Nonato Guedes
A definição é do ex-governador Roberto Paulino, que foi candidato (derrotado) à prefeitura de Guarabira nas eleições municipais de 2020: o MDB da Paraíba ainda cumpre o luto pela morte do ex-senador e ex-governador José Maranhão e, por causa disso, estão em compasso de espera as definições sobre o futuro da agremiação, inclusive sobre o seu comando no Estado. Maranhão era a figura principal, aglutinadora, que centralizava atos e decisões envolvendo candidaturas e alianças políticas. No pleito do ano passado em João Pessoa foi dele a iniciativa de encampar a candidatura do radialista Nilvan Ferreira a prefeito. A performance do comunicador foi surpreendente e ele avançou para o segundo turno, onde perdeu para Cícero Lucena por diferença bastante equilibrada
A eclosão do “fenômeno Nilvan” projetou para o MDB a necessidade de investir em oxigenação dos seus quadros, mediante processo de renovação que, sob a direção de Maranhão, havia se revelado incipiente. O partido não conta com deputado federal e tem apenas um representante na Assembleia Legislativa – o deputado Raniery, filho de Roberto Paulino. Reforçou-se no Senado com a adesão de Veneziano Vital do Rêgo, ex-PSB, que fez o caminho de volta não só atendendo a gestões de Maranhão mas de líderes nacionais do partido, que lhe prometeram prestígio proporcional à sua importância política. Com a morte de Maranhão ascendeu à sua vaga a mãe de Veneziano, Nilda Gondim, que era primeira suplente. O MDB inverteu o jogo na bancada no Senado e passou a ter maioria. Daniella Ribeiro, do PP, é a terceira representante do Estado naquela Casa.
O desafio que aguarda o MDB pós-Maranhão, além da reestruturação da legenda (que ainda possui uma razoável base política em municípios importantes da Paraíba) é definir o papel que pretende desempenhar nas eleições do próximo ano, quando estarão em jogo o governo, uma vaga de senador, cadeiras na Câmara Federal e Assembleia Legislativa, além da campanha mais importante, que será a de presidente da República. A dados de hoje, o partido não debate, objetivamente, a hipótese de lançar candidatura a governador, mas nos bastidores não se descarta a tese. O próprio nome de Veneziano é lembrado, em meio a observações de que ele foi preterido em outras oportunidades. Mas Veneziano não coloca de forma direta tal possibilidade nem dá sinais de que se movimente para cooptar apoios a uma eventual candidatura.
A tendência do MDB em relação à disputa para governador em 2022 é a de fechar com a candidatura do governador João Azevêdo (Cidadania) à reeleição. Este é um ponto convergente entre Veneziano Rêgo e o deputado Raniery Paulino, que, aliás, assumiu vice-liderança do governo Azevêdo na Assembleia Legislativa. O pai de Raniery, Roberto, recebeu apoio do esquema do governador na eleição do ano passado em Guarabira contra o PSDB. A mulher de Veneziano, Ana Cláudia, concorreu à prefeitura de Campina Grande pelo Podemos com o reforço do grupo do governador João Azevêdo, como decorrência do alinhamento que o senador manteve com sua gestão, afastando-se da órbita de influência do ex-governador Ricardo Coutinho, atualmente em posição de declínio no cenário político paraibano.
Não se descarta a hipótese de que o MDB venha a reivindicar compensação por um provável apoio à empreitada de João Azevêdo para se reeleger, mas não está claro se essa compensação seria o cargo de vice-governador no bojo de uma aliança. Atualmente a vice de João é Lígia Feliciano (PDT), que cumpre segundo mandato no posto, já que foi anteriormente a substituta de Ricardo Coutinho, no projeto de sua segunda candidatura, vitoriosa, em 2014. Mesmo que não tenha cacife para pleitear representação na chapa majoritária, o MDB aspira, naturalmente, a ter espaços dentro da administração de Azevêdo. Para se credenciar a tanto precisará dispor de quadros, o que pressupõe investimento em filiação de nomes de prestígio, mesmo que esses nomes não venham a constar de chapas que disputarão eleições proporcionais em 2022.
O radialista Nilvan Ferreira, que já retomou suas atividades na televisão, não tem demonstrado interesse em exercer militância política, o que não o impede de ser cortejado por pré-candidatos que concorrerão contra o MDB, como já vaticinou o ex-prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues (PSD), que no segundo turno da eleição municipal do ano passado abalou-se a João Pessoa para comunicar a Ferreira que tinha preferência por ele. De resto, Rodrigues não tinha cacife para influir no resultado eleitoral em João Pessoa – a candidatura de Nilvan surfou acima de estruturas partidárias. Mas a boa estratégia política recomenda que não se despreze apoios, sobretudo de quem teve votação expressiva num páreo que ainda está muito recente.
O MDB vai ter que se posicionar dentro de algum tempo, passado o luto oficial pela partida do ex-governador José Maranhão. O próprio retorno de Veneziano à legenda, com indicativo de prestígio, criou expectativas otimistas, até triunfalistas, entre remanescentes de uma agremiação que durante muito tempo foi conduzida sob a liderança do senador Humberto Lucena, com ele chegando ao poder estadual mediante apoio ou atração de líderes dissidentes de outros partidos. Essas expectativas terão que ser dosadas porque não há evidências de que o MDB venha a operar como ffiel da balança em pleitos futuros. Mas é fora de dúvidas que o partido ainda tem espaço na conjuntura paraibana, dependendo dos rumos que forem imprimidos por líderes como Veneziano e Paulino para seu próprio fortalecimento.