Nonato Guedes
Não tem sido fácil para o governador da Paraíba, João Azevêdo (Cidadania), como, de resto, para gestores de outros Estados, manter-se incólume na situação de guerra que o país vive com o enfrentamento à pandemia do novo coronavírus. Pilotando um Estado dependente da boa vontade da União para encaminhar e agilizar demandas de urgência, Azevêdo paga o ônus, também, de não ser afinado politicamente com o presidente Jair Bolsonaro, a quem combateu na campanha eleitoral de 2018. Mas, surpreendendo analistas políticos, o chefe do Executivo paraibano consegue se mostrar proativo nas ações de socorro a vítimas da epidemia e, ao mesmo tempo, demonstrar equilíbrio no diálogo com o próprio governo federal. Pode-se dizer que, na Paraíba, há um certo controle da doença e, nesse contexto, merece pontos o trabalho do secretário de Saúde, Geraldo Medeiros, à frente da coordenação das ações emergenciais desde a deflagração da pandemia.
João Azevêdo optou, acertadamente, por manter distância das discussões políticas que têm permeado a conjuntura nacional tendo como pano de fundo a epidemia de Covid-19. Não se envolve nos embates que são travados entre o presidente Bolsonaro e seus aliados com governadores como o de São Paulo, João Doria, do PSDB. Da parte de Azevêdo há a percepção de que, por trás do confronto, está em jogo a sucessão presidencial no próximo ano, quando Bolsonaro tentará se reeleger e Doria tentará destroná-lo, juntamente com outros pretendentes que vão dar as caras quando evoluir o calendário. A Paraíba depende tanto do aval da Anvisa, subordinada ao Planalto, como da boa vontade do Instituto Butantan, ligado a Doria, para dispor de vacinas que atendam a grupos sociais prioritários, numa primeira fase, e a toda a população, na sequência. O “arranca-rabo” entre Doria e o presidente é briga de cachorro grande, o que recomenda afastamento, no mérito, por quem não tem fichas mais decisivas.
Graças à postura pragmática que resolveu adotar, o governador Azevêdo logrou possibilitar que a Paraíba fosse contemplada tanto com imunizantes de fabricação chinesa como com a vacina de Oxford, reduzindo os riscos de vulnerabilidade a que segmentos da população estão expostos. A distribuição das vacinas no Estado obedece ao cronograma do Ministério da Saúde e não discrimina municípios por causa de injunções políticas-partidárias. Nesse sentido, o governo estadual tem sido extremamente republicano. Aliás, ontem, em mensagem de vídeo, João Azevêdo afirmou que espera pacientemente a sua vez de ser imunizado e, em tom veemente, criticou a ação orquestrada dos inevitáveis “fura-filas”, entre os quais apadrinhados políticos que reproduzem costumes patéticos e francamente ultrapassados, além, obviamente, de serem reprováveis. O ponto alto da interveniência da gestão paraibana diz respeito ao rigoroso monitoramento da distribuição de vacinas, mediante planejamento estratégico que foi concebido previamente. Tem dado certo, até aqui.
A postura de liberalidade adotada pelo governador João Azevêdo facilita, igualmente, o seu bom trânsito no “Consórcio Nordeste”, que foi criado pelo conjunto dos gestores da região como alternativa a eventuais obstáculos que fossem gerados pelo governo federal como presumível retaliação a gestores majoritariamente adversários em termos de alinhamento político, especialmente nesta região. O “Consórcio Nordeste” tem avançado em inúmeras frentes, abrindo portas com o próprio governo da China e abrindo valiosos canais internacionais para equipar os Estados da região diante das emergências impostas pela situação perversa e atípica que está sendo vivenciada. Ninguém ignora que há um colapso na Saúde Pública nacional e a radiografia desse cenário está refletida no caos alarmante verificado em Manaus, onde a falta de leitos e de medicamentos somou-se à escassez de oxigênio, deixando sem ar pulmões de habitantes da Amazônia.
Não é infundada a versão, de uso corrente até nos círculos internacionais, de que o Brasil, infelizmente, não figura como exemplo de organização, planejamento e resultados eficazes para debelar o alastramento da pandemia de coronavírus. Faltou ao presidente Jair Bolsonaro firmeza ou segurança para assumir uma função que lhe parecia intrínseca – a de liderar a nação na guerra sanitária. A atuação do governo federal foi prejudicada pela postura negacionista que Bolsonaro fez questão de enfatizar em relação à gravidade da doença. Ou pela descoordenação no âmbito do próprio governo com relação a iniciativas de choque que precisavam ser tomadas em caráter de urgência urgentíssima. Vai-se combatendo a Covid aos trancos e barrancos. Poderia ser diferente – o próprio Brasil sempre foi exemplar na realização de campanhas de vacinação em massa. Mas é o que temos, nas condições de temperatura e pressão.
Quanto à Paraíba, além do governo Azevêdo cumprir o dever de casa, e do fato de o governador colocar-se na linha de frente em momentos decisivos como a articulação para chegada das vacinas e, na sequência, a execução do Plano de Imunização no Estado, ressalte-se a colaboração valiosa da Assembleia Legislativa, sob o comando do deputado Adriano Galdino. Mesmo operando via sessões remotas, para ajustar-se a medidas restritivas, a ALPB tem sido eficiente para dar ao governo estadual os instrumentos de que carece para comandar a assistência à população. É um aprendizado constante, inclusive para a sociedade. Mas a Paraíba vai se estabilizando, descontadas oscilações imprevisíveis, nas respostas à crise sanitária. Falta ao governador mostrar resultados do plano de recuperação econômica. Este, um desafio de consequências incalculáveis, com sequelas que podem durar décadas, infelizmente.