Nonato Guedes
A população paraibana acompanha com preocupação o quadro de saúde do senador e ex-governador José Maranhão (MDB), internado no Hospital Vila Nova Star, em São Paulo, há cerca de 50 dias, em tratamento de insuficiência respiratória devido à Covid-19. Maranhão, que tem 87 anos, permanece internado na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital, tendo sido sedado, em ventilação mecânica, recebendo suporte clínico e fisioterápico. A preocupação com sua saúde reflete o reconhecimento da Paraíba a um homem público que tem uma folha de serviços prestados ao longo de trajetória iniciada na década de 50, tendo como berço a região de Araruna, no Brejo paraibano. Maranhão foi deputado estadual, federal, vice-governador, governador por três vezes e está pela segunda vez no mandato de senador.
Comanda um partido que está em processo de reestruturação, com o retorno do senador Veneziano Vital do Rêgo, liderança de projeção a partir de Campina Grande, e que tem forte tradição no cenário político do Estado. O MDB tem protagonizado posições hegemônicas, alternadas com posições coadjuvantes, e às vezes atuado como fiel da balança em embates expressivos da crônica local. Na campanha eleitoral para prefeito, no ano passado, Maranhão conduziu o MDB ao segundo turno da disputa acirrada em João Pessoa, que contou com a participação de 14 postulantes. A estratégia adotada pelo líder emedebista consistiu, primeiro, em lançar candidato o radialista Nilvan Ferreira, que buscou se apresentar como “outsider” na política e cuja tática foi a de massificar a sua imagem, conhecida de grande parte do eleitorado por sua atuação em programas de rádio e TV. Por meio dessa candidatura, o MDB logrou voltar a ocupar espaços na Capital, um reduto importante que lhe prestigiou em outras campanhas, inclusive majoritárias estaduais.
O próprio José Maranhão chegou a se candidatar a prefeito de João Pessoa, tentando honrar a firma no principal colégio eleitoral do Estado. O lançamento da candidatura de Nilvan surpreendeu a muitos, diante da presunção de que o partido estava definhando inexoravelmente, sendo substituído na corrida de revezamento político por outras legendas e por outros líderes políticos. O esfacelamento do partido era palpável, com perda substancial de redutos em cidades estratégicas onde, antes, reinava, imponente, sobre outras agremiações. O PSDB do ex-senador Cássio Cunha Lima e o PSB do ex-governador Ricardo Coutinho dividiram o território político em oportunidades marcantes, praticamente isolando o MDB, que se esvaziou na representação na bancada federal e, também, na sua representação na Assembleia Legislativa.
A performance de Nilvan Ferreira na campanha de 2020 incentivou discípulos do senador José Maranhão a apostarem numa refundação do MDB em âmbito local, com oxigenação de quadros, um processo que tem sido lento nos últimos anos no seio da agremiação. O próprio senador Veneziano Vital, conforme registrado em coluna publicada em “Os Guedes”, demorou a ser absorvido como um líder emergente com energia e cacife para impulsionar o partido a outras batalhas que o aguardam no calendário político-eleitoral. A saída de Veneziano do MDB deveu-se a preterições que enfrentou em postulações legítimas, entre as quais a de concorrer ao próprio governo do Estado em outras oportunidades. Eleito em 2018 pelo PSB, logo ele identificou incompatibilidades no arraial socialista e, por via das dúvidas, mirou no regresso à antiga legenda. A articulação coincidiu com sinais emitidos pelo próprio Maranhão, antes de ser hospitalizado, quanto à perspectiva de renovação e até mesmo passagem de bastão no comando do partido.
Maranhão assumiu o governo do Estado, de forma efetiva, por ser vice de Antônio Mariz, no episódio da morte deste, em 1995, por complicações do câncer de cólon. Credenciou-se em termos administrativos com um governo de resultados e pela ênfase na pauta das questões sociais, alinhando-se com ideais de justiça e de solidariedade que foram preconizados por Mariz como indispensáveis para a evolução da sociedade paraibana. Nos primórdios da sua carreira política, Maranhão chegou a ter o mandato cassado pela ditadura militar por ser integrante de uma Frente Parlamentar Nacionalista comprometida com a defesa da soberania do Brasil. As posições altivas que sempre tomou, sem muito alarde, conferiram-lhe uma aura de respeito entre segmentos da sociedade paraibana, sem falar que Maranhão escapou, incólume, a quaisquer denúncias de corrupção, o que configurou atestado de seriedade com que tem se pautado na vida pública brasileira.
À frente do governo do Estado, foi obsessivo em fazer vigorar o lema que se atribuiu, o de que “Austeridade é Desenvolvimento”. Com isto, sintetizava a visão de um Estado enxuto, moderno e justo, no qual o combate ao desperdício e a prática espartana de gestão, centrada na austeridade, constituiriam eixos essenciais para impulsionar o processo de desenvolvimento que ficou estacionário por muito tempo na conjuntura paraibana. Maranhão é um homem público que cada vez mais é respeitado por gregos e troianos, dentro e fora da Paraíba. Que ele recupere sua saúde e que, dentro das limitações, possa ainda contribuir, no restante do mandato de senador, com os interesses do Estado e do país. A passagem de bastão é corolário natural do processo histórico em andamento.