Nonato Guedes
O empresário Ney Robinson Suassuna, que há poucos dias anunciou propósito de não mais concorrer a mandatos políticos pela Paraíba, queimou o próprio filme quando esta semana, numa entrevista à TV Correio, estirou o dedo em sinal de deboche ao comentar o estado de saúde do senador José Maranhão (MDB), internado em São Paulo com complicações decorrentes da Covid-19. Maranhão e Ney foram aliados políticos no passado, na história política recente da Paraíba, quando fizeram dobradinha para governo do Estado e Senado. Romperam por divergências inconciliáveis, e Ney firmou outras parcerias, inclusive com o ex-governador Ricardo Coutinho, envolvido em processos da Operação Calvário.
Na eleição de 2018, o empresário integrou, como suplente, a chapa do candidato ao Senado Veneziano Vital do Rêgo, que concorreu pelo PSB, foi vitorioso e, nos últimos dias, oficializou seu retorno aos quadros do MDB. Na campanha eleitoral do ano passado, em que sua mulher, Ana Cláudia, foi candidata a prefeita de Campina Grande, ficando em segundo lugar, Venezino licenciou-se do Senado para ficar integrado à disputa e contribuir no planejamento e na estratégia apresentada ao eleitorado. Foi quando Ney ascendeu à titularidade, desta feita atuando em condições excepcionais, nas sessões remotas ditadas pela pandemia do novo coronavírus. A atuação de Suassuna está expirando, sua produção legislativa foi pífia e ele acabou ficando marcado pela atitude mal educada de tripudiar sobre a saúde de um ex-companheiro de jornadas políticas.
O empresário e sua assessoria chegaram a construir narrativa fantasiosa para descaracterizar o deboche implícito no gesto dele durante a entrevista ao jornalista Hermes de Luna. A família de Maranhão reagiu com vigor manifestando seu repúdio ao comportamento de Ney Suassuna e os diretórios estadual e municipal (de João Pessoa) do MDB reprovaram de forma enérgica o comportamento inusitado do parlamentar. A senadora Daniella Ribeiro, do PP, ficou solidária com Maranhão e seus familiares, e na mesma linha posicionaram-se líderes políticos e autoridades. O maior bombardeio contra Ney Suassuna veio, porém, das redes sociais, com internautas disparando mensagens de rejeição a ele e havendo, também, proliferação de #hastaghs formando um coro que pedia a volta imediata de Veneziano ao mandato, acompanhada do apelo para que Ney não assuma mais a titularidade da cadeira senatorial pela Paraíba.
Não faltaram, é claro, as insinuações requentadas de que Ney é “senador da Barra da Tijuca, não da Paraíba” e críticas à “sua falta de compromisso com a solução dos verdadeiros problemas da Paraíba”, um contraponto à imagem que a própria mídia, no passado, formou de Ney, a de um “trator” acostumado a derrubar obstáculos nos gabinetes ministeriais ou legislativos em Brasília para fazer valer pleitos de interesse do nosso Estado. (Numa dessas investidas, Ney meteu-se em cena rocambolesca, exibida ao país pelo Jornal Nacional da TV Globo, quando montou uma pirâmide de latas vazias em frente ao Palácio do Planalto para protestar contra a falta de apoio ao Estado no enfrentamento à calamidade da seca que castigava municípios do interior. A pirâmide de latas desabou – e, em termos concretos, não vieram os recursos reivindicados pelo senador em sua performance exótica no coração do poder no Distrito Federal).
Todo o espetáculo protagonizado pelo empresário Ney Suassuna colocou o senador Veneziano Vital do Rêgo em saia justa. Afinal, numa concertação de ironia dos fatos, a mãe de Veneziano, dona Nilda Gondim, assumiu há pouco a cadeira pertencente a José Maranhão, na qualidade de suplente. E o próprio Veneziano, que estava sem filiação partidária após desligar-se dos quadros do PSB por incompatibilidades, agilizou o seu retorno ao MDB, com perspectivas de prestígio e valorização, proporcionais à sua importância pelo mandato que exerce e pelo talento para a vida pública, como tem se sobressaído. Em 1998, Ney Suassuna foi eleito debaixo do slogan “O Senador do Zé”. Fazia questão de aparecer na companhia de José Maranhão, debruçado sobre papéis e projetos para “trabalhar pelo povo”. Os desaguisados da disputa política separaram os dois. Ney estava praticamente no ostracismo político quando foi reabilitado em 2018 para a cena, mas já alertou que não quer ser visto “de fraldão” desfilando pelos corredores do Senado.
O empresário, que deve à Paraíba sua carreira política, deve um pedido de desculpas à população paraibana pela grosseria cometida contra José Maranhão. Somente a partir daí é que poderá lutar para, pelo menos, fazer as pazes com a própria biografia!!!