Salvo pelo plenário em 2017, quando havia sido afastado do mandato de senador pelo Supremo Tribunal Federal, o deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG) votou a favor de manter a prisão do deputado Daniel Silveira (PSL-Rj0 determinada pela Corte. Uma reportagem do jornal “O Estado de S. Paulo” relembra que há três anos o então senador Aécio foi beneficiado pelo plenário da Casa, numa situação semelhante à que ocorreu agora com Silveira. Na ocasião, o Senado teve de referendar – e acabou derrubando – uma medida cautelar de afastamento do mandato de Aécio. Tudo porque a Primeira Turma do Supremo havia suspendido as funções parlamentares do tucano e determinado o seu recolhimento domiciliar noturno.
Aécio foi delatado no escândalo da JBS por recebimento de R$ 2 milhões em propina. Ele negou irregularidades e se disse vítima de “armação”. À época, ao ver o mandato salvo pelos colegas, Aécio disse que a decisão do plenário “garantiu a plenitude da representação popular” e “restabeleceu os princípios essenciais de um Estado democrático”. No ano seguinte, o Supremo o tornou réu por obstrução da Justiça e corrupção passiva, acatando denúncia da Procuradoria-Geral da República. No caso de Daniel Silveira, porém, Aécio Neves seguiu a orientação do psdb. Mas nem todos da bancada agiram assim. Deputados com trânsito no governo Jair Bolsonaro, como Pedro Cunha Lima, da Paraíba, Lucas Redecker (RS) e Daniel Tzreciak (RS) contrariaram a orientação partidária e deram votos a favor da libertação de Silveira.
Traições às orientações de bancada também ocorreram em partidos como o DEM, Cidadania, Republicanos, MDB, PSB, Progressistas, PSD e PDT, entre outros. Na maior parte dos casos, os deputados alinhados ao Palácio do Planalto não seguiram a orientação. Houve também ausências: ré acusada de mandar matar o marido, a deputada Flordelis (PSD-RJ) não votou, assim como o novo ministro da Cidadania, João Roma (Republicanos-BA). O líder do governo, Ricardo Barros (PP-PR) e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, confirmaram o voto: a favor da libertação de Silveira, como anunciaram antes. No PSL, partido de Silveira, também houve ausências. Investigadas no inquérito de fake news do STF, as deputadas Carla Zambelli (SP) e Bia Kicis (DF) votaram contra a decisão unânime do Supremo. As duas tentam assumir cargos na nova direção da Câmara e sofrem resistências.
Kicis deseja presidir a Comissão de Constituição e Justiça, mas pode ficar pelo caminho, por contrariedade, revelada nos bastidores, de nomes do Centrão e ministros do Supremo. Zambelli, por sua vez, é cotada para chefiar a Secretaria de Comunicação da Câmara. A deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP) pediu que o STF e a Procuradoria-Geral da República se pronunciem sobre a qualificação de Zambelli. No ano passado, a deputada foi chamada para depor no inquérito que investiga a disseminação de fake news. A Câmara dos Deputados decidiu, por maioria de votos, manter a prisão do deputado Daniel Silveira. No total, foram 364 votos a favor, 130 contra e três abstenções. Para ser mantida a prisão era necessário o voto, no mínimo, da maioria absoluta da Câmara, ou seja, 257 votos. O deputado foi preso em flagrante na última terça-feira, 16, após divulgar um vídeo onde fez ofensas e ameaças aos ministros do STF e apologia ao AI-5, utilizado durante a ditadura militar.