Nonato Guedes
É grande a expectativa sobre o resultado das eleições, amanhã, para a presidência da Câmara Federal, ocupada por Rodrigo Maia (DEM-RJ) e o comando do Senado, exercido por Davi Alcolumbre, do DEM-AP. O interesse em torno do resultado deve-se não apenas ao futuro das duas Casas, mas a uma peculiaridade que tende a se confirmar: o presidente Jair Bolsonaro poderá ter, a partir de fevereiro, dois aliados à frente do Poder Legislativo, depois de um início de governo tumultuado, com lances de forte tensão com o Congresso Nacional. Tanto na Câmara como no Senado os nomes apoiados pelo Palácio do Planalto para o pleito do primeiro de fevereiro despontam como favoritos: Arthur Lira (PP-AL) na Câmara e Rodrigo Pacheco (DEM-MG) no Senado.
A presidência da Câmara, como ressalta matéria da BBC News Brasil, tem especial importância porque dá ao seu ocupante o poder de barrar ou deflagrar um processo de impeachment do presidente da República. A pressão pelo afastamento do presidente Bolsonaro aumentou nas últimas semanas com o agravamento da pandemia do coronavírus e a pequena quantidade de vacinas adquiridas neste momento para imunizar a população. Há mais oito deputados concorrendo à direção da Câmara, mas o único que apresenta alguma ameaça à vitória de Lira é Baleia Rossi (MDB-SP), apoiado por Rodrigo Maia e que se coloca como independente do governo. Baleia deu a largada, aparentemente, como favorito, atraindo simpatizantes na esquerda, mas sua postulação perdeu capilaridade e esvaziou-se mais ainda na semana decisiva quando o Planalto passou a jogar pesado com verbas, emendas e obras beneficiando parlamentares que assumem compromisso com Arthur Lira.
No Senado, a candidatura de Rodrigo Pacheco logrou atrair o apoio de uma vasta gama ideológica, que vai de senadores próximos ao governo Bolsonaro a integrantes da bancada do PT. Um fator importante que tem dado vantagem a Pacheco na disputa contra a principal concorrente, a candidata Simone Tebet (MDB-MS mas registrada como independente) é sua postura crítica à Lava-Jato, enquanto a senadora é entusiasta de pautas associadas à operação, como a possibilidade de prisão após condenação em segunda instância. Há parlamentares enrolados com a Lava-Jato e a postura corporativista adotada por Rodrigo Pacheco o torna confiável a esses senadores com direito a voto na disputa de amanhã. O presidente Davi Alcolumbre, que sonhava com recondução ao cargo, barrada pelo Supremo Tribunal Federal, está empenhado na vitória de Rodrigo Pacheco, de olho num ministério que pode cair no seu colo na reforma que Bolsonaro está acenando como moeda de troca.
Ainda que o favoritismo dos candidatos do Planalto se confirme, esse resultado não será garantia de vida fácil para o governo Bolsonaro, segundo analistas políticos ouvidos pela BBC News Brasil. Um desses analistas faz este resumo da ópera: “Nem a vitória de Arthur Lira significará que a possibilidade de impeachment estará 100% enterrada, nem a eleição de Baleia Rossi indicará uma chance alta de abertura de um processo contra o presidente”. Na visão desses especialistas, outros fatores podem ser mais determinantes para isso, como um agravamento das crises econômica e de saúde, com piora mais acentuada da popularidade de Bolsonaro e protestos maiores nas ruas contra o presidente. A este, interessa ter aliados no comando das duas Casas porque, teoricamente, isto facilitará a tramitação de pautas prioritárias para o Planalto. Através da viabilização dessas pautas, Bolsonaro espera reconquistar popularidade e dizimar focos de descontentamento com o governo. É uma aposta imprevisível, claro.
Seja como for, a perspectiva de vitória na Câmara, com Arthur Lira, e no Senado, com Rodrigo Pacheco, proporcionará um “respiro” ao governo do capitão, impiedosamente atacado nas redes sociais e em veículos de imprensa por condutas praticadas à frente do cargo, em algumas das quais adversários políticos mais radicais enxergam até crimes de responsabilidade. Este seria o caso da postura negacionista do presidente da República diante da pandemia de coronavírus, o que terá contribuído para a demora e a desorganização verificadas na execução do Plano Nacional de Imunização, concebido para promover vacinação em massa da população brasileira contra a Covid-19 e que, no entanto, anda a passos de cágado em todo o território nacional.
Enquanto teorias ganham campo fértil para proliferação, discute-se nos bastidores a contagem de prós e contras das candidaturas que estão postas, principalmente na Câmara. Antônio Queiroz, analista do Diap, chama a atenção para um outro fator que deve beneficiar o alagoano Arthur Lira no embate contra Baleia Rossi: o apoio de parlamentares do Nordeste, mesmo de partidos de oposição. Alega que há um sentimento de “solidariedade” entre os políticos desse grupo, que veem na perspectiva de um presidente da Câmara nordestino mais chances de beneficiar a região. O próprio Bolsonaro, numa visita a Propriá, Sergipe, enfatizou o vínculo de Lira com a região: “Se Deus quiser, teremos o segundo homem na linha hierárquica do Brasil eleito aqui no Nordeste, pela Câmara dos Deputados. O deputado Arthur Lira. Se Deus quiser, será o nosso presidente”, afirmou Bolsonaro. Faltam poucas horas para um desfecho das especulações, prognósticos e apostas que dominam o horizonte político.