O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), enfrenta momentos difíceis nos seus últimos dias à frente da Casa. No terceiro mandato consecutivo, o parlamentar, que foi peça-chave na aprovação da reforma da Previdência, tem dificuldade de conter ânimos e vê vacilar a base parlamentar que sustenta a candidatura de Baleia Rossi (MDB-SP), nome escolhido por ele como sucessor. Duas variáveis colocaram Maia na atual situação: a demora em escolher um candidato à eleição na Câmara e a forte campanha do governo para neutralizar Rossi e emplacar o líder do Centrão, Arthur Lira, do PP-AL.
Embora Rodrigo Maia tenha negado, reiteradamente, que seria candidato à reeleição, integrantes do próprio partido afirmam que a demora em escolher um sucessor se deu justamente porque o parlamentar aguardava a decisão do Supremo Tribunal Federal sobre eventual recondução ao cargo – a Corte acabou vetando a possibilidade. “Ao insistir nele mesmo como candidato, via manifestação do Supremo, alimentou expectativas em muita gente. Ele patrocina a candidatura de um bom parlamentar, mas parece fadado ao fracasso, por falta de saber lidar com todas que eram seus amigos e apoiadores”, avaliou, “em off”, ao “Correio Braziliense”, um deputado do Democratas. Outro colega de bancada, que faz campanha para Lira, vai no mesmo raciocínio. Conforme ele, Maia “deu um passo muito ruim” ao prometer que apoiaria Elmar Nascimento (DEM-BA), Marcos Pereira (Republicanos-SP) ou Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) para a presidência da Câmara.
– Todos achavam que tinham chance, e o candidato era o próprio Maia. Quando o Supremo negou a reeleição, ele não sabia quem ia apoiar – relatou o informante. Analista do Portal Inteligência Política, Melillo Dinis apontou que “Maia está uma fúria” por causa da ação ostensiva do governo para bombar Lira na reta final. “Além de estar um pote até a tampa de mágoas, ele perdeu a capacidade analítica e não consegue perceber seus erros na condução da sucessão. Apostou no STF como juiz de sua prorrogação no cargo. Não funcionou. Tanto quis para si próprio que acabou se enrolando em uma candidatura que, cada vez mais, faz água”, avaliou Dinis. De acordo com o analista, Maia sai do comando da Casa “no tamanho proporcionalmente inverso ao equívoco da análise dele, de apostar na prorrogação do Supremo. Isso o transformou em centro político na Câmara. E toda vez que um presidente da Câmara atuou individualmente, e não coletivamente, ele não se saiu bem. Tanto que, agora, Maia não consegue controlar nem o DEM, brigou com o presidente do partido (ACM Neto) e a bancada está rachada – pode, até, virar para o bloco de Lira”, ressaltou.
Outros parlamentares admitem, ainda “em off”, que Rodrigo Maia errou, também, taticamente, na questão do processo de impeachment do presidente Bolsonaro, que foi agitado na própria Câmara e em outros fóruns de debate. Rodrigo não pôs em análise nenhum dos mais de cinquenta pedidos de impeachment impetrados na Casa, o que o desgastou junto a segmentos da sociedade com quem vinha dialogando. Também desagradou parlamentares de oposição, motivados a apreciar o afastamento do presidente da República. A alegação de Rodrigo foi de que a questão não era prioritária, comparada ao enfrentamento ao coronavírus, mas ele próprio se contradisse ao admitir que Bolsonaro pode ter praticado crimes de responsabilidade. Nos últimos dias, o parlamentar disse considerar que o impeachment será inevitável na futura gestão da Câmara, seja quem for o eleito para presidi-la. Entre colegas de Maia, a impressão dominante é a de que faltou coragem a ele para demandar o processo de impedimento do mandatário.