A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) resolveu avançar nos debates internos em relação ao pedido de impeachment do presidente Jair Bolsonaro por crimes de responsabilidade. O presidente da entidade, Felipe Santa Cruz, informou que vai pautar o tema no Conselho Federal do órgão, integrado por 81 membros. O colunista Lauro Jardim, de “O Globo”, reproduziu a fala de Santa Cruz a respeito: “Parece que os projetos políticos do presidente se aproximam perigosamente da construção de um quadro de ruptura. Assim, vou dar ao andamento ao debate sobre o impedimento do senhor presidente por crimes de responsabilidade, em especial durante a pandemia de coronavírus”.
Desde o início da pandemia, o posicionamento da OAB era o de esperar o controle do avanço da Covid-19 para voltar a discutir o afastamento do presidente. No entanto, após as últimas declarações feitas por Bolsonaro sobre o coronavírus e suas aparições públicas sem máscaras de proteção, além de estimular aglomerações, os conselheiros e o presidente da entidade resolveram mudar de posição. Uma pesquisa do PoderData apontou nas últimas horas que a reprovação de Bolsonaro junto à opinião pública é a mais alta em série histórica de levantamentos. Houve uma queda abrupta na aprovação entre dezembro e janeiro. Avalia-se que após ligeira melhora em fins de 2020, a imagem do presidente despencou no início de 2021 e atingiu índices recordes. Os números foram divulgados pelo portal Poder360, ontem.
A desaprovação passou de 46% em 21-23 de dezembro para de 52% na primeira semana de janeiro. A aprovação caiu de 47% para 44%, enquanto 4% não sabem avaliar o desempenho do governo e do presidente. Novamente, a reprovação maior é na região Nordeste, entre mulheres e entre pessoas com renda de 5 a 10 salários mínimos. A avaliação da atuação do presidente também piorou. Ruim/Péssimo chegou a 44%, enquanto o Bom/Ótimo caiu de 39% para 35%. E 18% consideraram Regular o governo. Na avaliação do Poder Data, a indefinição sobre a vacinação e o fim do auxílio emergencial podem ter impactado no julgamento sobre o presidente da República. A pesquisa entrevistou 2.500 pessoas através de ligações telefônicas realizadas entre os dias 4 e 6 de janeiro.
Um estudo do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) divulgado também ontem mostrou que cerca de 2,95 milhões de domicílios brasileiros sobreviveram, em novembro, apenas com o auxílio emergencial de R$ 300. Ele foi pago a quem perdeu renda com a pandemia do novo coronavírus. O benefício foi instituído inicialmente com o valor de R$ 600. Em setembro, foi cortado pela metade pelo governo Jair Bolsonaro, sob alegação de que não havia recursos para mantê-lo naquele patamar. Foi encerrado em dezembro pelo governo federal. Mesmo representando 28% do salário mínimo vigente em novembro, o auxílio significou para 4,32% dos domicílios a única fonte de renda naquele mês. Outro dado revelado pelo Ipea dá conta de que 27,45% do total de domicílios do país permanecia sem nenhuma renda do trabalho efetiva em novembro. Além disso, o estudo constatou que no penúltimo mês do ano passado os rendimentos médios da população corresponderam a 93,7% da renda média habitual. Os trabalhadores por conta própria foram os mais atingidos – receberam 85,4% do habitual naquele mês. O estudo tem sido feito pelo Ipea para analisar os efeitos da pandemia de Covid-19 sobre o mercado de trabalho e o impacto do auxílio emergencial na renda dos brasileiros.