Nonato Guedes
São cada vez mais eloquentes os sinais de que o ex-prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues, do PSD, vai se firmando como o nome preferido do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para concorrer ao governo da Paraíba nas eleições do próximo ano, fazendo “dobradinha” com o capitão, que anunciou com bastante antecedência o propósito de disputar a reeleição e que invariavelmente se estimula a tanto quando medidas populistas favorecem sua imagem e a do governo que comanda. Ainda ontem, na escala em Campina para deslocamento ao interior de Pernambuco, o presidente manifestou, nas entrelinhas, em conversa com apoiadores e abordado por um repórter, sua predileção por Romero, que, segundo ele, é pessoa querida, “do coração”.
Bolsonaro e Romero atuaram juntos em pelo menos uma legislatura, em Brasília, como deputados federais, e data daí, segundo fontes próximas ao ex-prefeito, a relação cordial entre eles. Nesse período na Câmara, Bolsonaro era tratado como expoente do chamado “baixo clero’ – grupo político barulhento mas sem maior expressão para a mídia, que sempre o considerou um “bravateiro”. Foi numa dessas “bravatas” que o capitão se impôs como candidato a presidente da República em 2018, bateu o PT e desalojou da cena cardeais de partidos políticos tradicionais. Ainda agora, segundo depoimento insuspeito do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, “pajé” do petismo, Bolsonaro, por estar à frente dos instrumentos de poder, tem chances de assegurar a sua reeleição no próximo ano, a despeito de erros cometidos, por exemplo, no enfrentamento à pandemia de coronavírus. Mas ele se compensou através de medidas como o auxílio emergencial – e Lula da Silva conhece bem o peso desses acenos em situações de calamidade.
Romero Rodrigues, que não se projeta por posições ideológicas nem faz praça disso, além de ter sido deputado federal, foi prefeito de Campina Grande por dois mandatos e elegeu o sucessor, Bruno Cunha Lima, em primeiro turno. Já no final do seu segundo mandato, reatou canais de interlocução direta com o presidente Jair Bolsonaro, que desemperrou pleitos de interesse da população de Campina Grande. Ele desbancou naturalmente o ex-senador Cássio Cunha Lima (PSDB) da liderança do esquema político a que pertencem, com base na Rainha da Borborema, e credenciou-se a concorrer ao Palácio da Redenção. É claro que ambos (Cássio e Romero) estão afinadíssimos e tocam de ouvido nos bastidores para concertar estratégias políticas que possam ser irresistíveis nos futuros embates eleitorais. Cássio passou o bastão quando aceitou Romero como condutor da própria sucessão. E deu o arremate recentemente avisando que não disputará cargos eletivos em 2022.
Evidente que tanto Cássio quanto Romero estão atentos à garantia dos espaços do PSDB e, principalmente, às pretensões do deputado federal Pedro Cunha Lima, filho de Cássio, quanto a disputar o Palácio da Redenção. Mas são bafejados, nas articulações, pelo clima de entendimento irreversível e à prova de intrigas costurado entre Romero e Cássio, este ultimamente entretido com a própria reinvenção em atividades na iniciativa privada, fazendo valer o mantra que se atribuiu de que “há vida fora da política”. Cássio também é do círculo das admirações do presidente Jair Bolsonaro, como este revelou numa das visitas a Campina Grande, que têm se tornado frequentes na agenda presidencial. Mas o estilo de Cássio é, digamos, mais refinado no trato político. O estilo de Romero é mais afim com o do próprio presidente da República, o que talvez explique a empatia entre eles.
O fato é que, num episódio incomum, o ex-prefeito de uma cidade do interior da Paraíba e do sofrido Nordeste, ora sem deter qualquer mandato, recebe do presidente da República deferências como a de ser convidado a acompanhá-lo numa visita de inspeção a obras da transposição em Sertânia, Pernambuco. Se se levar em conta que esse ex-prefeito cogita chegar ao governo do Estado numa batalha que promete ser renhida, opondo cidades-pólos da Paraíba, fica evidente que o prestigiamento por parte do mandatário da Nação é mais que um mero presente – trata-se de uma dádiva. Romero tem consciência disso, Cássio conhece de cor e salteado os meandros desse enredo e quem se preocupa mesmo são os adversários do grupo político campinense como o governador João Azevêdo (Cidadania), principal adversário de Rodrigues em 2022. Uma “dobradinha” entre um candidato de oposição na Paraíba e um presidente da República favorrito à reeleição ée de tirar o sono de quem está de plantão no exercício do poder.
Claro que, para crescer e se fortalecer, o projeto político de Romero Rodrigues demandará táticas de arrebentação de obstáculos e de construção de consensos que estão associados, também, à amplitude ou estadualização da imagem do presumido candidato da oposição em 2022. Rodrigues sabe que terá imenso desafio na estratégia para firmar espaços dentro de João Pessoa, que é o maior colégio eleitoral da Paraíba e o tambor dos acontecimentos políticos, na definição sempre lembrada do agora saudoso Mestre Otinaldo Lourenço, expoente da radiofonia e do jornalismo locais. Mas a conquista de espaços em João Pessoa é um rito de passagem que pode não ser tão complicado. Ronaldo Cunha Lima e Cássio Cunha Lima chegaram ao governo do Estado logrando fixar-se, também, na Capital. A seu favor, Romero tem tempo disponível, habilidade para tratativas políticas e, decerto, o respaldo do presidente da República. São três pontos decisivos e nada desprezíveis para quem se dispõe a enfrentar uma jornada daqui a quase dois anos ainda.