Nonato Guedes
Em todo o Brasil, 5.475 prefeitos começaram, ontem, dia primeiro de janeiro de 2021, mandato de quatro anos em Capitais e cidades das mais diferentes regiões e Estados. Outros 95 ainda aguardam decisão da Justiça, pois tiveram candidaturas indeferidas – nessa hipótese, a posse foi dada a presidentes de câmaras municipais. Em matéria para o site “Congresso em Foco”, Thaís Rodrigues aponta o perfil dos administradores empossados, incluindo os reeleitos: homem, branco, casado, com ensino superior completo e idade entre 50 e 54 anos. Eles herdaram, também, crises – a sanitária, com a pandemia de coronavírus e a econômica, com fechamento de postos de trabalho, paralisação de atividades econômicas e reinvenção, por parte da sociedade, dos mecanismos de sobrevivência numa conjuntura tão dramática como a de agora.
Realizadas num contexto totalmente inusitado e adverso, as eleições municipais de 2020 se desenrolaram no auge da pandemia do coronavírus em todo o território nacional. As disputas ideológicas, como revela o texto de Thaís Rodrigues, consolidaram um mapa político que infligiu ao Partido dos Trabalhadores a maior derrota da legenda desde a redemocratização –o petismo não conquistou a prefeitura de nenhuma das 26 capitais estaduais, ao passo que partidos de centro e centro-direita foram os que elegeram mais gestores. Em comum entre os eleitos por todas as legendas, um cenário nada promissor, com a pandemia de covid-19 e dificuldades orçamentárias. Há, também, penduricalhos de monta, como heranças malditas deixadas por antecessores. No Rio, o novo prefeito Eduardo Paes (DEM) anunciou devassa da gestão de Marcelo Crivella (Republicanos), desabafando que nunca houve, na história da capital fluminense, um legado tão maldito como o que foi encontrado. No apagar das luzes da administração, inclusive, Crivella chegou a ser preso e afastado do cargo por envolvimento em processos de irregularidades administrativas.
A sigla que obteve o maior número de prefeituras foi o MDB, com 14,31% (783). Em seguida aparecem o PP, com 12,57% (688) e o PSD, com 11,93% (653). No entanto, o número de municípios não expressa exatamente o contingente populacional que cada legenda irá governar. Em 2021, o PSDB vai liderar o maior número de brasileiros, e isso se deu, também, devido à reeleição de Bruno Covas em São Paulo, município mais populoso do país, com 12,3 milhões de habitantes. Em outras cidades onde os tucanos levaram a disputa vivem cerca de 34 milhões de pessoas. Logo em seguida vem o MDB, DEM, PSD, PP e PDT, todos com mais de dez milhões de habitantes nos municípios comandados. Em relação a gênero, o Brasil tem 651 mulheres em prefeituras, 12% do total, enquanto os homens são 4811, ou seja, 87,91%. A discrepância de gênero na eleição de 2020 demonstrou que as mulheres, apesar de serem maioria da população (52%) e do eleitorado, continuam sub-representadas nas câmaras municipais.
Pretos e pardos constituem 32,1% dos prefeitos no Brasil, segundo o Tribunal Superior Eleitoral. Um pequeno avanço em comparação com 2016, quando foram 29,5%. Ainda assim os negros continuarão sub-representados, a considerar que são 56% da população em geral. Apesar disso, revela a matéria do “Congresso em Foco”, os frutos de esforços coletivos proporcionaram tanto ganhos quantitativos quanto políticos. A orientação para que recursos dos partidos sejam distribuídos proporcionalmente entre brancos e as demais raças colaborou para que as instituições buscassem mais pluralidade racial. Alguns nomes já saíram das urnas como boas promessas políticas. Também há oito prefeitos indígenas e vinte e um prefeitos que se declaram amarelos, isto é, de origem asiática. A faixa etária preponderante dos prefeitos que assumiram é de 50 a 54 anos, contabilizando 908 pessoas, ou 16,59% do total. Em 2016, apenas dez (1,5%) tinham idade entre 25 e 29 anos.
Neste quesito, percebe-se um grande aumento da juventude na política. Em 2021 serão 117 cargos ocupados por homens e mulheres entre 21 e 29 anos. No outro extremo, há apenas quatro prefeitos com idade entre 85 e 99 anos. O mais velho, com 95 anos, é o empresário José Braz, do PP, que venceu a disputa em Muriaé, Minas Gerais. Os mais jovens possuem 21 anos, idade mínima para o registro de candidatura. São eles: Bárbara Teixeira (PP), única mulher concorrente em Serrinha dos Pintos (RN), eleita com 100% dos votos, Fernando Cavalcanti (MDB), eleito com 54,52% em Matriz de Camaragibe (AL), Julinho Tomazela (PSDB), com 37,54% em Conchas (SP), Paulo Henrique (PP), que recebeu 51,01% dos votos em Pedra Preta (RN) e Ricardo Maia (PSD), com 49,27% em Tucano (BA). Nas eleições, a ocupação predominantemente declarada foi a de prefeito, com 24,84%, ou seja, 1.359 pessoas. Em seguida estão empresário, agricultor e advogado. Este cenário se modificou um pouco em comparação com o anterior, onde as profissões mais cotadas foram prefeito, empresário, comerciante e médico.
Por fim, vale o registro, o Brasil elegeu mais de 1,1 mil milionários para as prefeituras. Entre eles está Airton Garcia (PSL), o prefeito mais rico do país, que vai comandar o município de São Carlos, em São Paulo. Segundo o TSE, ele declarou um total de R$ 440.1 milhões em bens. Airton é empresário, casado, tem 71 anos e assume o segundo mandato, ao ser reeleito com 48,88% dos votos válidos. Nas capitais, o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD) lidera o ranking. O empresário declarou à Justiça quase R$ 3,7 milhões em patrimônio. Ele foi reeleito com 63,3% dos votos. Cinthia Ribeiro (PSDB), prefeita reeleita de Palmas (TO), vem em seguida com patrimônio de R$ 2,2 milhões. Álvaro Costa Dias (MDB), prefeito reeleito de Natal (RN), é o terceiro colocado. Declarou ter R$ 1,9 milhão.