Nonato Guedes
Interlocutores com acesso ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva dentro do Partido dos Trabalhadores já não escondem o que vinha sendo divulgado à boca pequena: a empresária Luiza Trajano, do Conselho de Administração do Magazine Luiza, está sendo cogitada para integrar a chapa presidencial às eleições de 2018, a ser encabeçada possivelmente por Fernando Haddad, mais uma vez. Dentro da estratégia concebida pelo próprio Lula, o PT precisa, para dar combate a Jair Bolsonaro, que deverá tentar a reeleição, reeditar a aliança entre o Capital e o Trabalho que por duas vezes consecutivas fez o líder petista ascender ao Palácio do Planalto. Nessas ocasiões, seu vice foi o empresário José Alencar, com raízes em Minas Gerais e empreendimentos que se expandiram para Estados como a Paraíba. Alencar era um nacionalista “antenado”, que ganhou a confiança de Lula e a credibilidade da sociedade. Notabilizou-se pela cruzada contra os juros, cuja alta ou descontrole o deixava irritado.
Aparentemente, essa cruzada criou problemas para Lula, que se obrigou, em inúmeras vezes, a desfazer mal-entendidos ou simplesmente acalmar o mercado. Ocorre que Lula e José Alencar eram tão afinados, tocavam tão bem de ouvido, que para os analistas em geral era difícil imaginar a ocorrência de desentendimentos mais sérios entre eles. A impressão que ficava, em alguns círculos, era outra: a de que presidente e vice-presidente da República “combinavam” entre eles a divergência, dentro de técnicas do jogo político para extrair concessões do empresariado, nem sempre propenso a oferecer sua quota de sacrifícios e de responsabilidade social que tem para com a Nação. Em outros círculos, a seriedade de Alencar era invocada como argumento para justificar que não havia “teatro” entre ele e Lula. Seja como for não há registro de grandes “terremotos” provocados pelo empresário da Coteminas, descrito em livro pelo jornalista José Roberto Burnier como “um vencedor” e que só se quedou diante do câncer insidioso, em 2011.
Luíza Trajano é frequentadora de listas “Forbes” das mulheres mais poderosas do Brasil e mundialmente conhecida por comandar as famosas lojas de varejo que se modernizaram e tiveram repercussão amplificada, tornando-se exemplares no mundo dos negócios. Na década de 90, quando Luiza assumiu a superintendência da empresa, colocou em prática diversos conceitos que não tinham ainda sequer denominação e, depois, tornaram-se modismos no chamado mundo corporativo. Numa das inúmeras entrevistas que concedeu, a respeito de sua trajetória, Luiza enfatizou que o povo brasileiro é muito criativo, o que definiu como fundamental para o empreendedorismo. “Fico muito feliz com o crescimento do empreendedorismo no Brasil, pois a pequena empresa é a grande solução para aumentar o número de empregos, e precisa ser apoiada”. Ela se tornou uma das expoentes do Grupo Mulheres do Brasil, concebido como grupo apartidário. Despertou, a par da sua história, o interesse de lideranças petistas.
Além de ter atraído um empresário para sua chapa, em duas eleições consecutivas, Lula da Silva deixou-se guiar pela intuição e “bancou” a candidatura de Dilma Rousseff à sua sucessão, conseguindo contribuir para que ela se tornasse a primeira presidente da história da República do Brasil. Foi um feito que, em 2010, reparou dívida histórica de partidos políticos com a representatividade feminina, bastante expressiva apenas no contingente com direito a voto, não necessariamente, até então, no universo com direito a voz e atuação ativa nas esferas de poder, nos centros de decisão dos destinos nacionais. Dilma foi reeleita em 2014, ainda sob a chancela da transferência de votos ou influência do “Criador”, o ex-presidente Lula. Mas o seu segundo governo revelou-se problemático, constituindo, mesmo, “ponto fora da curva”, quando em 2016 foi proclamado o seu impeachment pela Câmara, com a investidura de Michel Temer, do MDB, o então vice de Rousseff.
Ainda hoje, para efeito de “mídia”, o Partido dos Trabalhadores sustenta a narrativa do “golpe”, insinuando que por trás do seu impeachment houve uma quartelada parlamentar. Não é segredo que Dilma estava longe de ter jogo de cintura política – o próprio Lula sabia, muito bem, que faltava a ela habilidade indispensável para a travessia da governabilidade e, sempre que lhe foi possível, tentou monitorar passos da “criatura”. Mas Dilma era uma insubmissa. Além da dificuldade de relacionamento com líderes e partidos políticos, ela se indispôs abertamente com outras instituições. E acabou sendo “pilhada” pelo Tribunal de Contas da União em controverso episódio de pedaladas fiscais, o que lhe custou a cabeça. A narrativa do “golpe” foi articulada para tentar presevar Dilma e ao mesmo tempo poupar o PT de desgaste maior devido ao desastre administrativo da primeira mulher a governar o País.
A dados de hoje, o PT quer apostar novamente no peso de uma mulher, desta feita para vice, já que o próprio Lula da Silva ainda tenta viabilizar um retorno à atividade política, com passaporte garantido para disputar as eleições presidenciais do próximo ano. Por via das dúvidas, o “Plano B” é, novamente, a candidatura do ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da Educação, Fernando Haddad, que deu combate ao capitão Jair Bolsonaro em 2018 mas não levantou a taça. Já a partir desta semana, por ordem e insinuação expressa de Lula, Haddad começou um périplo por Estados da Federação a pretexto de dialogar com setores da sociedade sobre as graves consequências causadas pela pandemia do coronavírus, mas, na verdade, abrindo espaço para dar visibilidade ao Partido dos Trabalhadores, relançando-o na cena depois do desempenho pífio nas eleições para prefeitos de Capitais no ano passado.
Lula da Silva tem insistido, com frequência, para que o PT ponha, o quanto antes, o bloco nas ruas, rumo à estação 2022. É o que Fernando Haddad começa a fazer, com a perspectiva de vir a ter uma mulher, de preferência a empresária Luiza Trajano, como candidata a vice no próximo ano. É o jogo que começa a ser jogado para tentar destronar Bolsonaro do poder. A tática de agora consiste em neutralizar eventuais passos de Bolsonaro como efeitos colaterais de ações administrativas assistencialistas e populistas, capazes de repercutir junto a camadas mais vulneráveis da sociedade, violentamente afetadas pela pandemia do coronavírus. Luiza seria o José Alencar de saias na nova versão do projeto de poder do PT.
Magalu caia fora enquanto pode o PT vai lee quebra.