Nonato Guedes
Recém-saído de uma eleição municipal em que pôde exibir um resultado razoável, atraindo meia centena de prefeitos para a sua base de apoio e números expressivos de vereadores e vice-prefeitos, o governador João Azevêdo (Cidadania) está cacifado naturalmente para concorrer à reeleição ao Executivo Estadual em 2022, mas tem consciência de que há um longo caminho pela frente a percorrer, testando a solidez de alianças firmadas em 2020 ou investindo em realinhamentos lá na frente. A logística política-eleitoral estará condicionada, naturalmente, ao desempenho administrativo – e, nesse sentido, Azevêdo atuou, em pleno ano eleitoral, para assegurar recursos e projetos de repercussão como o Projeto Turístico do Cabo Branco. Em declarações, ontem, à TV Correio, o chefe do Executivo admitiu que trabalha em torno do cenário de 2022 com base no “pragmatismo”.
Uma questão pendente ou indefinida diz respeito ao desdobramento, ou não, da aliança do Cidadania com o Partido Progressista, que resultou em 2020 na vitória da chapa Cícero Lucena-Léo Bezerra na Capital paraibana em segundo turno. O PP persegue uma linha política autonomista no Estado, que passa por posição crítica e até mesmo independência em relação ao governo Azevêdo. Isto tem sido vocalizado por figuras de destaque como a senadora Daniella Ribeiro, que sempre frequenta bolsa de especulações como alternativa para disputar o governo em 2022. Azevêdo não é infenso a aprofundar diálogo com o PP do “clã” Ribeiro, mas é atento aos sinais que emanam de lá e que não necessariamente coincidem em termos de prosseguimento de aliança eleitoral. Enquanto essas questões não se acomodam de forma natural, a prioridade do governador será cumprir o compromisso assumido em praça pública este ano – o de trabalhar em sintonia com o prefeito Cícero Lucena para fazer João Pessoa vencer a pandemia do coronavírus, prioridade principal, e alavancar programas que estão vinculados à reativação da plenitude das atividades econômicas, virando a página das interrupções no setor produtivo que agravaram o desemprego e o desenvolvimento em geral.
As eleições municipais deste ano sinalizaram, por assim dizer, a estreia do governador João Azevêdo como líder de um agrupamento político respeitável na realidade paraibana. Até então, ele era caudatário da liderança personalista do antecessor Ricardo Coutinho, nas hostes do PSB. E sua carta de alforria em relação ao comando de Ricardo e às suas imposições partidárias deu-se no episódio da “intervenção manu militari” na Executiva Estadual do Partido Socialista, que era presidida por Edivaldo Rosas, que se compôs com a liderança de João. Ricardo concebeu estratégia ára minar todos os espaços que pudessem vir a ser ocupados por Azevêdo na conjuntura local, dando de barato que ele estava politicamente perdido e que não teria perspectiva pela frente. A surpresa de Ricardo foi tamanha, sem sombra de dúvidas, quando ele pressentiu que Azevêdo, em tempo recorde, logrou formar ajuntamento que lhe daria respaldo político, inclusive, com vistas à criação de um partido que se tornou força ativa no xadrez tupiniquim.
Em paralelo, o governador João Azevêdo conseguiu a proeza de livrar-se da tutela de Ricardo no exato momento em que este se encaminhava para o inferno astral, a partir da eclosão de denúncias gravíssimas de envolvimento do ex-governador na Operação Calvário, apontado pelo Ministério Público como mentor de uma organização criminosa especializada em desviar recursos da Saúde e Educação no Estado, no período em que esteve governador, em conluio com organizações sociais que gerenciavam setores essenciais da administração pública. O distanciamento de Ricardo possibilitou a Azevêdo liderar um esquema emergente no cenário político, mesmo que recrutando remanescentes das hostes ricardistas, misturados com líderes de outros partidos desgarrados de maior vinculação com chefias políticas. O apoio à candidatura de Cícero Lucena a prefeito de João Pessoa inseriu-se no contexto da estratégia pragmática que Azevêdo começou a perseguir, mirando em 2022. Vale repetir: o desdobramento da aliança continua uma incógnita, mas o triunfo nas urnas foi uma resposta espetacular que Azevêdo pôde saborear em sua primeira investida politicamente à frente da máquina do Estado.
Para fechar o “firo”, Azevêdo comemorou a derrota humilhante sofrida pelo antecessor Ricardo Coutinho na corrida por uma prefeitura que ele chegou a exercer por duas vezes e que lhe serviu de passaporte para ascender ao Palácio da Redenção. Profundamente desgastado em termos éticos e morais e politicamente isolado, Ricardo Coutinho viu frustrada a sua expectativa de polarizar em posição privilegiada ou confortável a disputa pela prefeitura da Capital paraibana em 2020. À custa de muita chantagem emocional ainda conseguiu sensibilizar o ex-presidente Lula, do PT, a declarar simpatia por seu nome, embora o PT tivesse candidato próprio em João Pessoa, através do deputado Anísio Maia. Mas, Lula, de resto, estava tão desgastado quanto Ricardo – o resultado é que as urnas exprimiram um abraço de afogados entre os dois. Em tese, dois prefeitos que daqui a pouco serão “ex” já se anunciam candidatos ao governo em 2022 – Luciano Cartaxo, derrotado em João Pessoa, e Romero Rodrigues, vitorioso em Campina Grande. A fila vai andar e o número de postulantes engrossar. De sua parte, Azevêdo sabe que tem lugar garantido na disputa futura – e dependendo de fatores extraordinários poderá surpreender novamente, como surpreendeu em 2018, sendo eleito em primeiro turno ao Palácio da Redenção. A conferir!