Nonato Guedes
A nota dominante – e destoante – do segundo turno das eleições para prefeito de João Pessoa foi a ênfase na troca de acusações entre os candidatos Cícero Lucena (PP) e Nilvan Ferreira (MDB). Nilvan deu o tom ao publicizar matérias jornalísticas requentadas sobre o envolvimento de Lucena na Operação Confraria, que apurou desvio de recursos públicos na prefeitura da Capital no começo dos anos 2000. O fogo cruzado disparado pelo emedebista obrigou Lucena a ficar na defensiva, até que o ex-prefeito decidiu dar o troco. Primeiro, insinuou envolvimento de Ferreira em episódio de falsificação na venda de roupas numa loja em shopping da Capital. Na sequência, contra-atacou em relação à Confraria, deixando claro que foi absolvido das acusações assacadas. Por último, lançou mão de um vídeo em que Nilvan, em programa de rádio, aparece defendendo Cícero no caso da Operação Confraria.
O bombardeio entre os dois postulantes não chegou necessariamente a surpreender parcelas do eleitorado, que já aguardavam por isso. Mas não deixou de ser deplorado por retratar, aparentemente, atos de desespero, além de desviar o tom até então concentrado na apresentação de propostas para uma gestão pública de resultados. Tanto Nilvan quanto Cícero vinham travando, até então, uma competição para mostrar quem é mais preparado para empalmar a gestão pós-pandemia do novo coronavírus. As bandeiras que levantaram para o veredicto popular focaram, sobretudo, em sugestões e ideias sobre como reativar o processo de desenvolvimento econômico na Capital paraibana, gravemente prejudicado com a paralisação de atividades e, de uma maneira geral, de eventos, em virtude das medidas de distanciamento social ou de isolamento recomendadas por autoridades da Saúde Pública.
Cícero e Nilvan tiveram tempo, por exemplo, para assegurar que, se eleitos, não pretendem praticar o “lockdown”, que seria o fechamento das atividades produtivas diante da iminência de uma segunda onda de contaminação pela Covid-19. Esse tema interessou vivamente ao grande público pela simples razão de que ele está enfrentando na pele as consequências de paralisações por causa da epidemia do coronavírus. Nilvan tentou jogar Cícero contra a opinião pública lembrando que ele é apoiado pelo governador João Azevêdo (Cidadania), que tem procurado manter controle rigoroso da situação, ao custo de prejuízos para setores carentes de emprego e renda. Mas Lucena teve a preocupação de deixar claro que, na condição de gestor da Capital, caso seja eleito, investirá na adoção de medidas preventivas que possibilitem neutralizar ameaças de colapso, quer da rede pública de Saúde, quer das atividades que envolvem os setores produtivos locais.
O candidato apoiado pelo governador João Azevêdo, antes de descambar para os ataques pessoais, chegou a massificar a proposta de facilidade de parcerias entre a prefeitura de João Pessoa e a administração estadual, com reflexos diretos na geração de emprego e renda, como uma resposta imediata do Poder Público à situação de vulnerabilidade social instaurada a partir da proliferação da epidemia do novo coronavírus. A título de exemplo, mencionou a gama de investimentos que o governo do Estado tem anunciado no segmento turístico paraibano, especialmente em João Pessoa, com a execução de projeto de alcance relevante no Cabo Branco, o que vai possibilitar a ocupação de mão de obra oriunda da construção civil, não menos penalizada nesse período de convivência com a crise sanitária enfrentada. Cícero acenou, igualmente, com a interlocução frequente junto ao trade turístico pessoense, captando atentamente as suas reivindicações e tornando exequíveis as demandas consubstanciadas em discussões empreendidas no período da campanha eleitoral.
Para Cícero, que governou a Capital por duas vezes, de 1996 a 2004, o desafio é o de atualizar soluções para os problemas pessoenses, modernizar instrumentos e ferramentas de gestão pública para que sejam contemporâneos dos desafios proporcionais ao próprio crescimento populacional da Capital da Paraíba. Para Nilvan Ferreira, o desafio é o de sensibilizar parcelas do eleitorado quanto à viabilidade das propostas de mudança que tem defendido desde que aceitou concorrer à prefeitura de João Pessoa. Ele insistiu bastante num certo Banco da Retomada, que pode ser traduzido como um órgão de fomento ao microcrédito, em parceria com instituições financeiras sólidas interessadas em aliança com o Poder Público. Em termos de obras e investimentos, sua vitrine foi o Hospital do Idoso, mas o plano de governo contemplou uma miríade de penduricalhos e de ações administrativas em diversas frentes, passando pela Educação, que é essencial.
Descontados os excessos de parte à parte, assimiláveis dentro dos limites do processo de tensão ou radicalização da disputa política, que foi conduzida pelo eleitor para o segundo turno, os candidatos Cícero Lucena e Nilvan Ferreira fizeram da campanha eleitoral, em primeiro e segundo turnos, um curso intensivo de conhecimento dos problemas de João Pessoa. Este é o lado pedagógico que fica do embate e que certamente motiva partidários de um e de outro na visão otimista ou confiante quanto ao resultado que está na iminência de ser proclamado. Como dissemos, a troca de acusações foi o ponto fora da curva no processo eleitoral deste ano na Capital paraibana.