Nonato Guedes
Os partidários e aliados do ex-governador e ex-senador Cássio Cunha Lima (PSDB) sonham com sua volta ativa ao cenário político paraibano, disputando e ocupando mandatos políticos, mas ainda viverão tempos de suspense e indefinição porque não há, da parte dele, a mínima sinalização sobre retornar à atividade em posições de destaque. Desde a derrota nas eleições de 2018, quando tentou renovar o mandato no Senado e foi ultrapassado por concorrentes com maior fôlego, Cássio tem se mantido retraído no cenário. Marcou presença periférica nas eleições municipais para prefeito de Campina Grande no ano passado mas concordou com o protagonismo assumido pelo então gestor Romero Rodrigues, vitorioso com a eleição de Bruno Cunha Lima, do PSD, em primeiro turno. A ausência maior de Cássio é sentida no debate das grandes questões que agitam a Paraíba e o país, num momento em que ganha corpo o tema do impeachment do presidente da República, Jair Bolsonaro.
Nas ocasiões esporádicas em que se manifestou acerca de assuntos políticos, o filho do poeta Ronaldo Cunha Lima (in memoriam) comentou decisões judiciais referentes ao pleito de 2014 em que disputou o governo do Estado e foi proclamado derrotado para o candidato Ricardo Coutinho (PSB). A intervenção de Cássio foi no sentido de reclamar do “pronunciamento tardio” da Justiça Eleitoral, confirmando denúncias que ele suscitou em púlpitos diferentes sobre utilização da máquina administrativa em favor de Ricardo, que concorria à reeleição, e em desvantagem para ele, a esta altura rompido com Coutinho e seu adversário declarado. A demora da Justiça, em mais um caso traumático que o envolveu, inoculou em Cunha Lima uma certa sensação de desesperança quanto à eficiência de magistrados e tribunais e ao dever de reparar direitos teoricamente aniquilados ou subtraídos.
Entre analistas políticos paraibanos o que se diz é que as eleições gerais de 2022 serão um divisor de águas para o futuro político do ex-superintendente da Sudene e ex-prefeito de Campina Grande. Aparentemente Cássio não disputará o governo do Estado para não se confrontar com o correligionário Romero Rodrigues ou prejudicar o plano de voo que o ex-alcaide da Rainha da Borborema passou a traçar ainda quando se encontrava no comando da prefeitura. Também não deverá encarar disputa ao Senado porque, além de estar muito recente a sua derrota para o páreo, em 2022 estará em jogo uma única vaga, a que atualmente pertence a José Maranhão (MDB), que, por problemas de saúde, está sendo substituído pela suplente Nilda Gondim, mãe do senador Veneziano Vital, recém-retornado aos quadros emedebistas. Enfim, não há cogitação do nome de Cássio para vir a compor uma chapa presidencial no próximo ano. Sua saída do Senado o retirou dos holofotes da chamada grande mídia.
Restaria, então, no conjunto das opções disponíveis para o pleito de 2022, uma cadeira na Câmara Federal, que Cássio ocupou no início da sua trajetória política. Foi na Câmara, aliás, o seu batismo de fogo, seguido da conquista de projeção natural, com atuação na Assembleia Nacional Constituinte em que cravou o protesto de um jovem parlamentar contra as incoerências e aberrações do chamado sistema político representativo. Naquele ensejo, nos idos de 1988, Cássio foi ouvido com atenção em plenário por condestáveis da política nacional como o doutor Ulysses Guimarães, cognominado “Senhor Constituição” pelo empenho com que se dedicou à elaboração da nova Carta Magna do País. A irresignação do jovem político paraibano também impressionou fortemente líderes como Mário Covas e acabou se constituindo em poderoso combustível para fazer deslanchar a carreira de Cássio na vida pública, pavimentando o terreno para sua ascensão a outros postos influentes.
Há uma pedra no meio do caminho de Cássio, dentro da própria órbita familiar, para voltar a pleitear a Câmara dos Deputados: a presença, ali, do seu filho Pedro Cunha Lima, reeleito em 2018. Especula-se que Pedro pode ser remanejado para disputar outro mandato, como o de deputado estadual, que nunca exerceu, mas o problema não está na acomodação dele, mas, sim, na definição sobre o interesse que o próprio Cássio ainda possa vir a ter em relação à disputa de postos eletivos. Seja pelo fato de que a Paraíba se acostumou a vê-lo em papel de liderança ou de articulador respeitado, seja pela dimensão alcançada quando forjou seu próprio espaço na cena estadual, a expectativa é sempre a de que Cássio vai figurar em lugar de destaque, com as honras devidas, não desempenhando papel de coadjuvante. Ele pode contrariar todo esse figurino dentro da lógica de estar “se reinventando” e do conceito de que essa “reinvenção” não passa, necessariamente, pela disputa política. Se for assim, pode até continuar a ser visto na vida pública, não mais em linha de frente. Afinal, foi o próprio Cássio que cunhou um mantra: “Não preciso de mandato para trabalhar pela Paraíba”. A conferir!