Nonato Guedes
O prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues (PSD), seguirá as pegadas do poeta Ronaldo Cunha Lima ao empreender, a partir do próximo ano, trajetória com vistas a alcançar o Palácio da Redenção nas eleições de outubro de 2022. Ronaldo armou a barraca como candidato a governador pelo PMDB em janeiro de 89, após concluir um mandato de seis anos na prefeitura da Rainha da Borborema – eleito em 1982, ele foi beneficiado pela prorrogação de mandatos dos gestores municipais, decidida pelo Congresso Nacional. O poeta sofreu críticas dentro do próprio partido por ter “precipitado” o lançamento, mas ignorou o bombardeio e abriu escritório de trabalho em João Pessoa, de onde irradiou ações políticas para todos os municípios do Estado.
Esses municípios Ronaldo viria a percorrer, depois, como candidato, já absorvido pelos cardeais da legenda. Oficializado candidato, em junho de 1990, Cunha Lima derrotou no segundo turno o ex-governador Wilson Leite Braga, que ainda se constituía em legenda respeitável no cenário estadual. Não conseguiu atrair o apoio do governador Tarcísio Burity, que, de resto, deflagrara processo de desembarque das fileiras do PMDB, pelo qual se elegeu em 1986 derrotando Marcondes Gadelha. Mas logrou consolidar o apoio do deputado federal João Agripino Neto, que postulou o governo do Estado pelo PRN, com o engajamento declarado de Burity. Filho do ex-governador João Agripino, João Neto firmou imagem positiva junto a segmentos de classe média, especialmente em João Pessoa, mas sua votação final foi insuficiente para levá-lo ao segundo turno. Contrariando Burity, que anunciou não apoiar nem Braga nem Ronaldo no segundo turno, João Neto hipotecou solidariedade a Cunha Lima em evento a céu aberto realizado no Espaço Cultural. É fora de dúvidas que a adesão pesou para decidir a vitória do poeta.
As comparações entre a trajetória de Ronaldo e a de Romero Rodrigues parecem esgotar-se no fato de que ambos decidiram disputar o governo do Estado mesmo antevendo que não teriam controle direto sobre uma prefeitura importante como a de Campina Grande, embora o gestor atual tenha operado a proeza de eleger o seu candidato, Bruno Cunha Lima, em primeiro turno, no dia 15 de novembro. Ronaldo vinha de duas preterições à indicação como candidato do PMDB ao governo, de tal sorte que em 90 pegou o senador Humberto Lucena pela palavra e firmou-se nesse papel, aparentemente sem ameaça maior. Em 82, Ronaldo foi sacrificado com a oficialização da candidatura de Antônio Mariz, que perdeu, nas urnas, para Braga. Em 86, Burity ingressou na undécima hora dos prazos legais no PMDB e acabou abocanhando a indicação como candidato, destronando, além de Ronaldo, o próprio Humberto Lucena, que enfrentara problemas de saúde. Nesse ano, o poeta tomou uma das atitudes mais dramáticas da sua vida, ao dizer “Não” à candidatura de governador, ficando na prefeitura de Campina.
Foi quando o senador Humberto e o próprio Burity assumiram de público o compromisso de apoiar Ronaldo na disputa subsequente. E procurando avivar a palavra empenhada, o poeta alertava em versos: “Se o meu partido/se fizer esquecido/do compromisso assumido/e eu for esquecido/não faz sentido/eu dar ouvidos/a esse partido”. Captando a mensagem, que trazia embutida, também, uma advertência, a cúpula do PMDB paraibano, em convenção no Clube Astréa, partiu para homologar a chapa Ronaldo-Cícero Lucena para governador e vice, tendo Antônio Mariz como candidato ao Senado. O trio foi eleito nas urnas. E a convenção, vale recordar, foi precedida de uma carreata estrondosa, iniciada na cidade de Cajazeiras e coordenada diretamente por Cássio Cunha Lima, o jovem herdeiro de Ronaldo. O prestígio da candidatura de Ronaldo podia ser medido pela quantidade de candidatos a vice-governador – pelo menos 14 postulantes.
Na estratégia para acumular corpos de vantagem sobre Wilson Braga, Ronaldo Cunha Lima procurou seguir à risca um conselho do filho Cássio: “Vá para o meio da rua ganhar o eleitor. Você tem carisma e é no meio da rua que vai ganhar a eleição”. A recapitulação dessa profecia de Cássio Cunha Lima, que se tornou acertada, põe em evidência uma das diferenças entre a campanha de Ronaldo em 1990 e a presumível candidatura de Romero Rodrigues em 2022: o carisma. Romero sabe que não tem o carisma do poeta e precisará contar com forças políticas de expressão para pavimentar o caminho rumo ao Palácio em 2022. Ele alardeia o que, a dados de hoje, parece um trunfo incontestável: eventual dobradinha com o presidente Jair Bolsonaro, que deverá concorrer à reeleição dentro de dois anos. Mas, certamente, apenas isto não deverá ser suficiente para ejetá-lo ao governo do Estado. É melhor esperar o fechamento das urnas de 2020 na Capital paraibana para, só então, especular como estará a correlação de forças políticas no Estado no futuro à vista.