Nonato Guedes
Coordenada pelo deputado Efraim Filho, do Democratas, a bancada federal paraibana na Câmara e no Senado está totalmente omissa em relação ao agravamento da crise sanitária do país, simbolizada pela falta de oxigênio e pelo aumento de óbitos no Amazonas como consequência do coronavírus. O tema que agita a sociedade brasileira como um todo é a necessidade de impeachment do presidente Jair Bolsonaro, que passou da postura negacionista em relação à Covid-19 para uma postura “genocida”, incorrendo em crime de responsabilidade, mas nenhum deputado federal ou senador da Paraíba dá um pio acerca do assunto. Nenhum parlamentar deste Estado é visto na linha de frente do noticiário da mídia que promove o debate dos prós e contras do processo de impeachment do capitão reformado, que descumpre a Lei, descumpre tudo, no país.
É estranho esse silêncio dos representantes do povo paraibano, o que reforça a impressão dominante sobre cumplicidade com as atrocidades cometidas pelo governo federal numa conjuntura extremamente grave, completamente adversa para o Brasil. Uma única voz com raízes na Paraíba tem se levantado, corajosamente: a da deputada federal Luíza Erundina, que, infelizmente, não foi eleita por este Estado, atuando, na verdade, como representante do povo de São Paulo e do PSOL. Partiu dela a exortação ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), em fim de gestão, para fazer o que já deveria ter feito há muito tempo e não fez: encaminhar o processo de impeachment do presidente. Maia está arrumando as gavetas para deixar a presidência da Casa, já que o Supremo Tribunal Federal não deu sinal verde para sua recondução. Em vez de agir, ele sentou em cima de mais de 50 pedidos de impeachment do capitão Bolsonaro. Fez ouvidos de mercador; ignorou a voz rouca das ruas, a pretexto de não contribuir para um impasse. Rodrigo tem sido covarde. Para Erundina, se não agir, ele passará à História como omisso ou conivente com os inúmeros crimes cometidos pelo presidente da República.
Fora a combativa Luíza Erundina, nenhum político ligado à Paraíba trata do impeachment, acompanhando a dinâmica que a sociedade vem imprimindo às discussões. O perfil “SOS Impeachment”, que existe desde 2019 e que atuava resgatando fatos políticos no Twitter, foi reinaugurado em versão atualizada, com a denominação “Placar do Impeachment”. Uma postagem da página, que não publicava nada desde maio de 2019, informou: “Este perfil, sempre tão preocupado com história, a partir de hoje vai atuar de outra forma. Por um só motivo: evitar que a história se repita. Veja nos próximos posts quem apoia o impeachment e quem prefere se calar diante das cenas mais tristes que o Brasil vive neste século”. Para compor o placar do Impeachment, o perfil monitora nas redes deputados que se posicionaram contra ou a favor do afastamento de Bolsonaro. O perfil vai sendo atualizado a cada novo posicionamento. O perfil também disponibiliza uma tabela com os nomes de todos os deputados federais, como se posicionam em relação ao impeachment e e-mails e telefones dos parlamentares para que a população faça a pressão.
Os responsáveis pelo monitoramento explicam: “Os dados do placar são fruto de um levantamento independente, considerando as redes sociais de todos os deputados federais. Os resultados levam em consideração quem se pronunciou diretamente a favor ou contra o impeachment nas redes sociais”””. Até a última atualização da página, às 17h30 de ontem, o placar estava assim: 78 votos a favor do impeachment contra 39 votos negativos. 396 deputados ainda não se pronunciaram sobre o tema. Bolsonaro desdenhou, ontem, mais uma vez. A José Luiz Datena, na Band, disse o seguinte: “Ficam falando em impeachment o tempo todo, 40 processos de impeachment… Rodrigo Maia, mostre o teor… Por que querem o meu impeachment?”. Rodrigo, mais uma vez, acovardou-se. “Eu acho que esse tema, de forma inevitável, será discutido pela Casa no futuro. Temos de focar no principal, que agora é salvar o maior número de vida”, tangenciou Rodrigo.
Enquanto o Placar do Impeachment ressurge e os parlamentares paraibanos passam, olimpicamente, à distância da tratativa, esses mesmos parlamentares participam, de forma ativa, com interesse invulgar, das manobras de bastidores em torno das eleições nas Mesas da Câmara Federal e do Senado. O Estado não conseguiu emplacar nenhum candidato ou candidata à presidência das respectivas Casas Legislativas, mas deputados e senadores reúnem-se com postulantes, barganham apoios, prospectam o futuro no Parlamento. Pelo menos três senadores estão licenciados do mandato, substituídos por suplentes, e somente eles, como titulares, terão direito a voto. Dos três, José Maranhão (MDB) está fora de combate porque tenta sobreviver dos efeitos da Covid, que o acometeu. No seu lugar está a suplente e ex-deputada Nilda Gondim. Veneziano Vital (MDB) e Daniella Ribeiro (PP) são substituídos por Ney Suassuna e Nailde Panta. Reassumirão a tempo de votar para as Mesas Diretoras.
Com o país sufocado, revoltado, indignado, é profundamente lamentável a postura de avestruz adotada por parlamentares paraibanos que estão no “front” em relação ao tema do impeachment do presidente da República. Não é bicho-papão – já houve dois processos na história recente no páís, alcançando Fernando Collor de Melo e Dilma Rousseff e nem por isso a democracia sucumbiu. Políticos como Antônio Mariz e Humberto Lucena, já falecidos, destacaram-se no caso de Collor, outros no impeachment de Dilma. A omissão de agora, em conjuntura pior, envolvendo o capitão reformado Jair Bolsonaro, poderá custar caro a políticos paraibanos que vendem uma imagem de altivez na Paraíba e se escondem em Brasília para fugir de tempestades…