Nonato Guedes
Os partidos de oposição e figuras de destaque no cenário nacional que contestam o governo e o presidente Jair Bolsonaro terminam o ano de 2020 batendo cabeça sobre o melhor nome e a estratégia mais apropriada, ou eficaz, para derrotar o capitão na sua tentativa de conquistar a reeleição em 2022. Sim, o páreo ainda está razoavelmente distante e até lá é imensa a agenda de desafios ou obstáculos que o presidente terá que vencer para se credenciar a concorrer a um segundo mandato. Mas isto não impediu Bolsonaro, bem ao seu estilo, de praticamente deflagrar com antecedência a campanha à própria sucessão, insinuando planos de voltar a disputar o Planalto e arrotando bravatas contra potencia concorrentes.
Há dois fatores latentes que atrapalham uma estratégia consistente, fulminante, da oposição, para encurralar Bolsonaro: o divisionismo das forças que a integram, motivado tanto por divergências ideológicas como por fogueira de vaidades pessoais e a ausência de uma estratégia infalível para infligir ao capitão uma derrota impactante nas urnas. O personalismo entre os adversários do dirigente máximo da Nação é patente.
Governadores como João Doria (PSDB-SP) e Flávio Dino (PCdoB-MA) apenas se toleram em nome da necessidade de enfraquecer o inimigo comum, que é o presidente da República. Luiz Inácio Lula da Silva (PT), novamente gozando as benesses da liberdade e Ciro Gomes, do PDT, dificilmente chegarão a um acordo, inclusive porque a premissa para tanto – o despojamento quanto a candidaturas – não prevalece. Lula, que tem sido bafejado por decisões judiciais favoráveis, deixando para trás a estiagem de 580 dias na carceragem da Polícia Federal em Curitiba movimenta-se para estar apto, em tempo hábil, a voltar a pleitear o Planalto. Não há força sobre humana capaz de demovê-lo da ambição de ser o candidato – e cabe registrar que, pessoalmente, o ex-metalúrgico está convicto de que leva a melhor sobre Bolsonaro em 2022.
Os prognósticos firmados a dados de hoje fundam-se muito mais em expectativas, desejos e outros argumentos surrealistas, do que em fatos palpáveis, concretos, indicadores de tendências do eleitorado com tanta antecedência. Claro que há pesquisas no mercado detectando aumento da reprovação ao governo do presidente Jair Bolsonaro – e também é certo que o capitão joga todas as fichas na eleição do futuro presidente da Câmara Federal como trampolim indispensável para reforçar seu cacife na campanha à reeleição a presidente da República. Não foi por outro motivo que o staff de Bolsonaro manejou os cordéis na área jurídica e logrou obter do Supremo Tribunal Federal um veto à tentativa de candidatura à reeleição por parte de Rodrigo Maia ao comando da Câmara. Desde então, considera que o terreno está pavimentado para o triunfo de um candidato, digamos, bolsonarista – embora tenha crescido como pão-de-ló nas últimas horas uma tal frente oposicionista contra o “candidato de Bolsonaro”, que é aparentemente Arthur Lira, do PP-AL.
A definição da sucessão, tanto na Câmara quanto à cadeira ocupada por Rodrigo Maia, e ao Senado, com o cargo enfeixado por Davi Alcolumbre, deverá se ferir até fevereiro de 2021, o que explica a articulação intensa de bastidores em Brasília entre lideranças políticas e dirigentes partidários. O que se diz é que do resultado das eleições nas duas Casas dependerão cenários para a eleição presidencial de 2022. O que está em jogo, no embate ora desencadeado, é o controle da agenda do Congresso Nacional, que na Câmara Rodrigo Maia tem exercido com mão de ferro. Bolsonaro quer avançar por essa agenda para fazer decolarem projetos que interessam ao governo e que, colateralmente, podem somar de forma positiva para uma campanha à reeleição à presidência da República. A oposição luta para manter o Congresso a salvo de qualquer interferência do Planalto – ou seja, com autonomia plena e independência em relação aos humores oscilantes do capitão.
Na constelação oposicionista que tenta se formar para 2022, pulula mesmo uma miríade de nomes de possíveis pré-candidatos, valendo incluir neste rol o ex-ministro Sérgio Moro, que saiu do Palácio do Planalto atirando e rompido com o presidente Bolsonaro, o apresentador de televisão Luciano Huck, da Rede Globo de Televisão, e o ex-sindicalista Guilherme Boulos, que recém-disputou a prefeitura de São Paulo e, mesmo não logrando vitoriar, teve desempenho marcante conforme o consenso. Ainda faltam definições de outros partidos e de segmentos que têm interesse em influenciar na sucessão presidencial. A oposição não constitui um bloco monolítico – pelo contrário, ela se divide entre os expoentes de esquerda e centro-esquerda e os arautos da direita e da centro-direita, como reflexo das mudanças operadas na conjuntura nacional.
“Bolsonaro não está morto”, apregoam os seus discípulos mais radicais. A avaliação está correta – as próprias pesquisas sobre aprovação/desaprovação do presidente e do governo oscilam à proporção que eclodem os pacotes de bondades ou de maldades patrocinados pelo ocupante atual do Palácio do Planalto. Isto significa que o capitão tem capilaridade e margem de manobra para assumir um dos polos da disputa presidencial de 2022. Mas também é certo que ele vem se enfraquecendo e que a própria máquina que pilota dá sinais de fadiga. São pontos negativos para quem se acha predestinado a continuar em alto estilo no poder de mandi nacional.