Nonato Guedes
O presidente Jair Bolsonaro foi alvo de panelaços em diversas cidades na noite de ontem, como protesto pela crise sanitária no Amazonas, que enfrenta falta de oxigênio em hospitais e aumento do número de mortes e casos por covid-19. Relatos e vídeos publicados nas redes sociais mostram manifestações em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Fortaleza, Recife, Manaus, Goiânia e Porto Alegre. Em paralelo, partidos de oposição anunciaram que vão apresentar pedido de impeachment do presidente por causa do caos no Amazonas e o Ministério Público investigará a prioridade dada pelo governo ao uso de cloroquina e não ao oxigênio em Manaus.
Em São Paulo, o panelaço foi convocado por diversos agentes públicos em redes sociais, incluindo políticos e artistas, entre eles o apresentador Luciano Huck. Rival político de Bolsonaro, o governador paulista João Doria (PSDB) defendeu manifestações nas janelas e nas redes sociais. “Essa, aliás, mais uma das razões que interessam ao presidente Jair Bolsonaro de estender essa tristeza dramática da pandemia: sem povo na rua, quem protesta contra Bolsonaro? Mas há outras formas de fazer isso. As pessoas podem se manifestar nas janelas de suas casas”. Durante entrevista concedida ao apresentador José Luiz Datena, da Band, também ontem à tarde, Bolsonaro minimizou as manifestações. “Panelaço pra quê?”, questionou. Partidos de oposição ao governo federal divulgaram nota anunciando que o novo pedido de impeachment terá como fundamento a crise sanitária vivida no Amazonas.
O texto é assinado por representantes dos partidos Rede, PSB, PT, PCdoB e PDT. Para as siglas, Bolsonaro deve ser responsabilizado por deixar o Amazonas sem oxigênio e por ser contrário às medidas de distanciamento social, uso de máscaras e “difundir desinformação”. Um trecho da nota afirma: “Considerando a prática de crimes de responsabilidade em série, que resultaram na dor asfixiante do Amazonas e de milhares de famílias brasileiras, nossos partidos Rede, PSB, PT, PCdoB e PDT decidiram apresentar novo pedido de impeachment do presidente Jair Bolsonaro. O presidente da República deve ser política e criminalmente responsabilizado por deixar sem oxigênio o Amazonas, por sabotar pesquisas e campanhas de vacinação, por desincentivar o uso de máscaras e incentivar o uso de medicamentos ineficazes, por difundir desinformação, além de violar o pacto constitucional entre a União, Estados e Municípios”.
O texto pede reação do Congresso Nacional às ações do presidente e também pede que sejam adotadas ações para colaborar com o combate à pandemia de covid-19. “O Brasil está morrendo sufocado por este presidente. Basta! Já passou da hora de o Congresso Nacional, representando a nação, reafgir. Defendemos, também, que o Congresso volte a funcionar imediatamente para aprovar medidas que possam colaborar decisivamente para sanar os graves problemas que vitimam a população do Amazonas e de todo o Brasil?”. Assinam o documento Carlos Siqueira, presidente do PSB, Gleisi Hoffmann, presidente do PT, Luciana Santos, presidenter do PCdoB, Carlos Lupi, presidente do PDT, José Guimarães, líder da maioria na Câmara, Carlos Zaratini, líder da minoria no Congresso.
Enquanto isso, o ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal, deu 48 horas para que o governo federal apresente um plano detalhado das estratégias adotadas para lidar com a crise sanitária no Amazonas. Lewandowski também determinou que o governo promova, imediatamente, todas as ações ao seu alcance para debelar a seríssima crise sanitária instalada em Manaus. A determinação atende a um pedido feito pelos partidos PCdoB e PT “no que se refere especificamente à questão absolutamente inconstitucional vivenciada pela população do Amazonas, sobretudo da capital Manaus, quanto ao contágio pela covid-19”.