Nonato Guedes, com agências
Com o Brasil enfrentando o pior momento da pandemia de covid-19, um ano depois da descoberta do primeiro caso de contaminação, o presidente Jair Bolsonaro criticou governadores que adotam medidas de restrições, como o fechamento de atividades comerciais, para evitar a propagação da doença, tal como tem sido recomendado por autoridades sanitárias. “O governador que fechar o Estado deverá bancar novas rodadas do auxílio emergencial”, advertiu o presidente, referindo-se ao benefício que foi pago a famílias em situação de vulnerabilidade durante certo período e cujo retorno é cogitado e cobrado por representantes da classe política.
A fala do presidente ocorreu no momento em que governantes locais estudam e adotam medidas de fechamento para combate à disseminação do vírus, que matou quase 253 mil brasileiros desde o início da pandemia. Durante visita que fez, ontem, às obras de duplicação da BR-222, em Caucaia, no Ceará, Bolsonaro frisou: “O auxílio emergencial vem por mais alguns meses e daqui para frente o governador que fechar seu Estado, o governador que destrói emprego, ele é que deve bancar o auxílio emergencial. Não pode continuar fazendo política e jogar para o colo do presidente da República essa responsabilidade”. Na quinta-feira, 25, durante sua live semanal, Bolsonaro disse que a proposta estudada pelo governo é pagar o auxílio a partir de março, por quatro meses, e no valor de R$ 250.
O pagamento da nova rodada de benefício, segundo o chefe do Executivo, é “para ver se a economia pega de vez, pega para valer”. Contrário a medidas de restrição e incomodado com a pressão em cima do governo federal, Bolsonaro tem sugerido que a população cobre de prefeitos e governadores o pagamento do auxílio. “A pandemia nos atrapalhou bastante, mas venceremos este mal, podem ter certeza”, disse Bolsonaro, no evento. “O que o povo mais pede e eu tenho visto, em especial no Ceará, é para trabalhar. Essa politicalha do “fica em casa, a economia a gente vê depois” não deu certo e não vai dar certo”. O trecho em duplicação da BR-222 visitado por Bolsonaro liga o município de Caucaia ao Porto de Pecém, em Fortaleza. De acordo com o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, até março o governo deve entregar seis quilômetros de duplicação. Outros seis quilômetros devem ser entregues até junho.
No evento, Bolsonaro agradeceu o apoio da população para sua eleição em 2018 e enalteceu as entregas do governo. “Nós sabíamos que não seria fácil, mas os inimigos podem ter certeza de uma coisa: nós não nos entregaremos. Estamos aqui hoje apresentando uma parte do serviço feito pelo nosso ministro Tarcísio, da Infraestrutura. Como vocês podem notar, é um serviço de qualidade, coisa que nunca teve aqui no Ceará”, disse. Com o presidente da Caixa Econômica, Pedro Guimarães, Bolsonaro também fez a entrega simbólica de três unidades habitacionais, de um total de 240 apartamentos que serão entregues. Mais cedo, o chefe do Executivo, acompanhado de ministros, esteve no município de Tianguá (CE), onde assinou ordem de serviço para a retomada de três obras rodoviárias. O governador do Ceará, Camilo Santana, do PT, recusou-se a prestigiar a comitiva presidencial, a quem acusou de desrespeitar medidas sanitárias e promover aglomerações junto a populares.
Bolsonaro disparou outros recados, em tom de desabafo. “Não reclamo das dificuldades. Sofro ataques 24 horas por dia. Mas entre esses que atacam e vocês, vocês estão muito na frente. Não me vão fazer desistir porque, afinal de contas, eu sou imbrochável”, salientou. Ao criticar as medidas restritivas que estão sendo adotadas por governadores, Bolsonaro afirmou: “Tenho prazer grande de ficar no meio de vocês. Queria dizer a esses políticos do Executivo que o que eu mais escuto é: Presidente, quero trabalhar”. O povo quer trabalhar. Esses que fecham tudo e destroem empregos estão na contramão daquilo que seu povo quer. Não me critiquem. Vão para o meio do povo, mesmo depois das eleições”, completou. Além da visita do presidente gerar aglomerações, Bolsonaro estava sem máscara e abraçou apoiadores, repetindo ritual que tem seguido em viagens e deslocamentos pelo país.