Nonato Guedes
O prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues (PSD), que encerra quinta-feira um período de oito anos à frente dos destinos da Rainha da Borborema, planeja tirar férias de pelo menos dez dias após entregar o cargo ao sucessor Bruno Cunha Lima e, a partir de então, calçar as sandálias da humildade e mergulhar, com dois anos de antecedência, no projeto que mais ambiciona: ser candidato a governador em 2022. Em entrevista, ontem, a uma emissora de rádio da Capital, ele revelou que cogita deflagrar peregrinação por diversas regiões do Estado, a fim de massificar, nas localidades do interior, sua imagem política para se credenciar à corrida ao Palácio da Redenção. Seguirá um itinerário que já foi percorrido por outros ex-prefeitos de cidades importantes, como Ronaldo Cunha Lima e Cássio Cunha Lima (Campina Grande) e Ricardo Coutinho (João Pessoa), que ascenderam à chefia do Executivo estadual.
Em princípio, o maior adversário de Romero Rodrigues será o atual governador João Azevêdo (Cidadania), que postulará a reeleição em 2022, depois de sair fortalecido das eleições municipais deste ano e ter neutralizado a influência política do antecessor Ricardo Coutinho, de quem era aliado. Romero sabe que terá dificuldades pela frente, por não dispor de máquina administrativa para lhe dar respaldo nem, na largada, do apoio de uma estrutura partidária mais consistente. Também não detém o carisma de Ronaldo Cunha Lima, que em 1990 venceu no segundo turno, dois anos após ter deixado a prefeitura de Campina Grande, que ocupou por seis anos, beneficiado que foi pela prorrogação de mandatos. Rodrigues fia-se, porém, no portfólio de realizações como gestor de Campina Grande, algumas de impacto, como a entrega do complexo habitacional “Aluízio Campos”. Também espera tirar proveito da dobradinha que pretende fazer com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), candidato à reeleição ao Palácio do Planalto.
O ainda prefeito de Campina Grande diz que continua mantendo excelente relacionamento com o presidente da República e acredita que Bolsonaro, que não teve influência maior nas eleições municipais deste ano, será cabo eleitoral cortejado em 2022, colhendo resultados derivados da retomada de atividades comerciais e da aposta na retomada de empregos – dois pontos crucialmente vulneráveis para governantes em 2020 como consequência da pandemia do novo coronavírus, que exigiu prioridade absoluta do governo federal no enfrentamento à calamidade em duas frentes: a preservação de vidas e medidas de alento para suprir a crise econômica. Em termos de legado pessoal, Romero conta a seu favor com a audácia que pautou sua administração de dois mandatos em Campina Grande, sendo reconhecidamente infatigável no empenho pelas demandas associadas ao crescimento da segunda cidade do Estado e de uma das mais destacadas localidades da região Nordeste. O inventário de obras que ele deixa é seu cartão de apresentação para quem não o conhece.
A massificação de imagem de Romero passa, necessariamente, por João Pessoa, que continua sendo o “tambor” dos acontecimentos políticos da Paraíba – e é fora de dúvidas que o prefeito que se despede do Palácio do Bispo em Campina vai estar mais presente na Capital, marcando ponto na Assembleia Legislativa e dialogando com segmentos representativos da sociedade pessoense para condensar formas de intervenção do governo do Estado nos desafios de uma metrópole em contínuo estágio de crescimento ou expansão. Um problema que ele vai enfrentar é a dificuldade de união de partidos em torno de sua candidatura, quer seja no primeiro turno, quer seja durante toda a campanha. Está aberto ao diálogo com quase todos – do ainda prefeito Luciano Cartaxo (PV), que quer a mesma cadeira desejada por Romero ao MDB do senador José Maranhão, passando pelo PP da senadora Daniella Ribeiro e, naturalmente, pelo PSDB do deputado federal Ruy Carneiro, do ex-senador Cássio Cunha Lima e do deputado federal Pedro Cunha Lima.
Quanto ao MDB, uma aliança com Romero se complicará ainda mais caso o senador Veneziano Vital do Rêgo (sem partido) ingresse na legenda, reencontrando-se com suas origens. Embora tenha perdido a eleição para prefeito de Campina, com a candidatura da mulher, Ana Cláudia, Veneziano tem influência política indiscutível no Estado, sendo pule de dez para disputar também o governo. O PP da senadora Daniella tem posição ambígua na conjuntura paraibana: está aliado a Romero na vice-prefeitura, agora e na gestão de Bruno Cunha Lima, mas em João Pessoa coligou-se com o governador João Azevêdo, somando forças para a vitória de Cícero Lucena em segundo turno. Ressalte-se que a própria senadora Daniella tem cacife para uma eventual candidatura ao governo, como parte da vertiginosa ascensão que vem experimentando no cenário político local. As definições sobre essas questões ficarão mesmo para o futuro. Haverá tempo para costuras – até mesmo, talvez, para rompimentos e desalinhamentos inesperados.
Por último, Romero poderá contar com um concorrente em potencial na própria órbita – o deputado Pedro Cunha Lima, filho de Cássio, que já anunciou a intenção de disputar o governo do Estado. Isto reforça a constatação de que não será fácil a caminhada de Romero para tentar chegar ao Palácio da Redenção – muito pelo contrário, será espinhosa, árdua até demais, pela quantidade de dificuldades a remover. Mas ele parece confiante e obstinado. Além disso, terá que ser realista diante dos acontecimentos. O primeiro passo – o de testar suas chances virtuais, está correto. Resta saber se Romero conseguirá passar com louvor no paredão que se ergue diante da ambição de subir na hierarquia de poder.