Nonato Guedes
Faltando poucos dias para terminar o ano de 2020, é grande a expectativa junto a setores da sociedade paraibana quanto ao deslanche do governo João Azevêdo em termos de obras de impacto, principalmente na área de infraestrutura e no incremento à economia do Estado a partir de 2021. O deslanche da administração estadual seria uma concertação em conjunto com grande número de prefeitos recém-eleitos em municípios de diferentes regiões que compõem o mapa da Paraíba, a partir de João Pessoa, onde o vitorioso foi Cícero Lucena, do PP, e Campina Grande, com a ascensão de Bruno Cunha Lima, do PSD, que decidiu a parada em primeiro turno, tendo como vice Lucas Ribeiro, do PP.
Aliás, a perspectiva de superação de divergências políticas-partidárias já está refletida no anúncio de audiência, sexta-feira, entre o governador João Azevêdo (Cidadania) e Bruno Cunha Lima, preliminarmente para discussão de estratégias relacionadas ao enfrentamento à Covid, podendo a pauta, no entanto, tornar-se abrangente com a sondagem sobre parcerias em áreas estratégicas onde seja possível o entrosamento Estado-município. O anúncio dessa audiência é essencial para balizar postura republicana concreta da parte do chefe do Executivo estadual na relação com municípios, da mesma forma como a gestão estadual procura destravar canais com o governo do presidente Jair Bolsonaro em Brasília, colocando os interesses da Paraíba como prioritários na agenda administrativa. Em nenhum momento há registro de atitude de retaliação ou discriminação por parte do governador quanto a prefeitos que estão concluindo mandatos e que se alinham com outros grupos políticos. Mas em certos casos poderia ter havido avanço maior no diálogo entre Azevêdo e gestores municipais. Ontem, o governador já esteve reunido, em Palácio, com o prefeito eleito de João Pessoa, Cícero Lucena, que teve seu apoio decisivo na última campanha.
No que diz respeito ao processo de desenvolvimento econômico e social do Estado propriamente dito, é curial reconhecer que foi turvado a partir de 2019 não por razões políticas-partidárias mas como consequência da eclosão da pandemia do coronavírus, que deslocou a ordem de atenção ou prioridade dos governos em todo o mundo. O enfrentamento à pandemia passou a consumir remanejamentos ou deslocamentos de recursos públicos, impondo “orçamentos de guerra” ou “orçamentos de emergência”. Os efeitos colaterais da pandemia sobre as atividades produtivas em geral alcançaram proporções gigantescas, inimagináveis, agravando o desemprego e provocando queda nas receitas, tanto do Estado como dos municípios, bem como na destinação constitucional de recursos.
Para falar a verdade, praticamente não houve tempo para planejar ações administrativas de rotina ou inovações administrativas de repercussão econômica e social porque, a todo instante, o poder público era desafiado afocar nas medidas que foram compondo um novo painel na conjuntura brasileira, ditadas pela adaptação aos efeitos da epidemia de covid-19. João Azevêdo, que está concluindo o segundo ano do primeiro mandato, entrincheirou-se na adoção de medidas de Saúde Pública, visando a manter sob controle a rede hospitalar e evitar que a Paraíba mergulhasse em colapso. Essa visão, aliada à sensibilidade política do governador para o grave momento que lhe coube empalmar no Executivo, seguramente salvou vidas e contribuiu para manter a o Estado num quadro razoável dentro das condições de temperatura e pressão ocasionadas pela intensidade da calamidade que se abateu sobre o mundo.
Até aqui, o governador João Azevêdo tem sido como um “soldado da guerra contra a Covid”, o que não o diferenciou como agente público porque, na verdade, nessa guerra, governantes e governados são todos soldados da batalha, nivelando-se nas obrigações cidadãs para manter a Paraíba a salvo de tempestades maiores ou de complicações insolúveis para a população como um todo. Lançado à política na campanha de 2018 e tendo sido vencedor no primeiro turno, Azevêdo sonhava com a perspectiva natural de se apresentar à população paraibana com seu recorte próprio de governante, criando marca própria, inconfundível, até como tática para se credenciar a embates políticos futuros e levando-se em conta que ele teve que romper laços com esquema que já não o absorvia, talvez diante da firme atitude autonomista que ousou demonstrar em relação à tutela do ex-governador Ricardo Coutinho (PSB), que se situou como “o Criador” no processo que forjou nóvel liderança política no Estado. O sonho de Azevêdo ficou, de certa forma, embaçado pelas tenazes da conjuntura social enfrentada.
Ainda assim, é possível afirmar que o governador logrou ser aprovado no primeiro teste eleitoral que enfrentou já no exercício do Palácio da Redenção, ao contabilizar vitórias importantes de aliados da sua base política nas eleições para prefeito, tendo triunfado, inclusive, em João Pessoa, numa bem sucedida parceria com o PP, que habilmente atraiu para suas hostes o ex-prefeito Cícero Lucena, de volta ao Paço Municipal a partir de janeiro. Na média do mapa eleitoral do Estado em 2020, o esquema de Azevêdo conquistou cacife que vai lhe reforçar na empreitada de 2022, quando o chefe do Executivo tentará sua reeleição. A própria derrota, em João Pessoa, como candidato a prefeito, do ex-governador Ricardo Coutinho, é um trunfo que Azevêdo exibe, por vias oblíquas, como embrião do seu próprio projeto de consolidação da liderança no panorama paraibano. Falta, então, o deslanche da gestão.