Nonato Guedes
Conscientes de que o tempo urge e a população de João Pessoa exige providências mais afirmativas do Poder Público quanto ao controle da proliferação do coronavírus e, ao mesmo tempo, quanto à crise econômica e social deflagrada na esteira da crise sanitária, o governador João Azevêdo (Cidadania) e o prefeito eleito da Capital, Cícero Lucena (PP), que ele apoiou decisivamente até o segundo turno concluído no domingo, deverão deflagrar a partir de hoje a parceria antecipada para ações que serão desencadeadas com mais ênfase a partir de primeiro de janeiro, quando Luciano Cartaxo (PV) tiver desocupado a cadeira de gestor do município. De certo modo, durante a campanha eleitoral concluída, o candidato Cícero e o governador Azevêdo procuraram afinar o discurso acerca de medidas e ações que se impunham, prevendo, inclusive, a possibilidade de agravamento do pico de incidência da epidemia.
Trabalharam, ambos, sintonizados permanentemente com os números oficiais em poder da Secretaria de Saúde do Estado e de outras informações liberadas por diferentes órgãos, para poder dispor de acompanhamento minucioso da escala de contaminação da Covid-19. Ao governo do Estado, particularmente, interessava de perto o monitoramento da situação para detectar as oscilações ou os sintomas de agravamento da credibilidade. Afinal, desde a eclosão da epidemia, houve oportunidades em que as restrições de isolamento ou distanciamento social tiveram que ser flexibilizadas, de modo a permitir fôlego ao comércio e a outras atividades produtivas que reclamavam autorização de funcionamento sob pena de verificar-se o colapso generalizado, colocando em risco a sobrevivência de famílias atingidas pelo desemprego, pela fome e pelo corolário de consequências. O Estado da Paraíba, como vários outros Estados do país, oscilou no compasso do abre-e-fecha, condicionado aos indicadores em poder das autoridades a respeito do pico da doença.
Não foi somente a atividade comercial propriamente dita que enfrentou espasmos proporcionais à escalada do coronavírus. Estabelecimentos de ensino, de turismo, eventos e lazer, manifestações artísticas e culturais – não houve segmento vivo da sociedade que não se tornasse refém de regras rigorosas, com isto afetando-se o pleno desenvolvimento dessas múltiplas atividades e, em paralelo, gerando-se prejuízos incalculáveis para a própria arrecadação geral do Estado. A muito custo e, mediante um planejamento espartano seguido à risca, a administração do governador João Azevêdo assegurou o cenário de equilíbrio financeiro e fiscal da Paraíba, ajustando os controles da máquina de modo a não haver atraso no pagamento da folha de salários dos servidores, nem tampouco existir comprometimento no limite prudencial das despesas de custeio do Estado. Esse esforço inaudito que foi empreendido com a colaboração de técnicos, secretários e outros auxiliares da administração possibilitou a manutenção do equilíbrio e evitou o indesejável quadro caótico que os mais pessimistas chegaram a prognosticar.
Há uma expectativa favorável a um entrosamento mais estreito, de antemão, entre o governador João Azevêdo e o prefeito eleito Cícero Lucena do que o que tem sido registrado até o momento entre a administração de Azevêdo e a gestão empalmada por Luciano Cartaxo (PV), que está se despedindo de oito anos de atuação na Capital paraibana. Não houve, necessariamente, conflitos de maior monta entre os governos de Azevêdo e Cartaxo, a ponto de originar impasses insolúveis que talvez tivessem que ser dirimidos, de forma arrastada e desgastante, pelo Poder Judiciário. Houve divergências pontuais, localizadas, em determinados momentos da evolução da pandemia, como houve críticas à condução dos planos de contingenciamento concebidos para fazer frente à calamidade da Covid-19. Mas quando a situação ameaçou descambar para ruptura mais séria que, decerto, prejudicaria diretamente a população paraibana, os gestores ou executivos tiveram o bom senso ou a acuidade de recuar, até como estratégia para não serem responsabilizados pelo imponderável.
Mesmo no papel de candidato a prefeito de João Pessoa, o vitorioso Cícero Lucena deixou evidente, em debates de que participou ou em intervenções que formulou no seu Guia Eleitoral, que não estava motivado a recorrer à adoção do chamado “lockdown”, ou seja, o fechamento total das atividades econômicas, sociais e produtivas em geral. Sempre condicionou uma medida extrema dessa natureza a uma conjuntura de grave anormalidade, sobre a qual não pairasse qualquer dúvida sobre a única alternativa a ser tomada para fazer frente a situações-limite, aquelas nas quais os homens públicos são testados pelos obstáculos que enfrentam e, simultaneamente, pela capacidade proativa de equacioná-los. Mas, em regra, o prefeito eleito de João Pessoa não se mostrou intransigente ou inflexível quanto à discussão de soluções emergenciais ditadas pela evolução dos cenários.
Foi a experiência de Cícero Lucena, que governou a Capital paraibana em duas oportunidades e não deixou de estar a braços com desafios de grande monta, o fator decisivo que influenciou a sua vitória e, por via de consequência, a ascensão pela terceira vez ao comando do Paço Municipal. Se a diferença entre Cícero Lucena e Nilvan Ferreira (MDB) no segundo turno não chegou a ser tão acachapante como cogitada por analistas, foi indicativa o bastante da opção feita pela maioria dos pessoenses sobre quem deve conduzir o desafio do pós-pandemia, como se espera para os primeiros meses de 2021. A circunstância do bom entrosamento com o governo do Estado somente reforça as credenciais de Lucena para entrar positivamente na História numa quadra particularmente difícil como a que é enfrentada em todo o mundo.