Nonato Guedes
Recentemente falecido vítima de complicações da Covid, o ex-senador e ex-governador José Targino Maranhão, que comandava o MDB da Paraíba, não deixou herdeiros políticos, mas, na opinião da viúva, a desembargadora Fátima Bezerra Cavalcanti, em recentes declarações à imprensa, deixou um grande legado, que ela gostaria de ver continuado por seguidores da sua liderança. Ela descartou qualquer possibilidade de ingressar na militância política-partidária, justificando estar no exercício de uma carreira jurídica pela qual tem apreço e que não gostaria de interromper. “Acho interessante que a Paraíba saiba que a viúva de Maranhão é somente uma magistrada. Não tenho pretensão política, não nasci para fazer política-partidária”, deixou claro. Fátima é filha de um ex-deputado estadual, Waldir Bezerra Cavalcanti, que se projetou na Assembleia, mas nunca se envolveu na militância política.
Herdeiros políticos de Maranhão, por afinidades não apenas familiares, seriam dois sobrinhos – Benjamin Maranhão, que foi deputado federal, e Olenka Maranhão, que exerceu mandato de deputada estadual, ou, então, Vilma Maranhão, ex-prefeita da cidade de Araruna, berço político do “clã” no Agreste paraibano. Mas os três se recolheram politicamente nos últimos anos, permanecendo José Maranhão como o grande expoente da família no cenário. A desembargadora Fátima Bezerra Cavalcanti mencionou três nomes que, a seu ver, poderiam empalmar a condição de herdeiros políticos de Maranhão: o senador Veneziano Vital do Rêgo, que retornou aos quadros do MDB, o ex-governador Roberto Paulino, que foi candidato a prefeito de Guarabira nas eleições do ano passado, e seu filho, o deputado estadual Raniery Paulino, que nos últimos dias foi escolhido como vice-líder do governo João Azevêdo na Assembleia Legislativa.
A trajetória política de Maranhão durou mais de meio século, tendo se iniciado como deputado estadual pelo PTB em 1954, época em que foi considerado o mais jovem parlamentar do Brasil. Maranhão reelegeu-se em mais três legislaturas: em 1958 e 1962, pelo PTB, e, com a extinção deste, pelo movimento militar de 1964, pelo MDB, em 1966. Em 1969, foi cassado por posições assumidas na tribuna e na ação política que o regime militar considerou contestatórias. Seus direitos políticos foram suspensos por dez anos e José Maranhão voltou ao cenário político em 1982 como deputado federal pelo PMDB, reeleito em mais duas legislaturas. Participou da Assembleia Nacional Constituinte, que elaborou a Constituição-Cidadã, na definição célebre do ex-deputado Ulysses Guimarães. Sua ascensão deu-se, em grande estilo, em 1994, quando concorreu, como candidato a vice-governador, na chapa encabeçada por Antônio Mariz, que derrotou Lúcia Braga. Em 1995, com a morte de Mariz, vítima de câncer, Maranhão foi alçado à titularidade do cargo. Reelegeu-se em 98 e ocupou o governo do Estado uma terceira vez, em 2009, para concluir o mandato de Cássio Cunha Lima (PSDB) que havia sido afastado pela Justiça Eleitoral. Enfrentou derrotas em duas tentativas de voltar ao governo do Estado – em 2010, para Ricardo Coutinho e em 2018 para João Azevêdo.
Em compensação, logrou ser senador, elegendo-se duas vezes – a primeira em 2002, tendo chegado a presidir a influente Comissão de Orçamento do Congresso Nacional e a segunda em 2014. Estava no exercício do mandato e acabara de participar ativamente da campanha nas eleições para prefeito no Estado, no ano passado, sobretudo em João Pessoa, e no dia da votação em segundo turno foi acometido de sintomas de Covid-19, ficando internado inicialmente em João Pessoa e, posteriormente, levado para São Paulo, onde faleceu no hospital Vila Nova Star. Sua coerência partidária sempre foi enaltecida, inclusive, por adversários políticos – e esse capítulo se tornou mais acentuado com o seu ingresso no MDB em plena ditadura militar. Na legenda, ele e o falecido senador Humberto Lucena são reverenciados como líderes de destaque. Humberto chegou a dividir o comando da legenda com seu irmão, o engenheiro Haroldo Lucena, que foi vice-prefeito de João Pessoa e secretário de Estado.
Maranhão, conquanto permanecesse firme à frente dos destinos do MDB, já emitia sinais de interesse em passar o bastão de comando dentro do partido, segundo depoimentos de correligionários mais próximos. O retorno do senador Veneziano Vital, que acabou ocorrendo em plena doença de Maranhão, era festejado pelo ex-governador, dentro do raciocínio de que se tratava de um quadro de projeção nacional, importante para a oxigenação e fortalecimento das fileiras emedebistas. A mãe de Veneziano, Nilda Gondim, que assumiu a cadeira dele pela sua condição de primeiro suplente, já sinalizou que não cogita concorrer à reeleição no pleito do próximo ano. Outros líderes do próprio MDB admitem que ainda está cedo para discutir estratégias e possibilidades para o pleito vindouro. Filho de um líder político com raízes municipais e repercussão estadual (Benjamin Maranhão), José Maranhão ascendeu ao controle do MDB-PMDB após ter vencido quedas-de-braço travadas em convenções internas com o grupo Cunha Lima, numa época em que o poeta e ex-governador Ronaldo Cunha Lima ainda estava vivo. Desde então, ele se tornou sucessor natural de Humberto Lucena no comando da legenda.