Nonato Guedes
Mais explícito, impossível. O prefeito eleito de Campina Grande, Bruno Cunha Lima (PSD), após audiência, ontem, com o governador João Azevêdo (Cidadania) no Palácio da Redenção, foi didático ao informar que discutiu políticas públicas, de interesse da coletividade, e que em nenhum momento esteve em pauta a questão política-partidária. A ênfase com que Bruno, vencedor das eleições em primeiro turno na Rainha da Borborema, sublinhou sua postura, foi encarada nos meios políticos como sinalização da sua independência em relação ao chefe do Executivo estadual. Foi, também, uma forma de mostrar contraponto ao prefeito eleito de João Pessoa, Cícero Lucena (PP), que foi eleito em segundo turno na Capital com o apoio do esquema político do governador João Azevêdo.
O vice-prefeito eleito na chapa de Bruno é Lucas Ribeiro, filho da senadora Daniella, uma das lideranças expressivas do PP. O Partido Progressistas é presidido no Estado por Enivaldo Ribeiro, que está concluindo passagem como vice-prefeito de Campina e na semana passada apontou “ruídos de comunicação” entre o prefeito eleito Bruno Cunha Lima e o PP, apelando que fosse respeitada a força demonstrada pela agremiação na recente campanha eleitoral. Enivaldo teve o cuidado de deixar claro que o PP respeita a autonomia de Bruno nas decisões administrativas, mas gostaria de ser ouvido diante da perspectiva de um ciclo colaborativo novo a partir de janeiro de 2021. Bruno, ao que se diz, é muito cioso do seu espaço. Isto ficou claro, ontem, em João Pessoa, quando demarcou território em discurso perante o governador João Azevêdo, mantendo a lhaneza e o respeito de praxe.
Na verdade, Bruno já chega à prefeitura de Campina Grande comprometido com a pré-candidatura do prefeito Romero Rodrigues, que conclui segundo mandato no Palácio do Bispo, ao governo do Estado em 2022. Além da afinidade partidária, o prefeito eleito de Campina comunga do projeto político representado por Romero, que se mantém articulado com o ex-senador Cássio Cunha Lima (PSDB) mas com brilho próprio. Aliás, Romero foi feito coordenador da campanha eleitoral de 2020 em Campina Grande com a anuência plena do ex-senador Cássio, que nele reconheceu credenciais legítimas para conduzir o processo, por estar em jogo a sua própria sucessão. Na constelação de adversários derrotados no primeiro turno por Bruno, com o reforço do esquema de Romero, figurou a doutora Ana Cláudia, esposa do senador Veneziano Vital do Rêgo, além do deputado estadual Inácio Falcão, do PCdoB, que firmou aliança com o MDB.
Os “clãs” liderados por Romero Rodrigues e Cunha Lima em Campina Grande fazem oposição radical ao ex-governador Ricardo Coutinho (PSB) e entendem que o governador João Azevêdo, embora tenha anunciado rompimento político com o antecessor, seria um suposto prolongamento do perfil político de RC, ultimamente às voltas com processos da Operação Calvário versando sobre desvio de recursos públicos da Saúde e Educação. Seja como for, a audiência em Palácio, ontem, serviu para Bruno externar perante a Paraíba o seu posicionamento na atual conjuntura, resumido nesta definição: “parceria com independência”. Isso afasta cogitações de provável ou suposto alinhamento político com o esquema do governador João Azevêdo em quaisquer embates que venham a ser travados de agora em diante.
Bruno confirmou que a pauta principal do encontro com o governador João Azevêdo acabou sendo a adoção de estratégias conjuntas entre o governo do Estado e a prefeitura de Campina Grande para enfrentamento à epidemia do coronavírus. Além de falar sobre o pré-projeto de vacinação que entregou ao Ministério da Saúde em Brasília no início da semana, Bruno levantou alguns temas como a padronização de protocolos no atendimento aos pacientes internados com Covid-19, com base na experiência que Campina Grande adquiriu e nos métodos desenvolvidos por profissionais da cidade, que durante todo o período de pandemia fizeram com que Campina “tivesse os melhores resultados no salvamento de vidas e no combate ao novo coronavírus, a exemplo do uso da VNI (ventilação não invasiva) em pacientes de enfermaria, sem necessidade de evolução de pacientes menos graves para leitos de UTI, liberando-se, assim, os leitos disponíveis para pacientes mais graves”.
O prefeito eleito de Campina Grande é taxativo no arremate: “É importante frisar que o debate político-partidário tem seu espaço mas ele precisa ser deixado de lado quando se trata do interesse público. O que está em jogo é muito maior que as nossas diferenças políticas: a vida das pessoas. Por isso, precisamos evitar a proliferação do vírus e, sobretudo, garantir atendimento médico precoce e de qualidade para todos aqueles que forem contaminados”. Bruno foi ao Palácio dizer ao governador João Azevêdo que Campina merece atenção não apenas pela sua importância estratégica no Estado e no Nordeste, mas porque se revelou eficaz e proativa no oferecimento de bons exemplos para salvar vidas na conjuntura de calamidade que está sendo vivenciada.