Nonato Guedes
Nos meios políticos, em Brasília, é grande a expectativa quanto à suposta desfiliação, amanhã, do deputado Rodrigo Maia (RJ), ex-presidente da Câmara Federal, dos quadros do Democratas. O parlamentar queixou-se de traições dentro do partido na recente eleição para sua sucessão na Casa, quando tentou emplacar o candidato do MDB, Baleia Rossi (SP), derrotado no voto por Arthur Lira, do PP, apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro e seus aliados. O secretário-geral do DEM, Pauderney Avelino, confirmou que o ex-presidente da Câmara avisou a colegas de partido que anuncia amanhã sua desfiliação do DEM.
Apesar disso, o partido acredita que Maia vai se manter filiado. “Sim, Maia falou que vai sair do DEM na segunda-feira, mas não creio que vá. Estamos conversando com ele”, declarou Pauderney. Além de ressabiado pela derrota na eleição à Mesa da Câmara, Rodrigo Maia não escondeu sua frustração por não ter colocado em análise nenhum dos inúmeros pedidos de impeachment do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) que foram protocolados na sua gestão. O deputado do Rio de Janeiro, na eleição da Mesa, tentou costurar o apoio do DEM ao candidato Baleia Rossi, mas mais da metade da bancada preferiu ficar com Arthur Lira, o novo presidente. Maia teria ficado desapontado ao ver seu próprio partido desembarcar da aliança em torno do seu apadrinhado na Câmara e começou a falar em desfiliação.
Esta semana, o parlamentar conversou com integrantes do PSL e do Cidadania, mas ambos os partidos não receberam definição sobre se ele vai se filiar ou não. O ex-presidente da Câmara anunciou articulações neste final de semana com o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, do DEM, e o secretário de Fazenda do Estado, Pedro Paulo. Os dois pertencem ao mesmo grupo político e teoricamente devem seguir a mesma decisão que Maia tomar. Apesar disso, aliados defendem que não sejam feitos movimentos bruscos e sugerem que a saída do Democratas seja analisada com bastante cautela. O deputado carioca não fala com o presidente nacional do DEM, ACM Neto, ex-prefeito de Salvador, desde o resultado da eleição na Câmara. ACM Neto quer manter Rodrigo no partido, mas prefere “não ficar em cima” e deixá-lo amadurecer a decisão.
Enquanto isso, o bolsonarista Arthur lira, novo presidente da Câmara, assinou ato na sexta-feira demitindo cerca de 500 funcionários comissionados da Casa. São 27% do total de cargos de natureza especial, de livre nomeação pelo presidente do Parlamento. Conforme a assessoria da presidência da Câmara, os cargos deveriam ter sido exonerados na gestão anterior, como um ato regular e administrativo. A Câmara dos Deputados conta com 1.841 cargos de livre nomeação. Os demais deputados foram colhidos de surpresa com a decisão do novo presidente da Câmara e alguns interpretaram as demissões como estratégia de Lira para mostrar que tem poder. Os parlamentares, tanto os aliados quanto os de oposição precisarão negociar para segurar seus indicados.