O capitão Jair Bolsonaro é o presidente da República que mais falou em rede nacional de rádio e TV em dois anos de mandato desde a redemocratização do Brasil em 1985, com o fim da ditadura militar. Desde que ascendeu ao Palácio do Planalto, Bolsonaro fez 12 pronunciamentos à nação. Foram sete vezes somente em 2020. Desses, seis foram discursos relacionados à crise do novo coronavírus, epidemia sobre a qual o mandatário chegou a manifestar postura negacionista e até irônica em declarações a jornalistas e apoiadores. Atrás de Bolsonaro, na cronologia dos pronunciamentos no período comparado estão os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (10), Dilma Rousseff (9) e Michel Temer (6).
O levantamento foi realizado pelo site “Poder360” com base em dados fornecidos pelo Palácio do Planalto. Somados todos os pronunciamentos de Bolsonaro até aqui, o militar reformado teve um espaço de 42 minutos e 23 segundos para falar à população. Dos 12 pronunciamentos do presidente, seis foram alvos de panelaço (manifestação de protesto) em diversas capitais e outras cidades. O primeiro panelaço foi em 23 de agosto de 2019, quando o mandatário falou sobre a crise da Amazônia, que, à época, enfrentava intensas queimadas que alcançaram repercussão internacional negativa. Os atos foram registrados em pelo menos 7 Estados: Rio de Janeiro, Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Bahia, Rio Grande do Sul, Pernambuco, além do Distrito Federal.
No dia 24 de março, a fala do presidente foi novamente alvo de panelaços em várias cidades quando Bolsonaro fez pronunciamento contra medidas de distanciamento social adotadas nos Estados pelos governadores. Antes, os atos já vinham ocorrendo contra o presidente. Foram organizados protestos em 17, 18 e 19 de março. Em novo pronunciamento sobre a pandemia de covid-19, em 31 de março, também teve panelaço contra o presidente, o que se repetiu a 8 de abril. Em 7 de setembro de 2020, houve atos no mesmo horário do pronunciamento em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Salvador e Recife. Críticos do governo pediram a saída de Bolsonaro.
O último pronunciamento do presidente, realizado ao lado da primeira-dama Michelle Bolsonaro, na noite da véspera de Natal, 24 de dezembro, igualmente provocou atos em algumas capitais, como Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo. Em sua fala, Bolsonaro agradeceu aos profissionais de saúde pelo trabalho durante a pandemia do coronavírus. Também falou sobre medidas adotadas pelo governo como o pagamento do auxílio emergencial ao longo do ano e disse que “não faltaram recursos para todos os Estados e municípios no combate ao coronavírus”. Em seu primeiro pronunciamento, em 20 de fevereiro de 2019, Bolsonaro falou em defesa da reforma da Previdência que, conforme ele, seria “justa para todos”. No Dia do Trabalho, em primeiro de maio do mesmo ano, o presidente evitou falar sobre o desemprego que, na época, atingiu 13,4 milhões de brasileiros. Citou a medida provisória de liberdade econômica. No quinto pronunciamento, a 24 de dezembro de 2019, fez breve balanço do primeiro ano de mandato à frente do Palácio do Planalto. Garantiu que o governo encerrava 2019 “sem nenhuma denúncia de corrupção”.