Nonato Guedes
Apesar de insinuações envolvendo desde já seu posicionamento político com relação às eleições de 2022 a governador da Paraíba, o prefeito eleito de João Pessoa, Cícero Lucena (PP), não demonstra a menor preocupação em tratar deste assunto de forma precipitada, antes mesmo de se investir no mandato que recém-conquistou nas urnas em segundo turno. As especulações procuram situar atitude de Lucena diante da candidatura do governador João Azevêdo (Cidadania) à reeleição. O governador apoiou abertamente a candidatura de Cícero e inseriu o Cidadania, seu novo partido, na coligação com o PP, fornecendo o nome do vereador Léo Bezerra, que dividirá parcelas de poder com o prefeito a partir de primeiro de janeiro.
O PP, agrupamento que tem expoentes de um mesmo “clã” da dimensão da senadora Daniella Ribeiro, do deputado federal Aguinaldo Ribeiro e do ex-deputado Enivaldo, apostou fichas na campanha de Cícero e saiu com um troféu no colégio eleitoral mais importante do Estado, onde, até então, não detinha influência mais significativa. A base política principal do “clã” que comanda o PP no Estado, vale lembrar, é Campina Grande, onde o partido também saiu vitorioso nas eleições municipais, com o filho da senadora Daniella, Lucas, eleito vice-prefeito na chapa encabeçada pelo ex-deputado Bruno Cunha Lima (PSD). Mas, se Cícero tem hoje aproximação com o governador João Azevêdo, os Ribeiro não mantêm a mesma relação de empatia. A própria campanha eleitoral em João Pessoa este ano não focou um possível desdobramento de aliança em 2022, com presumível apoio à reeleição de João Azevêdo. De resto, Cidadania e PP praticamente montaram palanques em forma de “compartimentos estanques” na campanha da Capital, unindo-se excepcionalmente, por força das circunstâncias do calendário de eventos políticos.
Nota-se que Cícero, em decorrência da sua ressurreição política, tem lealdades divididas atualmente, entre o PP da senadora Daniella, que o acolheu quando estava praticamente marginalizado pelo PSDB do ex-senador Cássio Cunha Lima, e o Cidadania do governador João Azevêdo, que, estrategicamente, o adotou como candidato, não somente por causa da sua experiência testada como prefeito de João Pessoa, mas, também, por simbolizar nas urnas o anti-Ricardo Coutinho (PSB), mais do que o próprio deputado federal Ruy Carneiro, que tentou se apresentar como tal e logrou abiscoitar o terceiro lugar no páreo, por um triz não indo ao segundo turno contra Cícero, no lugar de Nilvan Ferreira (MDB), que acabou sendo catapultado pelo eleitorado. Se Cícero, até pelo estilo largo, não teve dificuldade para se reaproximar de Azevêdo, já o grupo Ribeiro não tem desenvoltura na relação com o chefe do Executivo estadual.
E, para completar o intrincado xadrez político que emergiu das urnas de 2020, em Campina Grande o PP de Daniella formou com o partido do prefeito em fim de mandato Romero Rodrigues, presidente estadual do PSD e candidato declarado ao governo do Estado em 2022, ocupando um espaço que teoricamente ainda poderia ser empalmado por um legítimo Cunha Lima. Romero é visceralmente contrário ao governo João Azevêdo, acompanhando a linha programática adotada pelo ex-senador Cássio, que ainda hoje não distingue o chefe do Executivo de plantão da figura do antecessor Ricardo Coutinho, este derrotado de forma humilhante na tentativa de voltar este ano a ocupar a prefeitura de João Pessoa e, ao mesmo tempo, figura proeminente da desgastante Operação Calvário, que, como consta dos anais, desbaratou um esquema de desvio de recursos públicos nas áreas da Saúde e da Educação do Estado, em conluio com organizações sociais criminosas. Romero, inclusive, marcou passagem por João Pessoa no segundo turno para declarar voto em Nilvan, tido por ele como candidato de renovação, embora inexista maior afinidade entre eles. A intenção, mesmo, de Rodrigues, foi a de fustigar Cícero e, por tabela, o governador João Azevêdo, o que não surtiu efeito do ponto de vista de dividendos eleitorais, até por não ser Romero afeiçoado ao eleitorado pessoense.
Seja como for, mesmo admitindo que as questões associadas à pauta de 2022 estão colocadas na mesa desde agora, no rescaldo das eleições municipais, interlocutores e aliados fiéis do prefeito eleito Cícero Lucena defendem que ele não deve meter-se em discussões sobre tratativas para as eleições de 2022. Avaliam como estratégia mais correta que o foco do prefeito eleito da Capital deve ser no enfrentamento dos desafios que serão deixados pelos oito anos da Era Luciano Cartaxo, incluindo-se o gerenciamento da grave crise (sanitária e econômica) pós-pandemia do novo coronavírus. E lembram, apropriadamente, que, para Cícero, é extremamente fundamental na fase que ele vai dirigir a parceria com o governo do Estado, superando-se as lacunas que, infelizmente, ficaram abertas na mediação com a gestão de Luciano Cartaxo, por óbvias divergências políticas. O futuro, concluem esses interlocutores, deve ser pensado e tratado por Cícero na data certa. Ou seja: no futuro propriamente dito. .