Nonato Guedes
Numa decisão estrategicamente acertada, o MDB unificou o discurso dos candidatos a presidente da Câmara, Baleia Rossi, e do Senado, Simone Tebet, fazendo com que as bancadas nas duas Casas do Congresso atuem juntas a partir de agora. O gesto foi oficializado numa semana de sucessivas notícias ruins para o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que enfrentou sólida derrota na condução do Plano Nacional de Vacinação Contra a Covid-19. Em nota distribuída a propósito da unidade de ação, o MDB deixa claro que antevê perspectivas de reconquistar posições de protagonismo no cenário parlamentar, influindo, por via de consequência, na realidade de poder do país.
Baleia Rossi e Simone Tebet simbolizam expressões de uma nova Frente Democrática no país. A avaliação feita pelos candidatos é de que a derrota do Planalto na guerra das vacinas contra o governador de São Paulo, João Doria, o recibo passado pelo ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, o barulho das redes e das ruas, além dos “arroubos autoritários e machistas” de Bolsonaro, conspiraram para o surgimento de espaços de articulação e de intervenção no cenário institucional. A estratégia do MDB, inclusive, envolve segmentos da sociedade civil, de que foi exemplo a atitude do cantor e compositor Caetano Veloso, referência da esquerda no meio artístico, hipotecando apoio à candidatura de Baleia Rossi e descartando preferência pela candidatura da deputada federal Luíza Erundina, do PSOL.-SP.
Nas eleições municipais do ano passado, Caetano Veloso participou da campanha em São Paulo hipotecando solidariedade à chapa Guilherme Boulos-Luíza Erundina a prefeito e vice, ambos do PSOL, contra forças políticas de direita ou alinhadas com o governo do presidente Jair Bolsonaro. Agora, Caetano ressalta que o momento é de reforçar a candidatura de Baleia Rossi, do MDB, na Câmara Federal, para infligir mais uma derrota ao bolsonarismo. Em nota, o MDB explicou: “Simbolizando uma nova geração de líderes, Baleia e Simone estão propondo a construção de uma trincheira no Legislativo em defesa da democracia. Por mais que considerem a democracia brasileira forte o suficiente para conter eventuais radicais, como fez os Estados Unidos diante da invasão do Capitólio”.
A propósito: com a posse, hoje, de Joe Biden, na presidência dos Estados Unidos, e o fim da nefasta Era Trump, Jair Bolsonaro perde mais uma batalha no jogo de poder. Trump, com seu ímpeto autoritário e estilo falastrão, era inspirador não apenas do capitão reformado mas do seu núcleo familiar e do bloco mais próximo de ministros e assessores qualificados. Nunca o Brasil esteve tão submisso aos Estados Unidos como no período que aproximou as gestões de Donald Trump e Jair Bolsonaro. O presidente brasileiro engoliu até desfeitas e retaliações impostas pelo ex-mandatário americano contra a soberania do nosso país, num ajoelhamento que causou náuseas na diplomacia internacional. A expectativa, entre os analistas políticos, é de que o governo Joe Biden seja um obstáculo para ações antidemocráticas que o entorno de Bolsonaro volte a cortejar.
Quanto à ofensiva do MDB para avançar pelo controle das presidências do Senado e da Câmara Federal, a própria cúpula do partido deixa claro que “seria uma forma de resgatar o espírito do antigo MDB, que lutou bravamente durante os vinte anos de regime militar, até garantir a redemocratização do Brasil, sem precisar dar um único tiro”. Acrescenta que esse movimento já começou a desencadear uma onda de apoios da sociedade civil organizada. Simone Tebet, por exemplo, tem duas reuniões agendadas esta semana para ouvir diferentes segmentos da sociedade, e ficou acertado que a empresária Luiza Trajano e a economista Elena Landau deverão mediar a abertura do canal de diálogo com as mulheres de um modo geral e com o mercado financeiro. Apoios espontâneos também começaram, como o da presidente da Associação Brasileira das Mulheres de Carreira Jurídica Comissão Rio de Janeiro, Alessandra Moreira dos Santos, que divulgou carta conclamando a bancada do Rio de Janeiro a votar em Simone Tebet.
No Senado, o candidato adversário de Simone Tebet é o senador Rodrigo Pacheco, do DEM-MG, que, na opinião do MDB, canta vitória antes do tempo. “Enquanto isso – ressalta a nota do MDB – Simone Tebet mostra o que aprendeu com o pai Ramez Tebet, que presidiu o Senado entre 2001 e 2003. Suas conversas de bastidores têm rendido frutos e apoios que garantem sua competitividade na disputa. Marta Suplicy, por exemplo, não só declarou seu apoio a Simone Tebet como se dispôs a cabalar votos junto a antigos colegas de Senado. Definitivamente os ventos mudaram no Congresso Nacional. Pode-se dizer que Bolsonaro virou o maior cabo eleitoral dos candidatos independentes. Cada vez que ele abre a boca, Simone Tebet e Baleia Rossi conquistam novos votos”. Está assim, pontilhado de emoções, o cenário das eleições que movimentam o Congresso por envolver o comando de duas instituições importantes na quadra política-institucional que o país vive.