Nonato Guedes
Na reta final da campanha para prefeito de João Pessoa, cuja decisão será conhecida domingo, o candidato Nilvan Ferreira, do MDB, tirou um esqueleto do armário para tentar atingir, no baixo ventre, o seu adversário Cícero Lucena (PP): a Operação Confraria. Em 21 de julho de 2005, Cícero foi alvo de mandado de prisão expedido pela Polícia Federal, a pretexto de ser expoente de um esquema de suposto favorecimento a empreiteiras e desvio de recursos públicos federais, somando cerca de R$ 100 milhões. Outras sete pessoas foram arroladas, inclusive ex-auxiliares da administração pessoense, sendo liberadas com a condição de ficarem à disposição da Justiça.
Desde que o caso pipocou, com repercussão no “Jornal Nacional” e veículos de circulação nacional, a exemplo da revista “Veja”, o político Cícero Lucena obstinou-se em desmontar a totalidade das acusações contidas em processos instaurados contra ele. O processo passou a tramitar em segredo de Justiça e, nos últimos anos, já sem mandato, Lucena anunciou, aliviado, que havia sido absolvido em todos os processos. Desde que o escândalo estourou, ele protestou inocência. Foi aconselhado pelo então governador Cássio Cunha Lima a pedir exoneração da secretaria de Planejamento do Estado quando do episódio. O assunto, volta e meia, é requentado – e a orquestração contra Cícero não o impediu de ser eleito senador em 2006, derrotando o empresário Ney Suassuna. Obteve 803.600 votos e, com o apoio de colegas, foi alçado à primeira secretaria do Senado, onde adotou medidas de austeridade relacionadas a gastos e a pessoal.
Numa entrevista ao jornal “O Norte”, em dezembro de 2005, Cícero contou que, antes de ser envolvido na Operação Confraria, eclodiram denúncias sobre eventuais irregularidades em contratos da prefeitura. O Ministério Público da Paraíba começou a citar ex-secretários para que justificassem alguns questionamentos da Controladoria Geral da União. Na Lei Orgânica do município constava um parágrafo em que o secretário aparecia como ordenador de despesas, e foi com base no dispositivo que o MP acionou auxiliares. Cícero estranhou por não ter sido citado. Colocou-se à disposição da Justiça em Brasília, Recife, e, em João Pessoa, foi ao Ministério Público falar com o procurador Fábio George para esclarecimentos. E ficou surpreso com o seu mandado de prisão, extensivo a outras pessoas. “Fiz questão de me apresentar porque tinha a consciência limpa”, explicou.
Ele ingressou com habeas-corpus e, um dia após, houve concessão de liminar para a sua soltura. No despacho do então presidente do Superior Tribunal de Justiça estava dito que o mandado de prisão era ilegal e arbitrário. “Ora, se eu já tinha me oferecido para prestar esclarecimentos, não precisava dessa arbitrariedade. Recebi apoios de várias pessoas, que diziam que eu fui preso político. Afinal, fui acusado de que? Outro fato interessante é que, mesmo em segredo de Justiça, a imprensa ficou sabendo de informações sobre o processo”, estranhou Cícero. Na sua interpretação, fora vítima de um fato político, com indiscutíveis conotações para prejudicá-lo. Não quis passar recibo de supostas traições durante a tempestade que vivenciou. “Prefiro lembrar da solidariedade que foi fundamental para enfrentar o momento”, desabafou, na época.
O radialista Nilvan Ferreira, candidato do MDB, que agita denúncias requentadas contra Cícero Lucena, com mais ênfase nesta fase decisiva do segundo turno, também é citado em processo referente a suposta falsificação de marca de roupas de uma loja que possuía, junto com familiares, num shopping de João Pessoa. De certa forma o assunto tem sido explorado, inclusive por profissionais de imprensa, como ocorreu, ontem, na TV Cabo Branco, onde o candidato emedebista foi entrevistado. Nilvan chegou a ser questionado sobre o fato de tramitar em segredo de Justiça o referido processo, embora, quando atuou à frente de microfones de emissoras de rádio, atuasse como espécie de palmatória do mundo, cobrando transparência absoluta de tudo e de todos. O radialista-candidato limitou-se a dizer que o segredo de Justiça não foi pedido por ele, mas deixou claro que não tem nada a temer e que, portanto, tem a consciência tranquila.
A recapitulação de episódios negativos envolvendo os dois candidatos que ficaram para a finalíssima, embora inevitável para conhecimento do perfil de cada um e das respectivas explicações de fatos, influenciará no resultado da decisão de domingo? Esta é a grande pergunta que se faz – e, portanto, a grande incógnita que persiste, faltando cinco dias para a rodada. A interrogação decorre do fato de que o páreo se apresenta, em tese, acirradíssimo, como ficou traduzido na pesquisa do Ibope-TV Cabo Branco de ontem. A adrenalina é tanto maior quando se sabe que ainda há dois debates em televisão e uma última pesquisa do Ibope, a ser divulgada na véspera do Dia D!