No transcurso, hoje, dos 134 anos de nascimento do ex-ministro José Américo de Almeida, a Fundação que leva o seu nome, presidida pelo jornalista e escritor Fernando Moura, inaugura a galeria “Gente de Casa”, em formato digital, que pode ser conferida pelo canal oficial da FCJA a partir deste domingo pelo canal oficial da FCJA, no Youtube, ou no site fcja.pb.gov.br. A primeira personalidade que integra o espaço virtual é a ex-secretária de José Américo, Maria de Lourdes Lemos de Luna, falecida em julho de 2018. A galeria será composta com pessoas que tiveram o privilégio do convívio do ilustre escritor e político paraibano, como informa a jornalista Fátima Farias, acrescentando: “O leitor poderá conferir o perfil da homenageada por meio do artigo assinado pelo jornalista Nonato Guedes, publicado no dia 31 de julho de 2018, no site “Os Guedes”, que foi gentilmente liberado pelo autor para publicação em nossas redes sociais. A direção da FCJA agradece”.
Sob o título “Lourdinha Luna: testemunha privilegiada da História”, Nonato Guedes escreveu:
“Maria de Lourdes Lemos de Luna, natural de Areia, a terra de José Américo de Almeida, confundiu-se com o próprio mito da literatura e da política. Durante quase duas décadas, na condição de secretária do ministro, no seu refúgio na orla marítima de João Pessoa, Lourdinha foi testemunha privilegiada de episódios marcantes que pontuaram a trajetória do “Solitário de Tambaú”. Com a sua morte, ontem, foi embora um pedaço valiosíssimo da história da Paraíba. No dizer do próprio José Américo de Almeida, Lourdinha era seus olhos e sua máquina de escrever, atenta vigilante do seu regime alimentar e bem estar pessoal. Também controlava a agenda de encontros, visitas e audiências com José Américo, que, conforme Severino Ramos, teve a solidão mais frequentada de que já se tivera notícia.
Ao perder o pai, João Júlio de Luna, aos cinco anos de idade, Lourdinha veio residir na capital do Estado em companhia da avó materna. Fez seus estudos primário e secundário no Colégio Nossa Senhora das Neves. Iniciou sua atividade funcional como secretária de seu conterrâneo, o escritor Horácio de Almeida. Posteriormente, a convite do deputado Jacob Frantz, passou a integrar o quadro de pessoal do Poder Legislativo como secretária de comissões técnicas. Em seguida, secretariou os deputados João Fernandes de Lima, Ivan Bichara Sobreira, Ramiro Fernandes e Pedro Gondim. Após a eleição deste último para o governo estadual, integrou o gabinete do secretário do Interior e Justiça, Sílvio Porto. Mais adiante, por determinação do governador Pedro Gondim, passou a dedicar a José Américo um dos expedientes que cumpria na Casa Civil. Empossado governador, João Agripino Filho liberou-a da função pública para que pudesse em tempo integral dar assistência a José Américo de Almeida, auxiliando-o na elaboração de suas memórias. Tornou-se secretária do Conselho Deliberativo da Fundação Casa de José Américo, criada pelo governador Tarcísio Burity, e que foi um sonho acalentado por Lourdinha desde 1967, quando José Américo alcançara a imortalidade acadêmica.
Nos livros que publicou, “Rastros na areia” e “Na varanda do Cabo Branco”, Lourdinha narrou fatos protagonizados pelo ícone José Américo. Como testemunha privilegiada de episódios marcantes, enfrentava apelos para contar esses episódios. Rendeu-se à cobrança, mas deu a impressão de que não contou tudo, fiel ao exame de sua própria consciência sobre o que seria possível contar, mas avançou bastante e satisfez a expectativa de muitos. Ao enveredar por eleições indiretas dos governadores da Paraíba, no período de 1971 a 1978, Lourdinha forneceu subsídios relevantes acerca do papel desempenhado em fase crucial da vida política paraibana. Esse desideratum tornou-se essencial para a autora, diante da variedade de achismos, entremeados de especulações, de versões desencontradas, algumas forjadas para acobertar interesses inconfessáveis. Lourdinha colocou-se na perspectiva de secretária e confidente, que ouviu e anotou detalhes para resgatá-los na sua inteireza.
Evitando a tentação das ilações pessoais, ateve-se a fatos e, ainda que não contando tudo, aprofundou o caleidoscópio de informações que matizaram processos históricos decisivos. Não se limitou na narrativa e traçou um painel das mutações da sociedade, perfazendo o elo cm o contexto em que se plasmou a biografia de José Américo de Almeida. É curioso que Lourdinha tenha falecido poucas horas depois do sepultamento de Biu Ramos, frequentador privilegiado do terraço de José Américo de Almeida. O que avulta (do livro Na varanda do Cabo Branco) é a imagem de José Américo de Almeida como um sábio, um profeta, um mediador, mas, acima de tudo, um homem de espírito público ímpar na constelação dos homens públicos forjados na acepção do significado. Política, para ele, era inquestionavelmente um sacerdócio e só teria sentido se fosse praticada para o bem comum. José Américo, pelo porte de estadista, não combinava com o figurino dos expoentes da política de campanário, tão em voga, ainda, infelizmente, e certamente nociva à evolução dos costumes em simetria com o culto a valores éticos que jamais podem ser traídos no juramento de servir ao povo”,