Nonato Guedes
O Hotel Tambaú, tido como um dos cartões postais de João Pessoa, que acaba de ser arrematado em leilão por um grupo empresarial do Rio Grande do Norte, foi uma obra visionária idealizada pelo ex-governador João Agripino Filho (1966-71), que não escondia seu constrangimento em ter que hospedar presidentes da República e ministros de Estado em residências de amigos seus e decidiu, então, construir um Hotel que suprisse a lacuna. Procurou grupos hoteleiros do país, mas não obteve interesse. Partiu para projetar um Hotel na praia de Tambaú, dotado de arquitetura “sui gêneris”, convencido de que, embora edificado pelo Estado, pudesse ser alienado.
Numa reunião que promoveu com o secretariado, este, por unanimidade, foi contrário à proposta. Após a tomada de votos, João Agripino afirmou, secamente, que a decisão era irreversível e esperava que todos a acatassem. Houve críticas na imprensa, sob o pretexto de que se tratava de uma obra faraônica. Com o tempo, o Hotel Tambaú se impôs. A Varig e o grupo Horsa habilitaram-se à compra, tendo sido considerada mais vantajosa a oferta da primeira. João Agripino foi o último governador eleito em plena vigência do regime revolucionário instaurado em 1964, concorrendo pela Arena e derrotando Ruy Carneiro, do MDB, por uma diferença estreita que suscitou controvérsias. Empreendeu uma administração austera, ousada e independente em relação ao governo federal, monopolizado, então, por generais indicados em “clubes fechados”. Além de ponto turístico, o Hotel Tambaú tornou-se motivo de orgulho para a Paraíba e os paraibanos, pelas referências elogiosas que sempre despertou por parte dos que o conheceram ou nele se hospedaram desde sua consolidação, há cerca de meio século.
O Hotel foi arrematado pelo grupo A. Gaspar, do Rio Grande do Norte, que ofereceu um lance de R$ 40,6 milhões, suficiente para adquirir o prédio localizado na orla de João Pessoa. O leilão aconteceu na quinta-feira, 4, depois de mais de um ano de incerteza sobre o futuro do Hotel Tambaú. O grupo A. Gaspar já trabalha há vários anos no mercado de hotelaria e é dono, entre outros, do Hotel Ocean Palace, de Natal. A expectativa é que ainda no primeiro semestre deste ano o Tambaú volte a funcionar. Ultimamente, a responsabilidade pelo Hotel estava sob titularidade da Quarta Vara Empresarial da Comarca da Capital do Rio de Janeiro e, mesmo por ocasião dessa fase, o local esteve em funcionamento. Acabou fechando no ano passado por causa da pandemia do novo coronavírus e não foi mais reaberto. Em entrevista, ontem, à TV Cabo Branco, a presidente da PBTUR, Ruth Avelino, comemorou a reativação do empreendimento, avaliando que isto é importante num período em que o governo João Azevêdo retoma atividades turísticas como o Pólo do Cabo Branco, acenando com oferta de empregos e geração de renda.
Avelino destacou os prejuízos incalculáveis que o setor produtivo paraibano enfrentou com a calamidade do coronavírus, em meio a restrições e medidas de isolamento social, e comentou que o turismo foi um dos segmentos “seguramente mais afetados, com dispensa de funcionários, desativação de postos de trabalho, desemprego em massa e falta de perspectivas em relação ao futuro”. Mostrou-se confiante quanto ao fluxo de movimento que o Hotel Tambaú pode voltar a ter, favorecido pelo avanço da campanha de vacinação contra o coronavírus e, colateralmente, pelas reformas que serão implementadas pelo novo grupo proprietário para modernizar e adequar o Hotel sem que ele venha a perder características originais marcantes. Os novos donos do Hotel vão precisar de aproximadamente 40 dias para realizar a limpeza e a troca de alguns móveis antes da reinauguração. Serão investidos, calculadamente, mais R$ 60 milhões nas reformas e adaptações a serem procedidas na estrutura do verdadeiro complexo que integra o Hotel, situado na avenida Almirante Tamandaré, praia de Tambaú, numa área total de 38.200 metros quadrados e 12 mil metros de área construída.
Por muito tempo, o Hotel Tambaú foi considerado o único “cinco estrelas” da capital paraibana. Pertencia à Rede Tropical de Hotéis, da Varig, empresa aérea que entro em pedido de falência e fechou definitivamente as portas em 2006. O leilão organizado pela Justiça foi com vistas a possibilitar que, com o dinheiro arrecadado, dívidas trabalhistas da massa falida da empresa sejam pagas. A equipe econômica do governo João Azevêdo tem se empenhado, por recomendação expressa do governador, na atração de investimentos de repercussão que beneficiem João Pessoa, Campina Grande e outras cidades. A estratégia, conforme explicam secretários da área técnica, visa a incrementar a retomada do processo de desenvolvimento, que ficou “congelado” diante da prioridade máxima que teve que ser dada ao enfrentamento ao coronavírus.