Nonato Guedes
O jovem Diego Tavares, filho do ex-vice-prefeito de João Pessoa Reginaldo Tavares, concluiu passagem de pouco mais de 90 dias pelo Senado, no exercício do mandato da senadora Daniella Ribeiro (PP), passando, agora, a assumir a secretaria de Gestão Governamental, para a qual foi nomeado pelo prefeito Cícero Lucena. Apesar do pouco tempo de atuação em Brasília e das restrições impostas pela epidemia de coronavírus, Diego conseguiu projetar-se nacionalmente, liderando a bancada do seu partido, o Progressistas, participando de comissões importantes, apresentando e aprovando projetos de relevância que ganharam destaque na mídia. Como coroamento simbólico da primeira passagem pelo Senado, Diego chegou a presidir por instantes a sessão do Congresso Nacional, por ocasião da apreciação do orçamento de 2021 do governo federal, no final de dezembro do ano passado.
Essa ascensão de Diego no cenário nacional faz lembrar a trajetória pujante do seu tio, Edme Tavares, que o inspirou no mister da vida pública. Natural de Cajazeiras, Edme, que faleceu em 2015 em Brasília aos 78 anos, tinha vocação inata para a vida pública, tendo sido deputado estadual, secretário de Estado já no governo João Agripino, na década de 60 e deputado federal por duas legislaturas, de 1983 a 1990. Sua especialidade era carrear benefícios para a Paraíba, em especial para municípios onde concentrava sua atuação. Filiou-se a partidos como Arena, PDS e PFL, mas pairou acima de questões ideológicas e conquistou trânsito privilegiado entre correntes da própria esquerda. Edme era um político com acentuada sensibilidade social, daí abraçar com ênfase causas e reivindicações de interesse do Nordeste.
Entre inúmeras conquistas para Cajazeiras e o Sertão, destacou-se a Escola Técnica Federal na cidade de Cajazeiras, depois convertida em Instituto Técnico. A obra foi fruto de incansável peregrinação de Edme Tavares por gabinetes e escalões do poder em Brasília e ele tomou o empreendimento como a grande bandeira de sua militância parlamentar. Na Câmara Federal, ocupou postos de dimensão na Mesa Diretora e, por ocasião da Assembleia Nacional Constituinte, que legou ao país a “Constituição Cidadã”, no dizer do ilustre deputado Ulysses Guimarães, chegou a presidir a Comissão de Ordem Social, endossando propostas focadas no interesse dos trabalhadores. Edme era conhecido pela assiduidade em gabinetes de ministros como Mário Andreazza, do Interior, com o qual tinha prestígio reconhecido pelos colegas de Parlamento e por outras lideranças do Estado.
Cheguei a trabalhar por meses no seu gabinete, em Brasília, quando fui requisitado à Universidade Federal da Paraíba, onde tinha lotação. Constatei, de perto, o dínamo político que era o deputado Edme Tavares, com sua dedicação integral à pauta dos problemas de interesse da Paraíba e, ao mesmo tempo, sua receptividade na acolhida a paraibanos que chegavam a Brasília para encaminhar pleitos os mais variados possíveis. Edme era infatigável no múnus parlamentar – não havia, dentro da bancada federal paraibana, alguém com tamanha desenvoltura e habilidade para demandar assuntos urgentes e equacionar aspirações. Para além das questões específicas da Paraíba, tinha um olhar diferenciado sobre a região Nordeste, e, nesse ponto, não deixou de pontuar em discursos as desigualdades e carências da população do semi-árido, ao mesmo tempo em que exortava governantes a serem mais solidários com os pleitos legítimos.
Praticamente já no final de sua carreira política, ele não logrou se reeleger deputado federal em 1990. Fora vítima de injustiça do eleitorado ou de erro de cálculo quanto às novas regras vigentes na conjuntura política, sujeita a oscilações e imprevisibilidades? Sempre tive parcimônia em tratar dessa questão diretamente com ele – e aprofundar um debate seria amplificar frustrações, o que entendi não me ser pertinente, por questões pessoais. É preciso contar, porém, um episódio que mostra a dimensão de Edme como homem público: em 90, mesmo ciente das dificuldades para se reeleger, manteve o compromisso de apoio à candidatura de Wilson Braga ao governo, derrotada em segundo turno por Ronaldo Cunha Lima. A ex-deputada Lúcia Braga pedia votos à Câmara em redutos de Edme, mas ele não passou recibo. Pelo contrário, recusou proposta que outros teriam considerado, mesmo à custa de incompreensões: a de ser candidato a vice na chapa encabeçada por Ronaldo Cunha Lima. A sondagem foi feita pelo senador Humberto Lucena, que reconhecia em Edme qualidades de equilíbrio, moderação e espírito público. O vice de Ronaldo, afinal eleito, acabou sendo Cícero Lucena, que agora acolhe Diego como secretário da terceira gestão à frente da prefeitura da capital.
Diego Tavares demonstrou, ao aproveitar a oportunidade que lhe foi concedida de ascender à titularidade como senador, que é um vocacionado para a política, tal como se revelou o tio, Edme Tavares, sem que este tenha alçado postos maiores, sobretudo no Executivo. O jovem que foi secretário da gestão Luciano Cartaxo e por este preterido na escolha de candidatura a prefeito da Capital, descortina espaços valiosos pela frente na vida pública, na Paraíba. Não é uma aspiração inócua ou inviável, se forem analisados os passos que Diego empreendeu até agora, inclusive sendo aprovado com louvor no salto de obstáculos já colocados no meio do seu caminho. É quadro de valor que vai se forjando numa realidade onde certas lideranças já vão perdendo espaço dentro da alternância natural de valores e da qualificação de pessoas que têm uma contribuição efetivamente significativa a oferecer ao processo da vida pública no Estado.