Nonato Guedes
Na rápida escala aérea que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) fez esta semana em Campina Grande, repetiu-se um fato que vai se tornando corriqueiro: a ausência de contato ou, sequer, de menção por parte do mandatário ao governador João Azevêdo (Cidadania), ex-PSB, que na campanha de 2018 esteve mais próximo do PT através do candidato Fernando Haddad e do ex-presidente Lula, por instância direta do ex-governador Ricardo Coutinho, que tem prestígio sacramentado nas hostes lulopepistas. Seguramente Azevêdo e seu grupo não estarão no palanque da campanha de Bolsonaro à reeleição em 2022 no Estado – que atrairá líderes diversos cuja expressão maior é o ex-prefeito Romero Rodrigues, candidato a governador pela oposição. Mas é preciso ressaltar que, a despeito da divergência política com Azevêdo, o atual presidente não tem discriminado pleitos da Paraíba.
É certo que não há uma relação mais estreita ou mais articulada que possibilite sincronia melhor no encaminhamento de projetos e demandas ligadas ao desenvolvimento do nosso Estado. Entretanto, não há registro de qualquer ordem expressa de Bolsonaro para retirar da Paraíba aquilo a que tem direito como unidade da Federação. Tome-se como exemplo o caso do enfrentamento à pandemia de coronavírus. Mesmo que não tenha interlocução direta com o presidente, o governador João Azevêdo tem tido franqueada a sua presença em reuniões de governadores, por vídeoconferência, com o ministro da Saúde, general Pazuello, e assegurada a liberdade de expor os problemas da Paraíba e as reivindicações específicas do Estado. Um termômetro para as ações do governo federal é a liberação de recursos – e não há, para dizer a verdade, queixas de retenção ou de entrave burocrático.
Tem contribuído para essa postura do Palácio do Planalto a opção que Azevêdo tomou de não misturar questões políticas ou partidárias com o interesse público. Note-se que o governador da Paraíba não deixou de subscrever manifestos de colegas, principalmente da região Nordeste, com quem está mais antenado constantemente, contra eventuais excessos cometidos pelo presidente da República, inclusive em questões ligadas à preservação da democracia. As manifestações anti-Bolsonaro ocorrem, contudo, em clima de polidez de linguagem, o que elimina supostos ranços individuais ou personalistas que atrapalham qualquer relacionamento, mesmo entre afins. Não se pode ignorar que há uma estratégia do presidente para se firmar no Nordeste, invadindo redutos antes controlados pelo PT, dentro da tática de se reforçar para a campanha à reeleição. Mas Bolsonaro é habilidoso o bastante para não declarar guerra a gestores de Estados que não rezam pela sua cartilha.
De um modo geral, na relação com os governadores, o que o presidente da República tem feito sistematicamente, ora em redes sociais, ora em contatos com apoiadores, é apelar a seus liderados que cobrem dos governadores de oposição transparência e crédito ao governo federal na destinação de verbas para as unidades que administram, não apenas para a área da Saúde, em virtude da calamidade do coronavírus, mas para outros setores essenciais como o de infraestrutura, onde a gestão Bolsonaro tem procurado investir amiúde. A provocação do presidente a governadores adversários nem sempre surte efeito mas quando isto ocorre o próprio Planalto se encarrega de alardear o que está sendo repassado, para que o crédito seja dividido equitativamente.
A briga maior de Bolsonaro, “briga de cachorro grande”, como se diz na gíria, é com governadores de Estados sulistas, como João Doria (PSDB), de São Paulo, que podem ser concorrentes na disputa presidencial em 2022. Doria tem sido fustigado com mais frequência por causa da importância de São Paulo e porque partiu para uma linha de confronto direto com o governo Bolsonaro, tal como a opinião pública acompanhou no episódio da aquisição de vacinas contra a Covid-19. Em relação ao Nordeste, a ojeriza declarada de Bolsonaro é ao governador do Maranhão, Flávio Dino, do PCdoB, que andou tentando se viabilizar como opção à disputa presidencial mas, ultimamente, parece ter recuado dessa pretensão. João Azevêdo figurou uma vez no radar hostil do presidente, em bola dividida com governadores do Nordeste. Foi quando o capitão se referiu a “esses governadores de paraíba”, acrescentando que “deles, o pior é o do Maranhão”.
Isto já faz algum tempo e o presidente não agitou mais a polêmica, certamente por ter intuído que lhe causaria mais desvantagem do que facilidades. Afinal, o fogo cruzado maior é disparado, mesmo, por lideranças do Sul e Centro-Sul do país. Para o presidente, seria perda de tempo enveredar por essa senda. De resto, é preciso lembrar o papel de deputados federais e senadores que agem como algodões entre cristais no relacionamento Planalto-Estados. Muitos desses parlamentares estão, em Estados, na base de governadores hostis a Bolsonaro, mas, no plano federal, apoiam o capitão, de que é exemplo maior, na Paraíba, o deputado Efraim Filho, do Democratas. Para a opinião pública, a expectativa é que, mesmo que haja briga, sobrem dividendos concretos para Estados e municípios, com transferências indispensáveis de recursos da União e investimentos em obras. A querela política não interessa ao cidadão comum, esta é que é a verdade.