Nonato Guedes
A deputada federal Luíza Erundina, paraibana, que representa São Paulo na Câmara, assinou nota de parlamentares do PSOL criticando um possível apoio à candidatura de Baleia Rossi (MDB) à presidência da Casa. O texto, que será submetido à direção nacional da legenda, sugere que ao invés de se compor com Baleia Rossi o PSOL promova lançamento de candidatura própria à sucessão de Rodrigo Maia (DEM-RJ). Juntamente com Erundina firmaram o documento os deputados Ivan Valente (SP), Glauber Braga (RJ), Talíria Petrone (RJ) e Áurea Carolina (RJ). Na eleição do ano passado, Erundina concorreu a vice-prefeita de São Paulo na chapa encabeçada por Guilherme Boulos, que perdeu para Bruno Covas (PSDB), reeleito.
No que diz respeito à sucessão no comando da Câmara dos Deputados, o PSOL, que tem dez deputados, está dividido exatamente ao meio em relação ao apoio ao candidato do MDB, Baleia Rossi, que concorre contra Arthur Lira (PP-AL), candidato patrocinado pelo Palácio do Planalto. Na nota, os deputados do PSOL concordam que a eventual vitória de Baleia, de fato, representará uma derrota do candidato do governo, mas avaliam que este apoio pode ser dado num segundo turno. Conforme eles, cabe à oposição apresentar um candidato com compromissos com pautas relevantes para a esquerda. Entre os pontos citados estão a prorrogação do auxílio emergencial, a proteção às empresas públicas sob ameaça de privatização, a revogação do teto de gastos e a abertura do processo de impeachment de Jair Bolsonaro.
O documento subscrito por Erundina ressalta que “diante de um momento tão dramático, com a pandemia dando sinais de resiliência graças ao negacionismo criminoso de Bolsonaro, acreditamos que não devemos abrir mão de apresentar bandeiras tão caras à nossa história, aderindo a uma frágil promessa de independência em relação ao Palácio do Planalto. Aqueles que sustentam a agenda ultraliberal de Paulo Guedes não merecem esse voto de confiança. É preciso dar voz e fisionomia à esquerda brasileira na disputa pela presidência da Câmara dos Deputados. Por essa razão, defendemos a construção de uma candidatura independente, com compromissos nítidos em favor do impeachment e do enfrentamento à crise, combatendo o bolsonarismo e o ultraliberalismo. Certamente, saberemos encontrar aliados nesta tarefa tão importante dentro da Câmara dos Deputados”.
Acrescenta, enfático, o texto: “Derrotar o candidato de Jair Bolsonaro é uma das tarefas indispensáveis desta eleição. Mas isto pode ser feito no segundo turno, optando por apoiar, em melhores condições para afirmar elementos de uma agenda de esquerda – o candidato que contra ele disputar. Arthur Lira não terá nenhum voto da bancada do PSOL, razão pela qual o argumento de que uma candidatura de esquerda ajudaria o candidato de Bolsonaro é falso. O compromisso do nosso partido, como tem sido até aqui, é com a democracia, a ampliação de direitos, a soberania nacional, as lutas dos setores historicamente oprimidos, o meio ambiente e um novo modelo econômico para o Brasil. Também a defesa da unidade da oposição, não obstante existam diferenças táticas, como demonstra este episódio, é objetivo permanente.
Os deputados do PSOL favoráveis à candidatura própria reconhecem como legítimas as posições em debate, na esquerda, sobre a tática para, ao mesmo tempo, derrotar Bolsonaro e fortalecer as propostas do segmento na disputa pela presidência da Câmara Federal. “O momento é grave e pede serenidade entre nós (…) Consideramos fundamental a apresentação no primeiro turno de uma candidatura de esquerda porque, sem isso, propostas que garantem direitos e incorporam temas como o impeachment de Jair Bolsonaro não serão empunhadas por nenhum dos postulantes que até aqui se apresentaram. Todos eles participaram, direta ou indiretamente, do golpe parlamentar que trouxe o Brasil à crise que vivemos e, portanto, não têm condições de assumir esses compromissos por serem adversários da mudança. Embora se portem de maneira distinta em relação ao governo Bolsonaro, todos são artífices do “Centrão” e defensores da agenda ultraliberal de desmonte do Estado e degradação sistêmica das políticas de proteção social.