Nonato Guedes
O governador João Azevêdo (Cidadania) tem motivos de sobra, que são plausíveis à opinião pública, para não precipitar discussões ou falatório sobre as eleições do próximo ano quando estará em jogo a sua sucessão ao Palácio da Redenção. Primeiro porque falta um bom tempo ainda para se tratar da questão; em segundo lugar porque todos estão recém-saídos da guerra das eleições municipais, travadas em colégios importantes como João Pessoa e Campina Grande e em longínquas cidades do interior; em terceiro porque o chefe do Executivo ainda precisa se consolidar como líder de uma força política emergente na realidade paraibana e, em último lugar, que ele coloca como primeiro, porque há o enfrentamento ao coronavírus, agora com a campanha de vacinação. “Seria até crime de lesa-pátria debater eleição de 2022 em pleno combate à crise sanitária”, vocalizou Azevêdo, ontem.
Este último argumento tem um peso muito forte diante do “Novo Normal” que vigora no país com medidas de restrição ao funcionamento de atividades comerciais, com as consequências do desemprego agravado em plena pandemia e com os reflexos das medidas de isolamento social que afetaram em cheio as aulas nos diferentes níveis de escolaridade. Disse o governador que a conjuntura excepcional ou de emergência que se criou impõe a própria mudança de posturas, a revisão de conceitos, a reflexão sobre as relações interpessoais. Impõe, também, cautela sobre delicados temas políticos-eleitorais, diante da efervescência que sempre provocam e de indefinições que podem gerar erros de cálculo, se forem tomadas medidas açodadas. A estratégia política de João Azevêdo é mais redobrada ainda porque ele irá se testar nas urnas no próximo ano como candidato e chefe de um agrupamento político. Será diferente de 2018, quando contou com o então governador Ricardo Coutinho (PSB) como padrinho da sua candidatura e como principal cabo eleitoral. Agora, Azevêdo terá que se cozinhar nas próprias banhas, com as adesões que assegurar e com os votos e manifestações de simpatia que conquistar.
No geral, a administração por ele pilotada é bem avaliada pela maioria da população, que reconhece como válida a prioridade conferida ao enfrentamento à covid-19, seguindo um protocolo que, em regra, é adotado por todos os demais gestores do país – sejam negacionistas ou não em relação à pandemia. O governador da Paraíba mostrou articulação e eficiência, mais recentemente, no estágio da complexa campanha de imunização de pessoas contra o coronavírus, agindo para que o Estado não fosse discriminado ou abandonado no conjunto das unidades da Federação empenhadas em ter acesso a vacinas com rapidez para que a população possa respirar uma atmosfera de maior segurança. A vacinação não tem eximido, porém, o governo do Estado, da obrigação de investir recursos na meta de dotar municípios de hospitais e equipamentos, bem como de dispor de profissionais de Saúde proativos na linha de frente do combate à crise sanitária. É uma operação de guerra que se trava no dia a dia, sem prazo fixo para acabar.
Em paralelo, o governador tem consciência de que deve intervir o quanto antes na crise econômica juntamente com outros agentes, públicos e privados, para tentar soluções que possibilitem um mínimo de retomada da normalidade, compensando – se isto é possível – os prejuízos incalculáveis que até agora foram acarretados, com queda na arrecadação e paralisação das principais fontes da economia. O dilema em todos os Estados tem sido exatamente o de conciliar medidas de restrição sanitária com medidas de prevenção ao colapso econômico, financeiro e social, cujo corolário maior será a fome campeando nos lares de famílias vulneráveis duramente massacradas no bojo dos reflexos da covid. Sabe João Azevêdo, por exemplo, que categorias do funcionalismo público do Estado estão com salários congelados e, de certa forma, inibidas de agitar bandeiras de reajuste para não estimular convulsão social de proporções incalculáveis ou imprevisíveis.
Mais cedo do que se pensa esses desafios terão que ser não mais encarados, e, sim, equacionados, da mesma forma como o governo do Estado começa a retirar da gaveta projetos de expansão do Polo Turístico da Paraíba, mitigando prejuízos causados a um segmento que é estratégico para fomentar o desenvolvimento do Estado e atrair grupos de investidores, com retorno na geração de emprego e renda em território local. Azevêdo rege-se pela visão pragmática do técnico ou do especialista em administração que trabalha com múltiplos cenários e que nesses múltiplos cenários descortina horizontes que permitam a reinserção do Estado no processo nacional de crescimento, de que está sendo excluído porque as fontes estão secando, ainda que momentaneamente. O ex-governador Tarcísio Burity costumava dizer que o homem público se mede pelos obstáculos que enfrenta, ou seja, agiganta-se na dimensão dos desafios que recaem sobre seus ombros.
A hora da verdade está chegando para João Azevêdo em termos de resultados administrativos, já que, do ponto de vista da capacidade técnica e das qualificações como administrador, ninguém põe em dúvida suas habilidades ou competências. Mas a opinião pública, com todo o direito que lhe cabe, é exigente; cobra mais e mais dos seus governantes ou representantes, porque a eles confiaram votos, delegaram representação, especialmente para resolver problemas, apontar soluções, mostrar resultados. Diz-se em algumas rodas que Azevêdo vive numa espécie de zona de conforto em plena tempestade conjuntural porque a pandemia, de certa forma, imobilizou movimentos ou mobilizações de adversários políticos, inclusive de ex-aliados co-responsáveis por sua ascensão ao governo do Estado. Mas essa zona de conforto é hipotética, e não está garantido que cabe a Azevêdo fixar prazo para tratativas políticas que nunca deixarão de existir, independentemente de situações graves experimentadas.
Com dois ex-prefeitos de cidades importantes ociosos, disponíveis para percorrer o Estado numa aventura para conquistar o seu governo (casos de Luciano Cartaxo, ex-gestor de João Pessoa, pelo PV, e Romero Rodrigues, ex-gestor de Campina Grande pelo PSD), além de outros competidores disfarçados ou ocultos, Azevêdo não pode baixar a guarda política. Dessa radiografia advém, então, a estratégia para não precipitar nada porque há muita coisa a ser feita com urgência e também porque é preciso “amarrar” ações administrativas que credenciem o atual governador a postular um novo voto de confiança dos paraibanos, lá por volta de 2022. Mas, independente da sua vontade pessoal ou do calendário próprio que definiu para si, João Azevêdo precisará estar atento, 24 horas por dia, aos movimentos que virão de vários “fronts” – inclusive, talvez, de onde ele menos espera, a ser válida, ainda, a máxima cunhada pelo ex-deputado e filósofo Manuel Gaudêncio de que política é “atividade dinâmica” e que, na Paraíba, esse dinamismo, às vezes, chega a ser estonteante…