Nonato Guedes
O retorno do senador Veneziano Vital do Rêgo ao MDB, oficializado ontem, reforça a bancada paraibana do partido na Casa, que passa a contar com dois integrantes (ele e José Maranhão, este licenciado para tratamento de Covid e, ao mesmo tempo, tonifica a agremiação na disputa pela presidência do Senado, ampliando o bloco que apoia a senadora Simone Tebet (MS) no pleito de primeiro de fevereiro. Em termos locais, Veneziano é um quadro valoroso que fortalece o MDB e contribui para motivá-lo a lutar pela reconquista de posição de destaque que havia perdido na conjuntura. Com a desfiliação de Veneziano do PSB, o partido comandado pelo ex-governador Ricardo Coutinho (derrotado nas eleições a prefeito de João Pessoa em 2020) perde o único representante que elegeu ao Senado em 2018 juntamente com o governador João Azevêdo, que debandou antes, ingressando no Cidadania.
Veneziano regressa ao MDB invocando postura de humildade. Anuncia disposição de ser um “efetivo colaborador” da legenda, mas, no íntimo, ele sabe que desembarca com honras devidas como reconhecimento ao carisma da sua liderança e à sua importância no contexto da realidade da Paraíba. O MDB, de certa forma, ao acolher o político, se redime de injustiças que cometeu com ele, negando-lhe espaços de crescimento e apoio a pretensões legítimas como a de se candidatar ao governo do Estado. O encontro de Veneziano com o Palácio da Redenção tem sido adiado por circunstâncias alheias à sua vontade, não por falta de ânimo. As preterições sofridas em investidas que ensaiou para ser candidato ao Executivo não o desencorajaram de perseguir o desideratum nem o abalaram a ponto de desvanecê-lo quanto a ambições legítimas. Em última análise, como obtemperou, ontem, o senador Confúcio Moura, de Rondônia, Veneziano “injeta jovialidade e modernidade ao partido”.
Na verdade, ele tem credenciais plenas para desencadear um processo, a nível nacional, que consista em varrer das entranhas do MDB o bolor que o reveste e que foi se enquistando à proporção que o partido bateu no teto do comodismo e condenou-se ao esvaziamento, em alguns casos ao quase esfacelamento, em antítese à trajetória de lutas memoráveis pela democracia, pela justiça social e pela autonomia do Brasil. Talvez o senador Dario Berger (SC) tenha se mirado nessa trajetória cambiante para enfatizar, como o fez, ontem, na recepção a Veneziano, que a chegada do paraibano “significa um novo tempo, um novo pensar e a reinvenção do partido”. Via de regra, legendas que vão adquirindo longevidade no cenário político são convocadas, ciclicamente, a se refundar, como se deu com o PSDB e o DEM, como tática de sobrevivência. Há quem resista, como o Partido dos Trabalhadores de Lula, que abomina ferozmente sequer a hipótese de autocrítica de erros cometidos, ainda que acumule derrotas sobre derrotas, como tem se verificado em pleitos distintos, quer de conotação estadual, regional ou municipal.
Veneziano foi prefeito de Campina Grande duas vezes pelo então PMDB e deputado federal. Em 2014, desistiu de lutar para ser candidato ao governo da Paraíba ao pressentir dificuldades dentro da legenda – papel que acabou sendo desempenhado pelo irmão, Vital do Rêgo, que depois de cumprir mandato senatorial atua, hoje, como ministro do Tribunal de Contas da União. Em 2014 o MDB perdeu a majoritária ao Executivo mas Maranhão foi premiado com a volta ao Senado. Em 2018, o partido foi derrotado na disputa pelo Palácio da Redenção com o próprio Maranhão; somente no ano passado, na disputa a prefeito da Capital, o MDB tornou-se competitivo com a ida de Nilvan Ferreira para o segundo turno. Ferreira perdeu por diferença apertada para Cícero Lucena, do PP.
O balanceamento das urnas nas eleições municipais de 2018, com sinalização de espaços para o MDB, animou o próprio Maranhão, levando-o a prognosticar perspectivas de retomada da trajetória vitoriosa. A costura para o retorno de Veneziano teve engajamento maciço de expoentes da cúpula nacional emedebista, com o sinal verde de Maranhão, um líder experiente, testado em variados embates, que já havia atraído Nilvan dentro da estratégia de oxigenação de quadros. Lamentavelmente, Maranhão está fora de combate desde o segundo turno das eleições municipais em João Pessoa, acometido pela Covid-19. As artimanhas do destino conspiraram para que Nilda Gondim, mãe de Veneziano e primeira suplente de Maranhão, assumisse, ontem, a titularidade do mandato por 120 dias, em meio à licença requerida pelo ex-governador, e que, ontem mesmo, o filho oficializasse o retorno à legenda onde militou.
“Assumo o mandato numa situação, infelizmente, adversa” – discursou Nilda Gondim, referindo-se, naturalmente, à internação de José Maranhão. Mas ela, com sabedoria, ressaltou o que chamou de situação indescritível: a emoção de se investir no mandato, para servir à Paraíba, quase ao mesmo tempo em que o filho Veneziano voltava ao partido em que a mãe permanece filiada e dedicada. No cruzamento de fatos aparentemente díspares ou contraditórios, os fados parecem estar agindo para devolver ao MDB um certo protagonismo, ainda que por algum tempo, já que a reposição de peças na engrenagem da História é irreversível. Por enquanto, o partido vive a sua hora mágica, dividido entre alegrias e sobressaltos mais do que justificados. É a vida!