O jornalista Ruy Castro alvoroçou as redes sociais após sugerir, em sua coluna publicada na edição de ontem da “Folha de S. Paulo”, que os presidentes Donald Trump, dos EUA, e Jair Bolsonaro, se matem. Após o texto viralizar no Twitter, políticos bolsonaristas mobilizaram-se para atacá-lo. Sem perfil nas redes sociais, Castro disse ter tomado conhecimento da repercussão do seu texto após ser contatado pelo UOL. Para responder aos ataques, o jornalista parafraseou declarações de Bolsonaro durante a pandemia de covid-19: “Foi só uma sugestão para Trump e Bolsonaro, eles não precisam aceitar. E todos vamos morrer um dia, não? Além disso, não sou coveiro”, ironizou.
A coluna de Ruy Castro ganhou repercussão no Twitter após o também jornalista Ricardo Noblat, colunista da revista Veja, compartilhá-la em seu perfil, com 1,1 milhão de seguidores. O assunto se tornou um dos mais comentados entre os usuários brasileiros no domingo. O ministro da Justiça, André Mendonça, informou ter pedido a abertura de inquérito contra os dois jornalistas, pelo crime de incitação ao sicídio previsto no Código Penal. André Mendonça disse que “apenas pessoas irresponsáveis cometem esse crime contra chefes de Estado de duas grandes nações. Fazê-lo é um desrespeito à pessoa humana, à nação e ao povo de ambos os países, por isso requisitarei a abertura de inquérito policial para apurar ambas as condutas”. As penas de até dois anos de prisão poderão ser duplicadas, sem prejuízo da incidência de outros crimes.
Em nota, a Folha afirmou que, “como no caso de texto anterior de Hélio Schwartmsman, que teve inquérito aberto pelo mesmo ministro e depois suspenso pelo STJ, o colunista emitiu uma opinião; pode-se criticá-la, mas não investigá-la”. No texto, Castro, que biografou personagens históricos como Garrincha, Nelson Rodrigues e Carmen Miranda, fez um paralelo com a morte de Getúlio Vargas e disse que Donald Trump deveria segui-lo caso quisesse passar à história em um papel de herói. E recomendou que o presidente Bolsonaro fizesse o mesmo, dado seu hábito de seguir o que Trump faz. “Se Trump optar pelo suicídio, Bolsonaro deveria imitá-lo. Mas para que esperar pela derrota na eleição? Por que não fazer isso hoje, já, agora, neste momento? Para o bem do Brasil, nenhum minuto sem Bolsonaro será cedo demais”, escreveu.
Diversos políticos bolsonaristas, como o deputado federal Eduardo Bolsonaro, o ex-deputado Roberto Jefferson e os deputados federais Carlos Jordy e Daniel Silveira atacaram Castro e Noblat. Diante da repercussão, a revista Veja divulgou a seguinte nota sobre o episódio: “Veja repudia com veemência a declaração do colunista Ricardo Noblat, publicada em seu Twitter de que o presidente Jair Bolsonaro deveria “imitar” Donald Trump caso ele “opte pelo suicídio”. Não achamos que esse tipo de opinião contribua em nada para a análise política do país”. Noblat também publicou uma série de postagens no Twitter se defendendo. Ele disse que sua religião não permite que deseje a morte de ninguém e ressaltou que reproduz diariamente artigos que saem na imprensa e, em sua visão, irão ganhar repercussão. Ele encerrou com uma provocação: “Por fim: vida longa ao presidente Jair Bolsonaro para que ele possa colher o que plantou”. Esta é a segunda vez que Mendonça tenta responsabilizar Noblat por críticas a Bolsonaro. Em junho, ele pediu a abertura de inquérito com base na Lei de Segurança Nacional, criada na ditadura militar, tendo como alvos Noblat e o chargista Aroeira. A medida ocorreu após o jornalista reproduzir no Twitter uma charge de Aroeira em que Bolsonaro transformava uma cruz vermelha, que simboliza hospitais, em suástica.