Nonato Guedes
O líder da bancada do Democratas na Câmara Federal, deputado Efraim Filho (PB), rebateu, em entrevista à CNN Brasil na tarde de ontem as duras críticas do ex-presidente Rodrigo Maia ao partido e ao presidente nacional da legenda, ACM Neto, ex-prefeito de Salvador, ainda a propósito das recentes eleições para a Mesa Diretora da Casa, em que Maia foi perdedor com a candidatura de Baleia Rossi, do MDB-SP. “A entrevista do ex-presidente Rodrigo Maia surpreendeu, veio com um tom acima do esperado. Essa acusação de traição, na verdade, é uma tentativa de terceirizar a responsabilidade pela ruína do bloco de Baleia Rossi, tentar nos dar a conta da derrota. Essa conta nós não aceitamos”, disse.
O candidato vitorioso à presidência, na sucessão de Rodrigo Maia, foi Arthur Lira, do PP de Alagoas, que teve o apoio ostensivo do presidente Jair Bolsonaro. Segundo Efraim Filho, “o que aconteceu é que ele (Rodrigo), sim, queria e acreditava que uma frente ampla com partidos do centro e da esquerda seria o caminho para 2022 e não conseguiu a maioria legítima no Democratas. Ele errou na condução do processo, não conseguiu formar essa maioria e, de forma pública, veio cobrar o presidente ACM Neto. O que faltou foi maioria na bancada. Na democracia, maioria não se impõe, se conquista. Não houve traição, houve falta de maioria”. Efraim diz que é cedo para avaliar as eleições do ano que vem. “2022 será tratado em 2022. O foco em 2021 éno trabalho, na agenda. Formação de chapas, aliança, eleições, tudo isso é tema para 2022. Essa antecipação de debate surgiu por provocação do próprio Rodrigo Maia, jamais esteve em decisão na bancada antecipá-lo”, garante.
Efraim salientou que a expectativa para ontem era de um dia tranquilo em Brasília, inclusive, com retomada de votações de matérias importantes para a sociedade, mas considera que o cenário ficou tumultuado com as investidas surpreendentes do ex-presidente Rodrigo Maia, inclusive, formulando pesadas críticas de caráter pessoal por inconformação com o resultado da eleição à sua sucessão no Legislativo. Em nota que distribuiu com a imprensa paraibana, Efraim opinou que uma eventual saída de Rodrigo Maia do DEM ajudará a pacificar o partido. Em entrevista ao Valor Econômico, Rodrigo admitiu estar sem espaço no DEM, por quem se sentiu traído, e advertiu que a aproximação da legenda com o governo Bolsonaro faz com que ela retome sua origem de direita ou de extrema-direita.
Em um trecho da nota, o parlamentar paraibano expressa: “Rodrigo Maia e o Democratas entraram juntos para a História do País, o deputado tem o nosso respeito por esses momentos marcantes dessa parceria. Porém, com o anúncio de sua saída, deixa claro que chegou ao fim de um ciclo no partido, e essa decisão contribuirá para pacificar o Democratas”. Ele lamentou que na entrevista ao Valor Econômico Rodrigo Maia não faça sua autocrítica, nem assuma mea culpa pela articulação mal conduzida para tentar eleger Baleia Rossi à sua sucessão. “Insistimos que o Democratas não tem dono e ainda preserva um dos seus maiores patrimônios: a capacidade de decidir pela vontade da maioria e não por imposição da cúpula partidária. Isso, sim, seria um ato antidemocrático”. Para Efraim, o presidente ACM Neto foi correto ao respeitar a decisão da bancada na Câmara de seguir o caminho da neutralidade quanto ao governo. “Preserva a independência do partido e tem a nossa solidariedade e confiança”, asseverou. Ontem mesmo, Rodrigo Maia recebeu convite do governador de São Paulo, João Doria, para ingressar no PSDB, mas informou que não deseja precipitar definição.