo, para demandar articulações e engajar dirigentes consagrados nas urnas em projetos de desenvolvimento das cidades e, de forma colateral, do Estado.
Na semana passada, Azevêdo fez uma espécie de chamamento indireto aos gestores já eleitos durante assinatura de contrato de empréstimo com o BID, no valor de US$ 45 milhões, para execução do Projeto de Aprimoramento do Modelo de W=Atenção na Rede de Saúde – Amar. Ficou patente, naquela ocasião, que o governo do Estado também investirá recursos próprios com a destinação de cerca de US$ 11 milhões de contrapartida. Lembrou o governador que o investimento possibilitará o aperfeiçoamento do modelo de Atenção Integral à Saúde no Estado, fortalecendo a ação do SUS na Paraíba e consolidando as Redes Integradas na Atenção à Saúde na Paraíba. O chamamento que partiu do governador aos prefeitos foi no sentido da concretização de parcerias para administração conjunta dos recursos e das ações essenciais na Saúde, cuja deflagração está planejada sob cronograma.
Na reunião realizada por meio de videoconferência, Azevêdo destacou que os investimentos agora consolidados junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento irão proporcionar uma gestão mais eficiente, melhorando a infraestrutura e o atendimento na área da Saúde. Enfatizou, então: “Esse projeto tem atuação em todo o Estado, prevendo uma reestruturação na gestão de saúde e no fortalecimento do SUS, com intervenções físicas em vários hospitais da nossa rede, além da parte de monitoramento e controle. Tal ação terá um reflexo extraordinário na qualidade do serviço prestado na saúde, o que é fundamental, principalmente nesse momento em que enfrentamos a pandemia do coronavírus”. A pretensão é, mesmo, deixar um legado na saúde do Estado e a reestruturação anunciada tem a ver com a requalificação do sistema público que foi destroçado na gestão Ricardo Coutinho, com o sucateamento de hospitais e unidades de saúde e o desvio escancarado de recursos para favorecer apaniguados políticos e burocratas operadores de organizações sociais conveniadas com o Estado para a gestão compartilhada da Saúde Pública.
Nas entrelinhas da mensagem do governador João Azevêdo ficou implícito o desejo de um pacto cooperativo entre Estado e municípios, com integração de equipes e unificação de esforços destinados a retirar a Paraíba da situação devastadora a que foi conduzida em matéria de Saúde Pública, antes mesmo da eclosão da pandemia de Covid-19, que elevou a crise a proporções estratosféricas. Chega a parecer milagre que a Paraíba tenha sobrevivido à política de terra arrasada, empreendida num segmento estratégico e de vital importância para a população, e esteja conseguindo administrar a calamidade do coronavírus. É evidente que se “o legado” já existisse, com estrutura moderna, eficiente, capaz de oferecer respostas rápidas, os resultados seriam profundamente alentadores. Mas, é de se reconhecer que não tem havido omissão – muito pelo contrário, da parte da gestão de João Azevêdo, para suprir os prejuízos causados por uma organização criminosa enquistada no Poder Público paraibano.
No que diz respeito à relação republicana institucional com prefeitos adversários ou não alinhados politicamente com o governo do Estado há quem diga que Azevêdo ficou devendo, no restante do segundo mandato de Luciano Cartaxo (PV), gestos concretos de sintonia e cooperação em benefício da Capital. Houve, por assim dizer, um lapso, mas verdade seja dita: o próprio estilo arisco do prefeito em fim de mandato dificultou a parceria mais sólida ou o diálogo mais proveitoso. Cartaxo preferiu mirar em aliança com ministérios e órgãos do governo federal ou em parcerias com agências de desenvolvimento até internacionais para forrar os cofres do município, como fez com o BID, a ponto de se jactar que está deixando empenhados 100 milhões de dólares para investimentos em projetos e obras de infraestrutura. Esse dinheiro ficará para Nilvan Ferreira ou para Cícero Lucena.
Se Cícero Lucena for eleito no próximo domingo, a expectativa é de entrosamento cem por cento entre ele, como prefeito da Capital, e o governador João Azevêdo, pelas relações que estreitaram durante a campanha deste ano, em que o Cidadania se coligou com o Partido Progressista. . Mas, nos termos do que apregoou o governador João Azevêdo na semana passada, é plausível a ilação de que, sendo Nilvan Ferreira o ungido, a Capital não será penalizada. Supõe-se que os tempos de guerra fria de Ricardo Coutinho com gestores de João Pessoa e Campina Grande estejam sepultados na Era Azevêdo. Não é nada, não é nada, é muita coisa!