Nonato Guedes
A reconfiguração do quadro político paraibano com o falecimento em São Paulo do ex-senador e ex-governador José Maranhão (MDB), vítima de complicações da Covid-19, provoca um fato incomum na história política local: os três integrantes da bancada paraibana no Senado e mais um suplente de senador são representantes de Campina Grande, segundo maior colégio eleitoral do Estado. Originalmente a bancada estava composta por Maranhão (nascido em Araruna, Agreste), Veneziano Vital do Rêgo e Daniella Ribeiro, estes últimos eleitos em 2018. O primeiro suplente de Veneziano é o empresário Ney Suassuna, que recentemente assumiu por alguns meses a titularidade devido a licença requerida pelo titular para se dedicar à campanha eleitoral de 2020.
Com a morte de Maranhão, foi efetivada no mandato, até o final do próximo ano, a ex-deputada federal Nilda Gondim, representante de Campina e mãe de Veneziano Vital do Rêgo. Nilda é filiada ao MDB, partido ao qual Veneziano regressou em plena enfermidade de José Maranhão, depois de se desfiliar dos quadros do PSB, pelo qual foi eleito, alegando incompatibilidades dentro da legenda comandada pelo ex-governador Ricardo Coutinho. Nilda já havia sido investida temporariamente no mandato mediante licença requerida pelo senador José Maranhão quando se encontrava internado no Hospital Vila Nova Star, em São Paulo, onde veio a óbito. A filiação de Veneziano ao MDB, partido a que já pertenceu, vinha sendo articulada com o conhecimento do próprio José Maranhão e empenho de senadores de outros Estados que o consideram um quadro valioso na política paraibana. Agora, o movimento que se faz dentro do MDB é para que Veneziano assuma a presidência do partido, reestruturando a legenda com vistas aos embates do próximo ano.
Nilda Gondim é mãe, também, de outro ex-senador por Campina Grande – Vital do Rêgo Filho (Vitalzinho), que chegou a ser candidato ao governo do Estado e atualmente é ministro do Tribunal de Contas da União. O pai de Vitalzinho e Veneziano, Antônio Vital do Rêgo, chegou a ser deputado federal e deputado estadual, tendo sido cassado pelo regime militar instaurado em 1964. Foi, também, candidato a prefeito de Campina Grande. Apesar dos três senadores terem raízes em Campina Grande, Veneziano tem afinidades políticas apenas com a mãe. Na eleição municipal do ano passado, a senadora Daniella Ribeiro lançou o filho Lucas como candidato a vice na chapa encabeçada por Bruno Cunha Lima (PSD), que foi vitoriosa em primeiro turno, derrotando a chapa encabeçada pela ex-seretária Ana Claudia, do Podemos, mulher do senador Veneziano Vital do Rêgo.
José Maranhão foi eleito pela segunda vez ao Senado Federal em 2014, tendo como principal adversário Lucélio Cartaxo, do PV, irmão gêmeo do então prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo. O então governador Ricardo Coutinho (PSB) chegou a apoiar a candidatura de Lucélio, mas a aproximação entre PV e socialistas não prosperou no cenário paraibano. Na primeira vez em que se elegeu ao Senado, em 2002, José Maranhão havia sido vice-governador de Antônio Mariz, que faleceu vítima de câncer em 1995, e governador reeleito em 1998. Ele chegou a presidir a Comissão Mista de Orçamento do Congresso Nacional e ter atuação destacada no âmbito da Comissão de Constituição e Justiça, uma das mais importantes da Casa. Antes de Maranhão cair enfermo, havia especulações de que ele poderia se candidatar à reeleição ao Senado no próximo ano, o que ele nunca confirmou. Agora, a dúvida nos meios políticos é sobre se Nilda Gondim vai aproveitar a oportunidade e disputar a reeleição dentro do partido que pode vir a ser comandado pelo seu filho também senador.